Alisson Fernandes
Diálogo incerto:
Me fala uma estação!
- Primavera?!
Não. Não. Outra...
- Inverno.
Não. Você não sabe nada mesmo.
Samambaia sul!
Sonhei com o mar...
Vejo água.
Sonhei com nuvens...
Vejo uma mulher.
Vejo um coração.
Vejo uma imensidão de cor.
Sonhei contigo...
Vejo meu amor.
Diálogo incerto II:
E aí, foi?
- Pra onde!?
Pra estação!
- Não, preferi ficar nesta.
Nesta!? Como assim?
- Ora! No verão mesmo!
Se um fio do teu cabelo pousasse na palma da minha mão, não pensaria duas vezes: jogaria-o no chão e o pisaria. Depois cantaria uma simpatia para ter você - por completa - aqui comigo.
Todos os pensamentos se movimentam para eu pensar em você. Todos os movimentos se encaminham para me movimentar em direção ao seu pensamento. Todos os caminhos tendem a rastrear sua direção. Todas as direções guiam-me a pousar em você. E te amar.
Diálogo incerto III:
Acabei de chegar da estação.
- Ah! Agora você não me pega não. Já sei: você veio da estação do metrô. Só não sei dizer o nome.
Acertou. Venho da estação do metrô. E daí?
- Como e daí...foi você quem me confundiu com essa história de estação.
Fica tranquilo que só fui lá...
- Foi lá...como assim, foi lá?
Fui lá sintonizar uma estação de rádio...
A essa tal gravidade
Sabe força: às vezes não enxergamos o mal. Às vezes (quase sempre) não enxergamos o bem. Vemos o real. Sonhamos o irreal ou com ele e Voamos como se não existisse força que nos puxasse para baixo. Caímos por que o sonho acabara. E não nos machucamos por que acordamos. Sim, existe uma força (real) que nos puxa para o sub. Puxa-nos tanto que é melhor ter um chão. Mas se já estamos no chão, essa força é controlável, puxa! Ela puxa tudo. E se não tem um chão, derruba no meu chão. Todavia antes de parar no meu chão, tudo paira no meu corpo. Tenho culpa de existir essa força? Sim. Se existo é por que ela existe. Ou será ao contrário? E se...e se...não, não. E se eu usasse o meu instinto humano. Meu instinto diz que essa tal força existe. Meu instinto diz que - quando olho para cima - tudo pode um dia pairar por meu corpo. Meu mundo diz que não tenho como sair daqui. Ah! Voltando ao sim: ela existe. Então existe uma força muito maior que a controla? Puxa! A força (a muito maior) tem o controle e controla dessa maneira? Já entendi...a tal força maior controla, porém não controla. Calma, vou explicar melhor: ela é só a dona. Enquanto não precisar de controle (de guia) não há como mexer. Acredito que a força (a maior) é do bem. Acredito não, tenho certeza que ela é o bem. Mas, se a força (a tal) é do bem - ou é o bem - por que ela quer me matar e matou meus entes queridos (são 12). Tudo que provocou um alvoroço na minha vida (e neste instante provoca) é do bem. São essenciais ao meu viver. Quer ver? Então presta atenção: chuva; córrego; árvore; barro; pedra. Senhora que atrai, a senhora é do bem, a senhora é o bem, e por que aquilo que são de extrema importância para o meu viver foram as que quiseram me matar por completo. Matou partes de mim, por quê? Estive pensando, talvez filosofando: e se...e se o causador desse mal fosse o ser humano. Fosse eu. Eu não mataria minha família; mas matei? Agora é filosofia pura...como eu pude olhar para o alto e pudera ter um presságio do mal e não fiz nada...nada. Não fiz porque estava enclausurado no mundo perverso dos perversos; é aquele mesmo mundo que dizia: daqui você não pode sair. Então esperei...eu sabia que o meu mundo era mais importante que o outro, entretanto não mais poderoso, que por sua vez não passava de um minúsculo ser, frente a sua força. O mundo sabe que a senhora é poderosa. O meu mundo sabe que a senhora é poderosa. O mundo matou minha família; esta é minha conclusão. Não foi a senhora; foi o mundo. Vou chorar...chorar muito...e muito...não resta outra alternativa. Não posso deter o mundo. Vou culpá-lo até o resto da minha vida. Outros mundo virão trazer solidariedade para mim, no entanto não esquecerei o mundo: está no meu inconsciente; em um lugar onde não se envelhece jamais. Creio que a dor consciente diminuirá. A inconsciente não. Quiçá aumentará. Força, rendo-me a sua força. Aprendi que o seu poder é incondicional. Conscientizei-me de fato que o seu poder puxa. E sei, pois até o meu chão não está seguro e está a todo o momento sendo puxado para o sub. Escrevo à senhora para te isentar da culpa e te respeitar cada vez mais. Amo seu controlador. Adoro-o. Jamais o culparei por não ter impedido o horror, porque aquilo estava sob controle do mundo. Não deixarei mais meu único copo de vidro na beira da mesa, porque a senhora puxa e qualquer descuido se quebrará. A senhora é constante. Cabe a mim, (com o meu poder) administrar tudo a qual me rodeia. Um dia - quem sabe - eu aprenda a puxar também. E o primeiro ser a qual puxarei será o mundo perverso. Puxa! Como é bom; como é satisfatório; como é sensacional percebê-la: ó tal gravidade.
Muito prazer, desabrigado!
Hoje sonhei contigo, mas não foi aquele sonho bom igual aos que eu tinha quando estamos juntos. Sonhei que você estava partindo sem ao menos dizer um "adeus". Um dia, quando você voltou após ir embora, você me disse que quando alguém não diz "adeus" ao partir era porque um dia iria voltar. Eu sorrio todas as vezes que eu penso nisso, pois não lembro de você me dizer "adeus" a ultima vez que te vi partindo.
"Eu te amo". Isso estava entalado em minha garganta, quase me sufocando. Foi um grande alivio, finalmente, poder dizer isso a ti sem medo. Você pode até não responder com um "eu também te amo", mas não me importo, só de saber que você sabe o'que eu sinto por ti já está mais do que bom para mim, pois eu sei que quando você tiver certeza do que sente, finalmente, ira olhar em meus olhos e dizer que me ama, nesse dia eu vou olhar de volta nos seus, me aproximar e juntos nós nos amaremos..."
Sinto falta dos seus olhos, neles eu podia ver o mundo. Lembro quando o silêncio tomava conta de nós, quando você ficava me encarando e parecia que não havia mais ninguém no mundo, só nós dois e mais nada. Hoje eu fico triste por serem só lembranças e por sentir falta de ti do meu lado. Sinto falta dos teus olhos colorindo meu mundo, do teus lábios mudando meu dia. Mas oque me deixa mais triste é que nos meus sonhos você nunca me deixou ir ....
Eu me afoguei na minha própria ilusão. Embriagado com a promessa de te ter pra mim outra vez, me esqueci que com você tudo é incerto. Ontem eu te conhecia, hoje eu sei seu nome e, nem mesmo você, sabe o que será o amanhã...
Esse é meu segredo, eu ja aceitei o fato de que eu nunca vou ficar muito tempo ao lado dela, que ela sempre vai embora. Por isso que, quando estou com ela, aproveito cada segundo como se fosse o último. Assim quando ela acordar em uma manhã e resolver partir eu não irei me arrepender de não ter aproveitado o pouco tempo que tive ao lado dela. Da mesma forma que contarei as horas pra quando ela voltar eu possa aproveitar todo tempo com ela novamente.
É, eu sei que quando você esquece alguém você não sente nada em relação a pessoa. A voz não falha ao tenta conversar, a perna não treme diante da presença dela. Quando você esquece alguém não há mais interesse por essa pessoa. Eu sei que eles ainda sentem algo um pelo outro, bem lá no fundo ainda tem uma pequena brasa do que um dia foi um grande fogo crepitante. Mesmo que sejam feitos um para o outro, o melhor a se fazer é ficar longe. Eu vejo que, de perto, principalmente com ele, que estão bem com a vida que tem... tenho certeza que estão felizes distantes um do outro, mas eu ficaria muito mais feliz se um dia conseguisse ver os dois juntos novamente.
Sabe, é muito triste você ver os dias passando e, a cada dia que passa, você começa a ser engolido pela rotina e não pode fazer nada para impedir isso.
Você acorda, é segunda-feira. Você toma o café e vai para o ponto, a insônia do final de semana ainda te afeta. Você acorda na metade do caminho para o colégio e o resto do dia é como qualquer um: primeiro tempo no colégio, você almoça, segundo tempo, você pega o ônibus para a faculdade, você dorme no caminho, pega o ônibus pra casa, você janta e se deita; cansado de mais para tomar um banho.
É terça-feira, você não dormiu ainda, o banho espanta o sono que logo volto quando você senta no ônibus, você acorda na metade do caminho; está com uma cara horrível no reflexo da janela. Primeiro tempo, você almoça, segundo tempo, você acorda em cima do ponto da faculdade, você volta para casa, toma um banho e dorme, não esta com fome essa noite.
Você está atrasado, é quarta-feira. Você pega o segundo ônibus e chega em cima do horário na aula, é intervalo do primeiro tempo e seus amigos tentam te apresentar uma pessoa nova, você não sabe o nome dela e esta com fome de mais pra se preocupar com isso. A falta do café de fez comer o dobro no almoço. Você dorme no ônibus a caminho da faculdade e passa do seu ponto, vai chegar meia hora atrasado. Você chega e dorme, sem comer ou tomar banho.
É quinta-feira, você dormiu só metade da noite e, mesmo assim, está mais animado. Toma café e vai para o ônibus, você não consegue dormir. Percebe que tem alguém te olhando e, quando você olha de volta, ela sorri. Você não retribui o sorriso. Primeiro tempo, seus amigos te chamam pra jogar cartas, você não sabe jogar cartas. Almoço. Segundo tempo. Tem prova na faculdade hoje, você não estudou. Chega em casa, frita um ovo, toma banho e dorme.
Você acorda antes do despertador. É sexta-feira. Coloca um par da roupa na mochila hoje. Você toma café reforçado. Seu ônibus está atrasado, você perde alguns minutos. Por causa do atraso você vai em pé, não tem como dormir. A caminhada te deixa cansado e com cede. Primeiro tempo, você encontra a mesma menina que te olhava no ônibus, você a ignora. Almoço. Segundo tempo, nada de anormal até aqui. Hoje não tem aula na faculdade.
Você acorda na casa da sua avó, é sábado. Ela fica contente por você estar ali, você também fica ao ver a felicidade dela. Não tem nada para fazer ai, só a televisão para assistir e sua avó para conversar. Você não tem internet no celular, mesmo assim olha para ele a todo instante. A noite chega mais rápido do que você espera, sua avó vai dormir cedo. O celular não tocou ainda.
Você acorda meio dia, o almoço de domingo já esta pronto. Seus tios apareceram para visitar sua avó, sua aparência esta horrível. Parece que ninguém além de você percebeu isso. Seus tios vão embora, sua avó se deita. Você espera ela levantar para poder ir para casa. Seus pais estão no quarto assistindo e seu pai pergunta sobre sua avó, você diz que ela esta bem, toma um banho e vai para o quarto. O céu já esta escuro quando você chega em casa, são 22h. Nada, nenhuma mensagem. Você sabe que espera por algo que jamais ira acontecer de novo. Você vai até sua gaveta e pega uma caixa, que não esta escondida. Ainda é domingo e você acaba de desistir de esperar e vai até a única solução que lhe resta, se drogar, sentir seu corpo flutuar e sua cabeça esquecer cada problema que te prejudica.
Você acorda, é segunda-feira. Você toma o café e vai para o ponto [...]
vou te contar um pouco como é ser invisivel, e o dia que isso me fez sentir um enorme vazio por dentro.
Sim, eu sou invisivel, apesar de não ter super poderes. Ser invisivel é quando sua presença para as outras pessoas não faz diferença, estar ou não presente não faz diferença.
Ela estava na minha frente, estava linda. A cada colherada que dava no sorvete seu rosto se iluminava, ela sorria com a boca cheia e seus olhos brilhavam. Foi então que um amigo dela chegou, queria avisar sobre algo que ele não poderia mais ir com ela, no final ele acabou ficando para poder conversar com ela.
O assunto estava bom, entre os dois. Eu estava ali, defrente para os dois, olhando-os. As vezes soltava um comentario sobre o que falavam, um jeito de fazer eu mesmo acreditar na mentira de que estava participando daquela conversa.
Então, atras de mim, o sino do igreja tocou. Eu me virei, de costa para eles, e comecei a olhar a minha volta: Olhei o 3 sinos da igreja tocar de forma ritmica, olhei como a força do rio deixava as plantas que cresciam ao longo de sua margem quando chovia. Olhei a grande fabrica, que nunca para, esfumaciando a todo vapor.
Foi quando o ultimo sino parou e eu me virei que pude perceber: nada havia mudado.
Eles ainda estavam imersos no assunto que haviam começado e eu já não estava mais lá, minha presença ali já não fazia diferença alguma. O vazio que senti naquela momento ainda me atormenta.