Alice Andrade
Blasfêmia! Mentira! Acho que posso ouvir gritarem isso para Jesus. Não me surpreendo mais com os horrores do mundo, as violências, o descaso. O senso de justiça não existe mais. As pessoas se esforçam, trabalham e quando finalmente conseguem o que quer és roubado por um ser sem nenhum caráter. As exigências não param de chegar contra nós, nos culpando – Se você tivesse prestado mais atenção não seria roubada. – ou – Você estava no lugar errado, no momento errado. – Agora eu é que pergunto: E a segurança? Aonde ela foi parar? E o nosso direito de andar pela rua sem ser vitima de uma bala perdida? Não temos que nos encaixar na padronização da sociedade, ela é que nos deve. A classe média sustenta a pobre com impostos, mas se eles não são utilizados da maneira correta para o bem-estar da população é meio obvio que isso vai resultar em violência. Os assaltantes deveriam mudar de alvo, por que em quanto eles perdem tempo roubando o dinheiro de pessoas que “mal tem” os comedores de impostos estão comprando carro importado e casas fora do país. Patético! Desprezível! Grito hoje para o mundo em que vivemos e por quem somos governados.
A luz da lua
Não tenho mais criatividade para escrita, nem para trabalhos grandiosos ou qualquer coisa que use essas grandes idéias que nunca existiu, minha respiração pesa e às vezes até me dói o coração de tanto amor que tu deixaste aqui. Deves me perguntar ainda: Quem é esse tu? Talvez esse tu seja a lua sorrindo para mim, as ondas se quebrando e virando espumas, as flores piscando para o sol. E nós nos derramamos e viramos apenas um. Ainda somos nós? Talvez tudo tenha se desfeito e eu tenha virado “eu” e você voltou a ser apenas “você”. Quem sabe até nunca tenha sido nós. E o vós? Acho que nem aprendi a utilizá-lo ainda.
Naquelas tardes tão inesperadas e acorreria implorando para que eu andasse mais devagar, decidi escrever cartas para o meu amor. Cartas belas, cheias de poesias e palavras complicadas. A lua sabe ler? Acho que sim! E ao chegar em casa me esparramei e derramei-me em papéis pautados. As palavras fluíam e a luz da lua me abraçava. Eu olhava para o céu e via as estrelas dançando e me chamando para entrar no compasso delas. Meus olhos fixados no papel e as lembranças não tão boas assim só me forçavam a repetir:
“Ó minha bela lua,
Não me aperte tanto, querida amiga.
Folgue-me sem largar
E aprecia as palavras que escrevo em sua homenagem. “
Ainda escutava as canções cantaroladas pelas belas estrelas me forçando a suspirar ao olhar pela janela e lamentar-me por não ter a lua junto a mim para assistir aquele lindo espetáculo que por sinal estava ao nosso favor.
“E pulas para cá
Encaixa-se em mim e mostra-os
Que tu não és tão grande assim ”
Ao esperar resposta tua percebi que era loucura querer a lua do meu lado. Talvez só a sua luz e a sua beleza não fosse o suficiente para me completar por inteiro. Algo me diz que vazios não se completam apenas com lanternas, por mais lindas que fosse a cor delas. Precisa de concreto, algo que nos suporte, transforme.
Tudo implicava para que eu corresse atrás.
“Desistir talvez seja fraqueza,
Mas temos direito de escolher.
Sofrer ou me entregar a você? “
Se entregar a lua? Que besteira é essa? Eu já me sinto indo longe demais e nem preciso ser astronauta para alcançá-la. Voava entre as nuvens de algodão que a protegia e me sentia cada vez mais patética. Uma paixão tão impossível... Algo realmente lamentável para uma pequena como eu. Ela me pedia para ir embora e eu deveria soltá-la. Ela também não me largava! E o seu olhar de lua? Seu sorriso de lua? Enluarava-me por inteiro, hipnotizava e me deixava prostrada aos seus pés. Pés de lua, belos pés de lua.
- Minha querida, hoje tu tens feito algo melhor do que ontem?
- Não, tudo como sempre.
Eram respostas realmente admiráveis, curtas, talvez grossas e irônicas. A lua não se portava como tal. Mas o seu brilho no olhar cegava-me por uns minutos e quando voltava a mim eu estava a suspiros apaixonados. Nada de criatividade. As palavras fugiam e eu me dava conta de que não era um bom momento para bater-boca com o meu coração.
- Tudo bem, lua minha, não se grile.
- Alto lá! Talvez o que me tire à paciência seja essa tua falta de amor próprio. Adora esquecer-se de si mesma. Meus problemas são os seus problemas e essa tua mania de tornar-se simples é um erro.
- Erro querer ser igual a todo mundo?
- Sua luz brilha mais do que a minha.
- Nunca!
As palavras se afundavam e sumiam no silencio que a lua deixou ao virar as costas. Restava-me conversar com o meu “caderno das mentiras”, ele libertava-me, mas naquele dia não estava muito a fim de papo e me deixou focada nessa tal luz que a lua disse que eu tinha. Decidi não ouvi-la mais. Acabei deitando no chão de tanto rir da minha própria decisão. Que tal esquecê-la? Não, não a lua, mas sim a inútil decisão que tomei. Decidi então ouvi-la eternamente. Maravilha! Corretíssimo! Agora estava melhor. Libertei-me e permiti que os meus olhos fechassem entrando em um breve sono. Acordei querendo descrevê-la.
“Boca de Luar,
Olhar de Lua,
Suspiros... Longos e tensos suspiros.
Medo, muito medo.
Lua tem cabelo?
E se eu a imaginasse com um?
Negros, longos, belos.
E sua fala calma?
Seu comportamento tranqüilo?
E o seu brilho?
Perto de mim ela só sabia brilhar.
Passou de nova, minguante...
Ainda cresce, e fica cheia...
Isso! Cheia! Preenche-me assim. ”
Eu não dormiria depois de lembrar do quão bela minha lua é. Abri a janela e vi a chuva, caia em pingos grossos. Não conseguia vê-la, por mais que forçasse as vistas. Era apenas o começo de uma eterna tempestade.
Me recolhi e ao ver a luz do sol me levantei para ir ao encontro da lua. Sim! Eu era presenteada todos os dias e a via brilhar em plena luz do sol.
- Dormistes bem, querida lua?
- Sim, mas talvez não seja a hora para falarmos de sono, estou ocupada.
Isso me destruía. Quem ela estava a iluminar que não podia se preocupar comigo? A minha luz deve ter se apagado completamente.
Eu voltava a andar para o meu destino, sem nem saber o que eu realmente queria, achei até que estava ali apenas pelo brilho da minha bela e querida. Dei-me conta de que entraram pessoas novas na minha vida e tive que conviver. Fiz grandes braços amigos para quem sabe um dia me puxar do céu e prender-me a terra, mas era o que já deveriam ter feito naquele exato momento. Esqueceram e me deixaram lá flutuando. Abri a janela para tentar enxergá-la em quanto permanecia longe, mas mesmo com todo esforço não conseguia. A chuva piorava e ofuscava a minha visão.
- O arco-íris virá quando você menos esperar.
- Não quero o arco-íris, quero a lua.
E assim tentavam me convencer de que a chuva passaria. Voltei para minha escrivaninha apenas iluminada por uma mini-lanterna que se pendurava em um fio de náilon. Coloquei as mãos sobre os olhos e transbordei-me.
“Querida Lua, por que não vem enxugar essa lágrima que estás a deslizar? Queria tanto que pudesse ler-me com êxito. As dúvidas me consomem e sei que no momento o que eu mais quero é a sua compreensão. Minha cara lua consegue compreender-me? Sei que não. Nem tentas, por favor. Dói saber que não posso chamá-la de minha, afinal tu nascestes para brilhar em multidões. Tenho o desejo de jogar uma corda e amarrá-la a mim, o que achas? Não podes achar nada, é apenas uma lua, mas deve está pensando em mim como uma pequena idiota. Busco-te. Mas tudo indica que não terei muitos resultados. Não me pisas, não me cospes. Será que não seria mais confortável me remendar e me forrar de carinho? Estou gasta demais. Talvez você me use sem nem perceber. Talvez me arranque a pele, os fios de cabelos e os ossos. Não me sobrou nada, apenas essa luz que ainda você diz ver em mim. Bela, viva. Por que amar a sua luz dói tanto a cabeça e o coração? Por que não me abraça mais? Admite que me esqueceu? Te amar é um erro! ”
Deixei um papel cor de rosa o que me aprisionava e o que me acabava. Nada de resposta.
“Minha pequena esquecida, não posso enxugar lágrimas de dor. Preciso transformá-las em alegrias. Minha luz pode sempre te aquecer, só é pensar em mim. Não me perderá por que nunca te pertenci. Não te deixarei, por momento algum, mas entenderei se achares melhor evitar-me, pois creio que será melhor do que sentir dores de cabeças ao me amar. Sou morte, e a minha luz deve está causando repulsa por mais que evite dizer. Não sou mais “nova” e ofusquei-me diante da sua luz. Nasceu para brilhar em meu lugar e virar lua será fácil. Talvez eu queira dizer que te amo também, mas não na mesma intensidade, e na sua idade, minha pequena, tudo deve ser tão intenso quanto o negro dos seus olhos. Não chore, querida. Preciso que esteja sorrindo, nada é mais belo que o seu sorriso.”
O papel, junto com as palavras e todos os sentimentos verdadeiros foi desgastando até se rasgar e com toda certeza ser esquecido.
Um visitante apareceu para mim
Eu estava largada, ainda transbordando esperando por uma resposta que nunca viria. Aconcheguei-me no assento relaxando com os olhos ainda fechados. Imundo! Sussurrei para um mosquito que pousou em minhas escritas. Ele olhava para mim e aquelas bolinhas azul-escuro me refletiam. O visitante me assistia de longe e não parecia ter medo de mim. O que ele estava pensando? Se eu quisesse eu poderia acertá-lo com um papel ou esmagá-lo com o bocal da minha caneta. Mas ele não recuava, nem se movia. Encarava-me de forma tão espetacular que conseguiu me deixar vidrada nele. Movimentava os “bracinhos”, se posso chamar assim. Apertei os olhos e tentei lê-lo. Não consegui. A ingenuidade e a segurança que ele me passava eram realmente incríveis.
- Que tal tomarmos um café?
Claro, não teve conversa. Ele me ignorou completamente e saiu voando pela greta da janela. Fiquei ainda um bom tempo pensando no acontecimento e ria de mim mesma ao achar ridícula a idéia de que um inseto estaria ali para me visitar. Mas por que não? Então aproximei mais a luz da minha mini-lanterna e voltei a escrever.
Nasceu a lua – Matou-me
O ano começa e eu estava decidida a entregar-me aos estudos. A ansiedade por conhecer pessoas novas e encarar assuntos mais complicados me fez está pronta em minutos. Peguei a mochila que por sinal estava completamente fora da padronização da escola e me dirigi ao meu pavilhão. Revi pessoas que marcaram minha vida, abracei-as e apresentei-me a pessoas novas. Eu era típica menina melosa que ama abraços e ursos cor de rosa. Não importava muito naquele momento. Estava perfeito. Até que olhei para a sacada do meu colégio e avistei alguém. Senti calafrios e sorri ao ser chamada por minhas amigas para voltar à conversa. Não me entendi.
A escolha da sala foi logicamente feita pela secretaria do colégio, mas por mais que eu tentasse não sentia nenhuma mudança. O comportamento dos meus colegas era o mesmo, os professores passavam e me cumprimentavam, permaneciam com os mesmos cortes de cabelos e estilos de roupa dos anos anteriores. As pessoas legais continuavam legais, as inteligentes continuavam inteligentes, as mais quietas continuavam sentando nos cantos da sala e os novatos tentavam se encaixar em um deles. Eu especialmente era viciada por disciplina e tentava buscar a ordem. As crises, as brigas e a falta de educação não tinham espaço perto de mim e logo percebi que eu fazia parte da “guarda de honra”. Vinquei-me, aperfeiçoei-me e acomodei-me no militarismo que tanto levanta o meu alto estima. Deves está a pensar – Ela estuda em um Colégio Militar. –Você está certo, meu caro!
Os dias foram passando e todos já estavam com saudade das férias. Entraram de volta no ritmo e a vida voltou a ordem. Eu não era mais a menina dos ursinhos cor de rosa. Passei a ser temida e troquei os vestidos pelo meu fardamento que aos meus olhos era tão bonito quanto o resto do meu guarda-roupa. Eu me dedicava aos estudos a cima de tudo e não desprezava nada que pudesse me acrescentar.
Como todo bom colégio tinha que haver boatos, e a escolhida tinha sido eu. Azar? A palavra “Azar” tinha virado o meu sobrenome no final do mês de Julho, quando as aulas voltaram do recesso de São João. Começaram diversos boatos e então decidi me queixar no “corpo de alunos” (Local responsável pelo comportamento disciplinar dos alunos). Foi daí que conheci a lua.
Ela conseguiu me ler.
Não voltares em mim, pois sou esquecimento, sou sofrimento, sou paixão. Isso estava escritos nos meus olhos toda vez que via o meu grande amor passar. Sentei-me em sua cadeira, naquela sala branca, fria, com um rádio tocando musicas de sua preferência. Expliquei-me, contei o que me chateava. E com seu olhar incrementado, de cor fascinante ela encarou-me. Curvou o corpo em minha direção e olhou nos meus olhos.
-Tudo bem, deixe-me ver o que posso fazer por você.
Encostou-se ao assento voltando a sua posição normal, e riu sarcasticamente. Eu sabia, ela tinha me lido. Estava escrito em mim que aquilo não era apenas boatos. Olhou para o lado e pegou o primeiro papel que ela tinha visto.
- Eu trabalho com nomes, podes me dizer algum?
Gelei. Não por causa do pedido, mas por que ela tinha me decifrado completamente. Dei os nomes.
- Muito bem, agora você pode ir e logo te chamarei.
Passei o dia bastante apreensiva e ela me chamou. Resolvemos o que tínhamos para resolver. Ficamos sozinhas na sala conversando e isso resultou em amizade.
-Só espero, querida, que a leitura tenha sido do seu agrado.
- Impossível te ler completamente.
Fechei a porta.
Perfume
Era um dia normal. Eu andava inquietamente e o destino era a minha casa. Entrei no ônibus coletivo e sentei-me no fundo. Tinha sido um dia cansativo e eu precisava descansar. Abaixei a cabeça e me peguei no sono. Não demorou muito e despertei. Senti o perfume da lua. Levantei a cabeça e tentei identificar a pessoa que estaria usando. Não consegui.
Pensei em todas as vezes que eu ficava por um bom tempo com aquele cheiro. Ele estava em meus cabelos, no fardamento e em todas as lembranças. Respirei fundo. Ele era doce, como os “bom dia” bem entoados e os carinhos trocados por olhares. Não, ele era tropical, e passava a sensação de está perto do mar. Até cheguei achar parecido com uma colônia simples que as belas mulheres usam após sair do banho. Mas nada o classificava melhor, era o cheiro dela e isso o fazia único. Para mim era banal saber o dono daquele aroma. Era ela estando ali ou não. Fechei os olhos, mas dessa vez com o objetivo de idealizá-la perto de mim, perfumando-me com seu carisma. Eu gostaria de dá um frasco a ela, talvez fosse a hora dela mudar. Algo novo seria uma boa pedida e eu faria questão de dar-me de presente em um frasco. Aconchegaria-me perfeitamente em sua mezinha de canto e ao contrário desse tal perfume, viveria o tempo que fosse preciso encharcando-a de amor.
- Os meus olhos ardem.
- Tens um pingo de decepção no conto deste.
- Deve ser isso que tanto me incomoda.
Sem correções. Ela disse isso suspirando. Mas eu não tinha cometido erros? – Erros são tão naturais, mas para quem ama, eles são simples e nem sempre precisam ser reparados. – Me justificou.
No jardim de infância, fiz amizades que só são lembradas ao olhar fotos. Até hoje levo algumas dentro dessa máquina pulsante que chamam de coração. Não espero perder ou achar pessoas que estejam dispostas a me suportar, nem que seja por alguns segundos. Em uma das minhas leituras vi que nunca podemos correr atrás das borboletas, mas sim preparar o jardim para que elas venham até nós. Isso me fez pensar no quão as borboletas são contraídas, tímidas, medrosas e cheias de contrariedades. Elas não ficam muito tempo perto de uma flor, nunca permanecem em um mesmo jardim. Então, se as minhas borboletas decidem voar, eu deixo. Se voltarem e escolherem o meu jardim, darei conforto e deixarei que decidam o tempo que quiserem ficar, mas prepararei meu coração para vê-las partindo novamente. Por em quanto, fico aqui regando as minhas flores, para que elas estejam lindas sempre. Adoro pintá-las em uma tela com cheiro de arte, observando-as serem beijadas por novas borboletas, e sorrindo para as que vêm me visitar.
Sinto-me embalada ao cantarolar em quanto escrevo. Para quê repetir que és uma grande mulher, se deves ouvir e pensar nisso o tempo todo? Lembro-me que o significado do teu nome é: Dominadora. Típico de uma mulher poderosa cheia de talentos. Passei a ser um livro perto de você, e consegues tranqüilizar e quebrantar esse coração tão confuso que carrego há muitos anos. A sua doçura o intimidou, e o acomodou. Um degelo total. E as minhas páginas vão passando na frente dos seus olhos, deixando-me transparente e indefesa. Tu tens razão, aquele exame de sangue me deixou sem plaquetas, hemácias e leucócitos, fiquei desprotegida, aproveitares disso para atacar-me com esse carinho demasiado fazendo-me transpirar ao pensar que eu poderia está confundindo o que estava tão certo e mastigado. Os meus músculos se contraem e a inspiração vem ao pensar em ti. Necessitar de seus conselhos foi conseqüência dessa amizade linda que andas me proporcionando. Apostei todas as cartas que me restaram em você, não me decepcione, por favor. Amiga... Posso te considerar tanto assim?
Eu te amo. Não só a tua metade. Eu te amo por um todo. Não tem isso de você me completar. Já estás completa. Amo-te assim. Amo os seus sete lindos sorrisos. Amo a sua voz, até quando ela some em quanto estou por perto. Amo o teu jeito descontraído, quieto e sério. Amo as brincadeiras discretas e o seu silêncio contrariado. Amo as suas mãos, amo quando elas, juntamente com os dedos, formam pares perfeitos ao deslizar no seu cabelo colocando os fios em seus devidos lugares. E são esses mesmos dedos que brincam uns com os outros em quanto ler as minhas cartas, ainda não sabe, mas são para você. Todas as escritas e os sentimentos aprisionados nelas são para você, meu bem. Amo o teu jeito de andar. Passos calmos, um de cada vez para não tropeçar. Amo dizer que te amo. Amo o porquê te amo. Amo te amar.
-Foi tudo um erro?
- Não, foi na hora certa, com o sentimento certo. Tu erraste na pessoa.
- Achas que posso fazer algo para mudar isso?
- Justamente o pequeno erro que sujou todos os acertos... Não contentou-se só em sujar, ele os destruiu.
- Posso recuperá-los?
- Tarde demais, pequena.
– Não faz mal chorar deitada em um ombro recebendo cafuné. Faz mal acordar na madrugada e apenas escutar o seu soluço, depois adormecer se sentindo esquecida.
Acordei sem voz. Eu gritava, e não conseguia colocar nada para fora. Algo apertava-me a garganta impedindo que o ar entrasse e as dores saíssem. Ainda estão aqui, junto com a minha rouquidão e a falta de ar. Por dentro despedacei, como aquele papel que caiu na poça de água em quanto puxava o celular da bolsa. Me desfiz completamente, mas só por dentro. Me olhando de outro ângulo, ver somente uma menina rígida, sem pena, sem compaixão. Mas sangrando e estremecendo com as calafrios que a chuva causou e o sol não conseguiu mandar embora. Que sol? Ainda espero por ele, nem sei mais se existe… Acho que ceguei-me para uma vida movida pelo calor. As minhas mãos estão frias, os pés também. Mas é um frio vindo de dentro para fora, que congela e me faz nevar. Pois, permito que neve, não faço esforço para instalar aquecedores. Assim, com essa temperatura tão baixa, ordeno-me construir um iglu e fecho-me lá dentro. Congelo-me por inteiro.
Acordei sem vontade de sorrir. Aparentemente seria mais um dia normal. O calor da “entrada em forma” o corpo cansado de mais um dia de aula seguido do engarrafamento no fim da tarde. Nada iria chamar a minha atenção, a não ser os sorrisos e olhares do meu amor. Depois de desejar uma boa tarde e ouvir um “Deus lhe acompanhe” peguei o ônibus, sentei na cadeira que sento-me todos os dias, estava tudo igual. O cheiro do ônibus, o calor da farda, a oração pedindo paciência. Até agora não havia percebido, mas logo notei um casal de senhores na minha frente. Estavam sentados, para qualquer outra pessoa dentro daquele ônibus, poderia parecer uma imagem normal, mas eu sei que tinha algo de diferente. Os senhores se olhavam. Ele parecia ser mais velho, estava muito bem vestido, cabelo alvo, roupa social e um chapéu antigo. Ela um pouco mais moderna, seu cabelo era alvo e curto, estava de vestido e bengala. As dunas chamava a atenção deles, havia sempre um comentário. Para mim as dunas são apenas um monte de areia, mas para eles parecia ser muito mais que isso. Um sorria para o outro mostrando grande afeto e dava pra perceber claramente que eles se amavam. Os olhares brilhavam enquanto se encontravam, estavam parecendo jovens namorados, aquele tipo que encontra magia em tudo. Passou a parecer com meus sonhos, só que agora sonhos realmente vividos, mas não por mim. Ouvi eles falarem da cor diferente de um cavalo que haviam visto pela janela; depois comentavam sobre os homens que vendiam vassouras e achavam interessante os modelos diferenciados que estavam á venda. Entre uma palavra e outra eu percebia que eles gargalhavam, mas não chamavam atenção de nenhum outro passageiro. O que eu estava vendo era realmente lindo e cheguei a uma grande e importante conclusão, que quando existe amor, afeto e carinho, tudo passa a ser eterno e único, mesmo que essa eternidade esteja em dois senhores, que eu nunca vi na vida, mas que em minutos me mostraram que um amor pode passar de eterno para um “sempre”.
Não tenho culpa de te amar. É algo que sai do meu controle e vai engolindo-me sem a permissão devida. -Tenho o direito de escolher quem eu quero na minha vida e o que sentirei por ela- Era o que eu pensava até a lua aparecer e colocar-me para voar. Os meus pés não queriam voltar para o chão e tornei-me dependente do teu brilho extraordinário. Não sei bem o que anda acontecendo dentro de mim, é algo indecifrável, a muito tempo não pensava nela, mas tudo voltou a ser como era antes, intenso como o primeiro namorado de uma adolescente qualquer.
Me deixa quieta, sem mais dores, sem palavras que acabam deixando o meu coração em pedaços. Agora prefiro esquecer, do tempo em que você fazia questão de falar comigo, não demorava de responder minhas mensagens, sabia o meu prato preferido e se esforçava para prepará-lo. Pensava bem antes de escolher os meus presentes e quando me entregava sorria tendo a certeza que eu iria gosta. Respeitava a minha “bipolaridade” e percebia quando tinha algo errado na minha vida. Fazia planos para o futuro e eu sempre estava inclusa neles da melhor forma possível, e para sempre. Não media palavras em uma briga, mas sempre sabia o que falar tentando não me magoar. Os seus conselhos eram os melhores e eu precisava deles na maior parte do dia. Sua presença era a única coisa que me acalmava, sua foto no meu plano de fundo do meu computador não me deixava parar de pensar em você. Ligava-me por minuto para ver se eu estava bem ou se precisava de algo. Reclamava das minhas notas baixas e até ajudava a recuperá-las. O seu beijo na minha testa passava um grande respeito, os seus lábios tocando os meus, passavam segurança. A forma que achava tudo normal me surpreendia. Lembra? Nossos filhos teriam a cor do teu cabelo, com os meus olhos castanhos. Nossa casa seria perto da praia, e nosso filho acordaria ás 7 horas da manhã querendo jogar futebol. Você me abraçaria todo final de tarde lembrando-se do que havia me prometido. Eu achei que tinha entendido quando disse que o meu coração escolheu outra pessoa para amar, mas na verdade é com você que eu quero estar. Era tudo perfeito, você, o seu jeito… Até que eu acordei.
Admito: pouco a conheço, pouco desfruto da tua linda presença. Me impressiono com umas visões que tenho de ti que jamais considerei. Sempre me pareceu tão controlada, tão calma e imperturbável. Mas eu sei que passo a mesma impressão para as outras pessoas. Será possível que por baixo você seja tão confusa como eu? Podemos ser mais parecidas do que penso! Sabes mais de mim do que sei de ti. Por mais que eu veja os teus olhos transparecerem duvida, dores e temores, me calo e a deixo a vontade. Prefiro desabar... Não sei se acontece com você, mas esqueço das dores me preocupando com as dos outros, e tento te ver bem assim, cuidando de mim.
Cuidas muito bem, querida.
Às vezes te vejo transparente, esbanjando essa luz que reluz. Outras vezes, te vejo... É, não te vejo. Parece que construiu um muro em volta de si mesma. Sei que não deixará que alguém derrube esse muro. O que é uma pena. Em algumas situações me surgem pensamentos, idéias ridículas de tão simples e claras. Sem esquemas complicados, sem tempestades. Tenho tanto medo. Mas não nego que preciso de ti por perto.
Já falei que a curva mais bonita do teu corpo é o teu sorriso? E que a parte mais quente e linda é o teu coração? Não consigo falar, simplesmente travo. Mas sou assim, uma menina, apenas uma menina, que só sabe expor o que sente por palavras. Nem sempre com concordâncias perfeitas, nem simples de ser entendidas, mas algo me diz que ler as minhas entrelinhas e entende até o que eu mesma não consigo entender.
Ainda não amadureci completamente, preciso de colo. Talvez eu até tenha amadurecido, mas como as flores no outono, um vento qualquer me deixa instável e uma noite fria me acaba. Estou cansada, não me recuperarei, sei disso, e tento me confortar e adormecer o que ainda grita. Sinto-me como se eu fosse um relógio ou coisa assim, com a corda cada vez mais apertada. Mas só há uma coisa que me importo agora: perdoar a mim mesma.
Nossa diferença de idade não vai impedir que fiquemos juntas. Que Deus sele a nossa amizade por longos anos.
Não me deixa, mãezinha. Eu te amo mais do que podes imaginar. Não tenta imaginar, perderá a graça.
‘’Prefiro não me mostrar, mas decidir andar corretamente, por mais que eu me perca no caminho. ’’
Sabe? Não, não sabe. Mas na maioria das vezes é isso mesmo, não sabemos de nada e nem queremos saber. As palavras voam, os olhares não escolhem outro local para cravar, o coração pula, dança, balança a cada lembrança. O que podemos fazer para se sentir por perto, assim fazemos. As feridas latejam e clamam por cuidado a cada esbarro. E no final? Não sabemos e não admitimos o que se passa. Ferrou-se. Passa a acontecer por horas, minutos, segundos e nos toma literalmente. Me assusta o fato de não pedir licença. Tentamos desfocar, esquecer. E como sempre, continuamos sem saber. Medo? Ignorância? Aflição? Não faço esforços para entender. Não quero.
Não pedi que me levasse a dor, o rancor e o temor. Não respeitaram, me levaram. Eu tentei não escrever. Prometi a mim mesma que esse seria o ultimo texto falando sobre você, mas prometo a cada página que olho e logo está com o teu nome… Ah, não, essa é a minha letra. Não posso prometer, devo parar. Há um tempo eu não prometia o que não poderia cumprir, estava esgotada. Mas hoje… Ta, não quero falar sobre hoje, nem sobre ontem e nem sobre o amanhã. E quem vai querer me ler, me diz? Não me importo, na verdade, não entendo essa minha fome pela escrita. Às vezes eu queria escrever bem, para mostrar que sirvo em alguma coisa, e dessa vez, alguma coisa que eu ame. Pouco me importo, ando me importando pouco demais. Devo parar de reclamar quando passo dos limites em algo, mas penso que estou certa, pois nada demasiado é bom. Aprender a viver na medidinha certa está sendo um sacrifício. Sinto-te longe, mas é onde estás…, longe de mim. Queria saber se tu te lembras de algum pequeno gesto meu que conseguia te fazer sorrir. Fico assim, querendo saber, me excedo e invado o “demais” que tanto eu queria excluir. Afundo novamente na saudade, no apelo, nos pesadelos. Não posso sufocar a vontade de querer, de te querer. Sei que possuo o que me consome, sei que corro atrás do que me corrói. Afogar-me em seus sonhos sem nem fazer parte deles é uma tortura. Queria torná-los reais. Observa, novamente eu querendo demais.
Eu não sabia como era ter alguém que amamos por perto e não poder tocá-lo. Pegar na mão, beijá-lo. Brincar com os dedos, bagunçar o cabelo. Eu não sabia, não sabia. Mas daí tudo mudou, me vejo parada observando ele passar e deixar para trás passos solitários, clamando por cuidados. Eu não sabia, não sabia que iria doer tanto. Pergunto-me se não tem algo que o conforte, e que o traga aos meus braços e mostre o que é ser amado. Será que ele é feliz? Que ele vive bem lá pelas “bandas” de jornadas bem feitas? Bem planejadas? Não posso justificá-lo, defendê-lo, mesmo que ele pareça clamar com o olhar um resgate, uma proteção e até dois acontecimentos simultâneos. Buscar o que almeja. Não desistir. E me aquieto assim, sem a certeza de que o certo é prosseguir ou abaixar a cabeça e adormecer.
De repente me deu uma grande vontade de escrever. Talvez expressar a minha animação por estar entre amigos e fazendo coisas que conquiste a gratidão dos mesmos. Mas alguém ainda chama a minha atenção e deixa-me despeça. Faz-me afogar, nem sei onde. Acabei de tentar falar com Ela. É, Ela mesmo. Mas tive uma surpresa, até esperada, mas indesejada. Não vou aquietar/descansar em quanto não matar a saudade – Falta apenas um dia- repito na correria e entre as risadas que por alguns segundos me faz esquecer. Por alguns segundos, apenas. E ao sentar e pedir uma folha do caderno do Felipe me dói a cabeça e desespero-me. Confesso que não deveria ter ligado. Ela não queria falar comigo. Daí, a lua que já estava adormecida acorda, e volta à “tona” mais forte. Ela me atenderia e os meus olhos brilhariam, fazendo o meu coração palpitar e dançar ao som da trilha sonora dos meus sonhos. Por que, querida minha? Uma lágrima acaba de escorrer entre os traços da minha face. A quem eu quero enganar? Não adormeceu. A lua estava escondida atrás das nuvens, e se fez transparente, iluminando as águas que deságuam. O medo me difere dos demais jovens ao redor. Cadê a animação? O meu final de semana tivera sido maravilhoso… – Adeus- Chamaram-me, voltarei ao trabalho.