Alexandru Solomon
Chico Buarque
Sempre foi a mais bonita das meninas dessa sala.
Não, não é do Chico Buarque, é daquele que vos fala
Que, por sua conta e risco, admirava as melenas
Da menina encantadora, que não era de Atenas.
Para ela declamava os poemas de Neruda,
Era um sinal dos tempos, uma “paixonite” aguda.
Comentavam toda hora a Geni, a Carolina,
Mas um dia, a Roda viva afastou-o da menina.
Despedida lacrimosa cheia de “não me abandone”,
Procurou diversas vezes conversar por telefone.
Inspirado na Maysa ou, ainda, no Jacques Brel,
O contato se manteve, só que via Embratel.
Com o tempo, declinaram duração, ardor, freqüência
E, com o passar da banda, conformou-se com a ausência.
Corroída pouco a pouco, desabou a construção.
Amanhã foi outro dia, apesar do coração.
Muitos anos se passaram, numa festa do colégio,
Encontraram-se de novo. Dissipado o sortilégio.
Passearam em silêncio pelo pátio da escola,
Recordando os bons tempos, quando lhe passava cola.
Procurava ver no rosto da senhora corpulenta,
Entre rugas, o sorriso, o encanto, a pimenta,
Que haviam desertado sem sinal de compaixão.
Ocorreu-lhe: “Para ela é a mesma sensação?”
Conversaram mais um pouco com colegas de outrora.
Nada mais fazia a ponte do “então” e do “agora”.
Cabisbaixo, afastou-se sem que ela o notasse.
Caminhando, só lembrava a mais linda da sua classe.
Por instantes, a lembrança cativava por inteiro
Parecia-lhe ouvi-la a cantar Pedro Pedreiro
A imagem se turvava , apesar de obsessiva.
Era tudo a vingança da maldita roda viva.
Relembrava os momentos do passado esquecido
E o trauma do encontro com o grande amor perdido.
Vítima de uma lembrança que um dia o deixou louco,
Prisioneiro de uma frase “partir é morrer um pouco”.
Uma farsa do destino, um embuste traiçoeiro
O instante revivido não valia o primeiro.
Um abraço, um beijo morno e a viu se afastar
Uma lágrima a segue , um suspiro: Vai passar.
*Do livro ´´Desespero Provisório``, Ed. Edicon
Finalmente, a exemplo do que acontece nos últimos quilômetros da maratona, o triunfo da vontade sobre o que a ela se opuser
Espumas flutuantes
É quase meia-noite. Por que o sono tarda?
Chegada é a hora, daqui, desta mansarda,
Olhar o firmamento, em sombras embebido,
E receber das ruas constante alarido.
Monótono murmúrio, mais uma vez repita
A velha cantilena de um laço de fita,
Mas, por ter retomado o verso centenário,
Irão meus detratores chamar-me de plagiário?
A ânfora sagrada repleta até a borda
Entorno com cuidado. O líquido transborda.
E afogado em néctar, aos poucos esqueço
Aquela dor que um dia virou-me pelo avesso.
Perdido na saudade daquela criatura,
A mente se rebela, protesta, esconjura.
Mas rende-se covarde à sombra que levita,
Fantasma do passado com seu laço de fita.
Abafam os meus passos espessa alcatifa,
Espio Sherezade à frente do califa,
Contando o sonho louco de um jovem colegial,
Que viu na Messalina a aura de vestal.
O tempo foi trazendo a doce acalmia,
O sono se aproxima da ânfora vazia,
E no mais lindo verso de púrpura escarlate,
O caos da amnésia, debalde se debate.
Pois outros são os tempos. Mas vejo a figura
Menina com seu laço de Vênus imatura,
Tu, náiade perversa, eu, um cabuletê.
Teu corpo é espuma cobrindo o Tietê.
O XIS da questão
Diz a lenda que um dia, várias décadas atrás
Quando a Vale engatinhava (nem havia Telebrás)
Veio ao mundo, prá mudá-lo, um ser extraordinário.
Hoje em dia, é famoso, e por cima, bilionário.
Acumula uma fortuna como mais de trinta Bi
Quem diz isso é a Forbes, logo não é tititi.
Esse prêmio merecido, nada tem de ocasional.
Grande, imenso, gigantesco, digo mais: piramidal.
Todo êxito acarreta comentários invejosos
Poucos são os que suportam ver os ricos e famosos,
Sem sacarem das aljavas as flechas maledicentes
Que vitimam cruelmente bilionários inocentes.
Para eles, o sucesso filho é da falcatrua.
Como se fosse pecado lotear glebas na lua!
Compradores fazem fila, cada qual quer seu quinhão
Em linguagem de mercado, isso é um “Aipiozão!”
Arquimedes já dizia: Uma boa alavanca
Com um ponto de apoio bastam pra quebrar a banca.
O cassino pega fogo, a alegria é geral
O milagre, por enquanto é pré-operacional.
Um triunfo que se preze, sempre há de pedir bis
Então, vem mais um milagre com o seu sufixo xis.
Que sustenta o precedente, o que sempre afaga o ego.
Quem criou o arcabouço foi se inspirar no Lego.
Ao diabo velhas siglas; O P/L, Roi, Lajida
Só importa no momento tomar parte da corrida.
Todo mundo embalado na loucura coletiva.
Analistas de acordo: não há outra alternativa.
Diante disso é possível continuar indiferente,
Quando tudo é feito às claras, de maneira transparente?
Todo o mundo bate palmas: vá em frente, siga avante!
Qual é mesmo seu produto? É o fato relevante!
Mesmo na época do raio laser, podemos usar velas para iluminar cavernas....
(Segundo Ababurtinogamerontes).
Estréia
Chega, afinal, o dia da estréia esperada.
Com ingressos esgotados, multidão desesperada
Se agita, faz bagunça e procura os cambistas.
Esses vão ganhar aplausos, tantos quanto os artistas.
A cidade revestida de cartazes coloridos,
Com a mídia alucinada a soltar os seus vagidos,
A senhora colunável olha a roupa no cabide,
Que escolha enjoada, como no “Você decide”.
Como decidir agora? Se aparecer fulana
Que a viu nesse vestido lá no coquetel da Ana?
E se escolher o verde com decote estonteante,
Será logo rotulada “Essa aí quer um amante”.
Descartado foi o verde, indecente e ousado.
E se escolher o preto, que é bem mais comportado?
Nada feito. Tem babados. Eles não se usam mais.
‘Posso parecer ousada, mas ridícula, JAMAIS!’
Eu não quero esse branco num evento de primeira,
Pra ouvir “Olha na frente, olha aquela enfermeira!”
Se usar aquele reto mais fechado e com gola,
Vou criar-me um problema: como uso a estola?
Como o tempo é insensível, sem um pingo de piedade!
Ela só se debatendo, vítima de ansiedade.
Pega o vestido rosa e o atira ao chão chorando.
Essa ela não agüenta: não tem bolsa combinando.
Sente que se aproxima o momento crucial.
Bem que usaria o cinza. É, mas falta-lhe o sal.
‘Mas, querida, é bem bonito, juro que sal não lhe falta.
Você fala por despeito, só porque tem pressão alta!’
E olhando o prateado: Custou caro, um assalto,
Mas não tenho mais sapato prateado, salto alto.
Desespero toma conta, e o marido tem que ouvir:
Quer me trancafiar em casa, eu não tenho o que vestir!
Já pensou nos mexericos aos quais fico exposta?
Eu arrumo uma desculpa : digo que estou indisposta.
Não agüento o vexame: numa dessas chances raras,
Vou posar feito palhaça pro fotógrafo de Caras?
Esse nosso casamento só me trouxe privações,
Como ir assim ao teatro, suportar humilhações?
Não sou uma provinciana, também não cheguei de Marte.
Meu azar foi ter casado com quem não gosta de arte!
“Se você deseja descobrir um vício de alguém, comece falando sobre diversos outros pecadilhos para, finalmente, chegar à possível mancha de caráter do seu interlocutor. Saiba que jamais ouvirá criticas mais duras a esse defeito do que aquelas partindo do portador do labéu”.
Na teoria, a prática é outra, ensina o bom Joelmir, mas não podemos deixar de lado uma verdade: A teoria é a consolidação dos mestres. (...) O ensinamento mantém sua validade.
Todos os seres são fundamentalmente bons. Ou seja, quando pela primeira vez aboletam-se no poder, através dos votos ou mediante qualquer outro atalho constitucional: suplência, indicação, nomeação etc., chegam sem (muitos) vícios...
Quase tudo na vida se resolve mediante um sim ou um não. O talvez nada mais é do que adiar, covardemente, uma decisão.
Um espetáculo de ópera-bufa protagonizado por um candidato comunicador e pronto, muda o destino de um país.
O tabuleiro eleitoral ficou engraçado. De um lado Dilmula com o rosário de realizações. Detonar a Petro, detonar a Eletrobrás, zonear a contabilidade nacional, tentar quebrar a Caixa com minha casa, meu aspirador, com o fato positivo de ter tirado da miseria milhões de seres humanos. De outro lado a dupla Caim e Abel vulgo Serrécio, ou se preferem a dupla de humoristas franceses dos anos 60.Les fréres ennemis E, finalmente, Edumarina. Interessante . Marina parece ter vindo diretamente da Finlândia. Como é possivel desconhecer as 'peculiaridades' de um país que pretende governar. Não sabia ....não sabia....-sequela do petismo- que os cartórios são desesperadoramente lentos e seletivos no seu zelo.. Boa sorte para nós!
I: premio Il Convivio
Gentile Alexandru Solomon,
La Giuria del Premio “Poesia, Prosa e Arti figurative” e del premio teatrale “Angelo Musco” Il Convivio 2014, dopo aver esaminato gli elaborati pervenuti, ha l’onore di comunicarLe che nella sezione “Racconto in portoghese” la Sua opera dal titolo “Networking!” è risultata
Seconda classificata
Nel congratularmi con Lei per il risultato raggiunto, Le comunico che la premiazione si svolgerà a Giardini Naxos, in provincia di Messina (Italia), domenica 26 ottobre 2014 alle ore 9:30 a.m. presso l’hotel Assinos, sito in Via Consolare Valeria 33. Per un’ottima riuscita della manifestazione è indispensabile la Sua presenza che si prega in ogni caso di confermare entro e non oltre il 15 ottobre. La presente comunicazione vale anche da invito.
A conclusione della cerimonia di premiazione, quale momento di amichevole incontro, sarà possibile pranzare presso il ristorante dello stesso Hotel Assinos. Si prega di prenotare con largo anticipo esclusivamente presso la segreteria del Premio, in ogni caso prima del 18 ottobre. E-mail: angelo.manitta@tin.it; Tel: 0942-986036; 333-1794694. Il costo del pranzo è di € 25.
In attesa di una Sua risposta Le porgo carissimi e cordiali saluti.
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Il Presidente dell’Accademia
Angelo Manitta
Mesmo quando a franqueza impera, não raro as dívidas geradas pela desconfiança e tornam um valor contestável.
Liberdade sem fronteiras
Muro, cerca a valeta, alçapena ou tocaia.
Fracassados artifícios nadam e morrem na praia.
Incapazes para sempre, arrioscas traiçoeiras.
De tolher a liberdade desprovida de fronteiras.
Encontro
Mal saíra do Hotel Meridien, onde seus amigos paulistas o convidaram para uma caipirinha. Quase uma da tarde. Nada demais, apenas o fato de ele não tomar caipirinha. Mas era uma amizade que vinha de longe, e não seriam algumas doses que iriam separá-los. Deglutira galhardamente três doses com alguns salgados e, após ouvir as indefectíveis piadas cuja validade havia expirado, despediu-se dos casais amigos e decidiu andar um pouco.
Colhido pelo bafo quente, olhou para a direita e viu o mar indecentemente azul, que em algum ponto lon¬gínquo engolia um céu de um azul mais claro, apenas manchado de algumas nuvens esparsas de algodão de um branco duvidoso. Andar um pouco pela Avenida Atlântica e olhar as beldades em uniformes de conquista não eram o ideal naquele momento. Tinha dei¬xado trabalho no escritório e, apesar de o celular não reclamar nenhuma atenção, no momento, sabia dis¬por de menos de meia hora antes de enfrentar o mundo além túnel.
Além do túnel, acaba a Cidade Maravilhosa, era o seu bordão predileto. As malditas doses haviam tor¬nado seu andar ligeiramente menos decidido que de costume. Na verdade, não sabia como matar a meia hora. Lá longe o Posto Seis e o Forte pareciam chamá-lo. Resistiu ao apelo e, muito a contragosto, decidiu andar um pouco pela Gustavo Sampaio. Um pouco de sombra, já que os prédios projetavam suas silhuetas no asfalto e lá também havia gente, muita gente andando sem muita pressa, com o ar tranquilo e um “xacomigo” zombeteiro estampado no rosto.
Relembrou a sessão de piadas. Achava que deveria haver algum dispositivo legal, ou pelo menos um acordo, que determinasse prazos além dos quais as anedotas seriam arquivadas e frequentariam somente as páginas das coletâneas ditas humorísticas. Ter de dar risadas ao ouvir pela centésima vez a mesma piada, ou variações sobre o mesmo tema, poderia ser perigoso para a paciência dos ouvintes, ou reverter em agressão física em detrimento de um contador desatualizado. Até que seria uma boa ideia colocar avisos nesse sentido. Ou, então, seguindo o exemplo das churrascarias rodízio, introduzir o cartão de dupla face, a verde autorizando a continuação e a vermelha decretando o final da sessão. Muito compli¬cado. Como fazer no caso de divergência? Decidir por maioria simples. Ou, devido à importância do assun¬to, haveria de ter a concordância de pelo menos dois terços dos ouvintes? Os desempates seriam decididos pelo voto de Minerva do criminoso, isto é, do conta¬dor. E se houvesse daltônicos na platéia?
Será que há exame médico para garçons de rodízio, eliminando os daltônicos?
Mas, na falta de regulamentação, como resistir à sanha do contador de “causos”? Não dar risada? Interromper? Contar a sua versão? Esses expedientes eram ainda piores. Olhar a paisagem do terraço, sim, e acompanhar a gargalhada dos outros foi a solução encontrada. Providencialmente. A regulamentação ficaria adiada, procrastinada, decidiu com uma risa¬dinha interior.
E tem aquela do português que chega em casa... E aquela outra da freira que... Ah, a melhor de todas, acabaram de me contar: o Joãozinho pergunta para a professora...
Afinal, era um bom passatempo, com a vantagem de observar fisionomias alegres. As reações eram muitas vezes mais engraçadas que as piadas.
Será que eles também conheciam TODAS aquelas anedotas, ou somente algumas?
Esbarrou num transeunte, balbuciou uma desculpa qualquer e teve direito a um bem humorado:
– Ô meu, olha só, estou na preferencial!
O peso pesado já estava se afastando e as ideias voltando a se agrupar depois da desordem causada pelo baque.
A ligeira dor de cabeça pedia uma parada numa farmácia. E farmácia era o que não faltava na rua.
Entrou e aguardou que a balconista o notasse. Entre ser notado e a pergunta:
– O que deseja? se passaram alguns intermináveis segundos.
– Duas passagens para Paris em classe executiva. E ante o misto de espanto e divertimento da moça, completou:
– Bom, já que não tem, qualquer coisa para a dor de cabeça. Poderia tomar aqui mesmo? Tomou o analgésico, agradeceu e, instantes mais tarde, estava de volta à calçada esburacada.
Olhou para o Leme Palace e resolveu voltar cami-nhando pela Atlântica.
Evitou o segundo esbarrão da meia hora de folga.
Em frações de segundos, os olhares se cruzaram. Era uma beldade, outonal, mas, apreciador de Vivaldi, as quatro estações são arrebatadoras, pensou.
O andar sinuoso, os pequenos sulcos rodeando os olhos, carimbos ainda piedosos no passaporte da vida, cabelos cortados Chanel, ombros e decote plena¬mente apresentáveis e não apenas um tributo pago ao calor daquele verão, pernas bonitas, e medidas ten¬dendo à exuberância. O rosto comum, tinha o olhar faiscante a valorizá-lo.
Naquele instante, o tempo parou, não o suficiente, porém, para que, da extrema timidez dele, brotasse algo mais inteligente do que um sorriso vagamente encorajador. “Pergunte algo, as horas, o caminho para algum lugar, o nome da rua, qualquer coisa”, rebelou-se dentro dele uma voz indignada por jamais ter sido ouvida no passado.
Continuou, como que petrificado, enquanto, sem deixar de olhá-lo, ela passou por ele longe o suficiente para não tocá-lo, e perto o bastante para deixa-lo sentir o perfume discreto que a envolvia.
Ele continuou imóvel e virou a cabeça, contemplando a desconhecida, que continuava andando, afastando-se aos poucos. Alguns passos depois, ela virou a cabeça e o olhar, mesmo àquela distância, lançou um convite mudo ou, pelo menos, assim pa-recia.
Sem reação, ele a acompanhou com o olhar. Ela deu mais alguns passos e novamente olhou para trás. A voz interior estava se desesperando. Ele mesmo não entendia o porquê da sua imobilidade. A desconhe¬cida estava se afastando cada vez mais, confundia-se no oceano de cabeças e, mesmo assim, pareceu-lhe que lá longe uma cabeça estava se virando uma última vez para trás.
Era um adeus. Sentiu que o que se afastava não era uma desconhecida. Era um pedaço de si mesmo, de uma juventude da qual não havia sabido desfrutar e agora lhe acenava de longe, mergulhada num misto de lembranças e saudade.