Alex Possato
O tempo certo
O universo colocou você onde você está. A mente duvida, não aceita, porque a mente só enxerga a si mesma, e ainda assim, de forma obscurecida. É um grande treino aguardar o tempo certo, e agir somente quando o universo demonstra abertura. Porque assim, durante o instante infinito de um milésimo de segundo, os portais se abrem, as configurações se mostram adequadas e tudo acontece.
Você recebe um grande presente, por ter aguardado, em reverência e prontidão, atento ao sinal silencioso da intuição: é agora!
Quantas vezes a mente tentou enganar, impostora que só ela. Talvez você tenha seguido ao sinal errado, se enganou, e deu de cara com os portais fechados. Quanto maior a força para atravessar, no tempo inadequado, maior a queda. Mas até o erro, aos olhos de Deus, são exercícios para torná-lo mais forte, hábil, humilde e acertivo.
Aguarde o tempo correto. Abra a intuição. Ouça o sinal dentro do seu coração. Não siga seus pensamentos. Nem suas emoções viciadas. Cuidado com as falsas mensagens que energias brincalhonas espalham em sua mente. Quando Deus falar, você se assustará. Não irá querer ir. Porque seus olhos verão os portais fechados. E um abismo profundo pronto pra te engolir.
Mesmo assim, o tempo certo chegou. É preciso dar um passo. Confiando ou não. É preciso dar um passo. Um de cada vez. Não queira chegar. Exercite confiar. Um passo de cada vez. O que importa o que há depois do portal? Estou lhe dando um presente! Aqui e agora! Receba! E pare de se iludir… A hora é agora.
O ser humano acostuma-se muito facilmente com o sofrimento, a restrição, a dor, o conflito... Difícil mesmo é acostumar-se com a alegria, a abundância, a paz, a liberdade.
A sua vida é o que você vibra. E a sua vibração tem a ver com a escolha que faz, a cada segundo, ao olhar a sua vida. A sua vida é neutra, e quem a avalia como boa ou má é você mesmo. Baseado em conceitos aprendidos.
Acostume-se a ter um olhar compassivo com tudo. Não persiga o bem, mas também, não rejeite o mal.
Seja tolerante consigo mesmo. Acostume-se a cessar as comparações. Experimente perceber, em um segundo, como fica a sua vida quando não há mais comparações nem julgamentos...
Papai ensinou a se esforçar. Mamãe também. Tudo é muito difícil, muito duro. É preciso se dar ao máximo. Mudar a si. Mudar os outros. Mudar o mundo. Lutando arduamente. Lutando para passar de ano na escola. Lutando para entrar no vestibular. Lutando para fazer uma boa relação. Lutando pelo dinheiro. Pelo salário. Pelos cargos. Lutando para transformar seu marido, sua esposa, seus filhos, seus pais, seus parentes. Lutando contra a doença, contra a morte, contra a miséria. Lutando para deixar de ser alguém tão ruim como você é. Brigando ferozmente contra seus vícios e defeitos. É necessário evoluir. Passo a passo. Gotas de suor escorrem do seu rosto. Você está encharcado. E sente: sim, eu estou lutando! Não cheguei lá, mas hei de chegar!
Papai e mamãe olham para você e o reconhece. Você é igual a eles. Alguém que luta. Luta. Luta. E morre. Sem ter chegado. Eles ensinaram o que aprenderam. Do vovô. Da vovó. Dos antepassados, que cruzaram mares, rios, montanhas, para alcançarem um bom lugar. Mas destes milhares de almas… quem chegou, realmente?
Como podemos chegar a um bom lugar, lutando? Como encontrar a paz, fazendo guerra?
Deixo um convite. Muito simples. Saia da luta. Somente por um dia. Baixe as armas. Tire o pé do acelerador. Silencie a língua que tudo critica, compara, julga, condena. Aja quando quiser agir. Pare quando quiser parar. Deite-se na rede do ócio, e permita que a Terra continue fazendo seu movimento em torno do Sol. Até porque, se você não permitir, ela continuará a girar, girar, girar.
Perceba se fará alguma diferença para o universo, o seu agir. Ou o seu parar. Deixe de ouvir aqueles que jogam você na guerra. Aqueles que fofocam. Falam mal disso e daquilo. Induzem você a fazer, fazer, fazer. Ensinam o mesmo que papai e mamãe ensinaram: mudar o universo, para transformá-lo em algo melhor. E não conseguiram… Permita-se ver se, neste mesmo universo, do jeito como ele é, você pode relaxar. Rir. Silenciar. Ficar em paz. Observar a beleza da vida. Dos outros. Do planeta. Do sol.
Deus quer a sua paz. Não o seu esforço. Quem gosta de esforço é a mente condicionada, que deseja ser adequada. Adequada ao papai, à mamãe. Aos professores, mestres, religiosos. Porque, no fundo, você também não gosta de esforço. Ninguém gosta de esforço. Aquilo que vem do coração, não requer esforço. A ação do coração, se origina na paz. Você se origina na paz. Seu ser repousa na paz. Você é a paz, que tanto se esforça em encontrar. Que tal relaxar?
Somente um dia. Não fazer nada que você não queira. Não guerrear. Nem dentro de si. Um dia sem esforço… Um dia na paz verdadeira. Um dia mergulhado em si mesmo.
A ilusória sensação de abandono
Dentro de nós reside um ser abandonado. Que surgiu em vários momentos em que não nos sentimos vistos e validados pelo papai ou pela mamãe. Às vezes, por ambos. Este ser tem medo de ser abandonado novamente, e faz de tudo para ser visto, aceito, incluído. Usa diversas estratégias: desde ser o melhor, para impressionar e agradar o outro, até confrontar e manipular, obrigando o outro a amá-lo. Mas ele sabe que, no final, não conseguirá "se sentir pertencendo". Afinal, ele é "o abandonado".
Imerso nesta energia, nesta máscara moldada na dor da perda de atenção do pai ou da mãe, subornamos nossos amores, amigos, clientes... quanto maior a dor, maior a estorção: me vejam!!! Olhem pra mim!!!
Depois... cedo ou tarde, o abandonado se isola. Se retira. Acaba até abandonando. E a promessa está realizada. Fui abandonado!
A relação afetiva acaba. O emprego perde o sentido. A família é deixada. Grupos desfeitos. Amigos esquecidos. Até Deus é abandonado.
E então, começamos tudo novamente. A busca pela aprovação. Pela validação. Pela inclusão. Em novos grupos. Novas relações. Novos trabalhos. Novos caminhos espirituais. Queremos muito pertencer, mas não nos sentimos pertencentes...
Cabe urgentemente a necessidade de aprender a lidar com a sensação de abandono. Ela é uma imagem do passado. E todos os sentimentos agregados que o abandono traz: raiva. Medo. Auto comiseração. Competitividade. Sedução. Culpa. Sim, me senti abandonado e ninguém poderá mudar isso. Dói muito. E não há o que fazer.
Diga ao seu "ser abandonado": preciso validar você, dentro de mim, que sofre. Eu, pelo menos, não irei abandoná-lo.
Mas também não irei seguir suas estratégias, que me levarão, cedo ou tarde, ao isolamento. Eu e você não precisamos sofrer mais do que já sofremos. Pra que agradar todo mundo? Pra que manipular? Amarrar a família, os amores, os amigos, os parceiros? Confrontar o mundo? Isso de nada adiantará.
Faz-se necessário aprender a lidar com a impermanência das relações. Todas elas, um dia, acabarão. Alguém sempre será deixado. Nem por isso, devemos apressar o andar da carruagem. O abandonado é somente o ponto de vista infantil de alguém que não aceitou a dor da partida. O sábio, dentro de nós, não olha para quem vai. Nem para quem chega. O sábio está presente. E sorri quando alguém vem. Se enternece quando alguém vai. Sabe lidar com os sentimentos - agradáveis ou não, e não os vincula às pessoas. Pessoas despertam nossos sentimentos. Os sentimentos são sempre "nossos". Independem do outro.
Lidar de forma madura com eles - os sentimentos, despersonalizando-os, é a maior lição. E se não damos conta de lidar com o nosso "abandonado", nem com as dores provocadas pelos inúmeros abandonos que vivemos, e outros que patrocinamos, há que se ter a força hercúlea de pedir para que Algo Maior nos ajude. Pelo menos uma vez na vida, o "abandonado" precisará ceder e deixar o seu maior defeito de lado: o orgulho. E então pedir ajuda. E abrir-se para receber a ajuda. Na forma que ela vier. De quem ela vier.
Ela virá.
Coração em greve
Ei! Psiu! Queria falar com você! Aqui... olha pra cá... mais pra baixo... do lado esquerdo... fazendo tum-tum. Tum-tum. Ainda estou batendo, apesar de tudo. Você tem me esquecido, não é mesmo? Mas o pior não é isso: está me contaminando. Sim, você tem me dado muito veneno, e eu tive que me fechar, me proteger, pra evitar entrar em colapso.
Mas agora cansei, e resolvi protestar. Levantar minhas faixas na rua:
- pare de guardar seus sentimentos!
- fora repressão!
- assuma suas dores!
- queremos lágrimas sinceras!
- mágoa livre!
- mais amor, menos silêncio!
- abaixo as máscaras!
Sabe, cara: tô cansado de ver você entrar em relação, e sair de relação... e não se expressar. Se tá magoado, não fala. Quando fala, só briga, mas não tem a capacidade de dizer: você me machucou. E aí, depois que briga, se arrepende. E também não fala: sinto muito. Agora, fui eu quem te machucou. Eu ainda te amo. E aí se afastam, e você não diz: tô com saudade! Sinto a sua falta. Foi muito bom o que vivemos. Então, vê o outro com outra, e não comunica: ahhhh, que inveja! Como eu queria que fosse eu! Tomara que acabe logo... só pra ele sofrer mais um pouco. E logo em seguida, quer voltar atrás: nossa! Que maldade... como pude sentir coisa tão ruim assim. Que sejam felizes. Eu vou continuar aqui, sozinho na minha dor...
E você sabe, cara. Anos e anos assim. Sem expressar seus sentimentos pras pessoas que você ama, as que odeia, as que ignora, as que te ignoram... Sem expressar seus sentimentos nem pra você mesmo! Mas saiba você que cada palavra não dita cai como ácido sobre mim. E eu tenho que me fechar, me proteger. Preciso falar uma coisa: Eu fechado, impeço você de amar. De sentir alegria. Prazer. Êxtase. Plenitude. Confiança.
Todos os sentimentos passam por mim. Se você nega um, nega todos. Se não sabe demonstrar sua raiva, sua mágoa, seu perdão, sua amizade, sua alegria... você começa a dizer para mim que não sou tão útil... Você está me esquecendo, achando que minha única função é fazer tum-tum. Tum-tum. Tum-tum uma pinóia, cara! Não tô aqui pra ser bateria de escola de samba. Eu existo porque sou a razão principal da sua existência... sentir! Manifestar o que você sente. Viver em plenitude. Curtir a vida! Em todas as suas nuances. E você preso aí nesse cérebro. Só querendo saber. Resolver. Chegar a algum lugar. Entender. Ah, vá...
Tô pensando em entrar em greve. O que acha? Vou dar uma paradinha... No começo, é só um alerta. Uma pequena parada. Só um susto. Mas se você não olhar direito para seus sentimentos, a parada vai ser mais longa... Um dia. Ou uns três dias... E não vai adiantar entrar na justiça trabalhista, viu?
Quem sabe você resolva validar seus sentimentos. E expressá-los.
Eu só quero uma coisa: me deixa trabalhar. Mas do meu jeito! Na totalidade. Pare de usar tantas máscaras. Pare de fingir. Seja mais coração, cara! E menos cabeça...