Alex Feijó
A FALSA MORAL
Escrevo esses versos tristes
Sobre essas linhas tortas
E vejo reinar a tristeza
Num mundo de alegrias mortas
Pessoas vivendo entre vermes
Rastejando de porta em porta
Possuem um mal de nome esperança
Que diz que a felicidade se foi
Mas que ela algum dia volta
Mas você não conhece esse mundo
Por isso é que não se importa
Seu falso otimismo me assusta
Mas não se compara a sua caridade hipócrita
Pois se tu doas a um mendigo
Um sapato sujo e costurado
É só porque não mais te serve
De tão velho e apertado
Porém te sentes um ser bondoso
E se diz até "aliviado"
Pensa ter feito uma boa ação
Mas só tirou o lixo do próprio quarto
Ainda fala que sempre ajuda pois não sabe o dia de amanhã
Sempre esperando um retorno
Essa é a falsa moral
A conciência individual
Que transforma toda bondade em afã
PENSAMENTOS
Tão perto de tudo
E ao mesmo tempo distante
Oscilando entre um universo e outro
Essa é minha constante
Me perco na relação tempo-espaço
Em pensamentos que passam tão rápido
Que mal consigo acompanhar
Como um raio cortando o céu
Como uma flecha rasgando o ar
Pensamentos que apavoram a existência
Porém estimulam muito mais o pensar
Por um instante pensei estar louco
Mas para achar estar louco precisei pensar
Os loucos não sabem que são loucos
Assim sendo eu não poderia estar
Esses pensamentos me mantêm vivo
Eles emanam de todo lugar
Parecem ter vida própria
Mas precisam de alguém para se expressar!
PROBABILIDADE
A vida humana é muito mais propícia
Ao sofrimento do que a alegrias
Posto que a probabilidade de derrotas
É sempre maior do que a de vitórias
Pois você na vida você perde quando não se arrisca
Perde quando demora a se arriscar
E mesmo quando arrisca,
Ainda assim pode perder!
FIM DA LINHA
Escravo de sua rotina
É esse trabalhador
Para seu trabalho e sua família
Ele mostra seu valor
Apenas passa pela vida
sem notar seu esplendor
Pois não tem tempo de parar
E olhar ao seu redor
Sua vida é trabalhar
Comer às vezes, dormir, e, só
Sua trilha foi marcada
Não com pão, mas com suor
Então nasce mais um dia
E a rotina já o espera
Mas esse dia é diferente
Para ele e para ela
Hoje ele se liberta
Dessa vida sem sentido
E logo perde a atenção
Quando a morte sem compaixão
Lhe cochicha no ouvido
E assim sem que ele perceba
Ela lhe rouba a luz dos olhos
Antes que o sol já tenha ido
Viveu como se não fosse morrer
Morreu como se não tivesse vivido
NADA É PRA SEMPRE
Triste como um dia sem sol. É assim que eu me sinto.
Agarrando-me a pequenos momentos de alegrias
Para iluminar a escuridão de minha áurea
E aquecer esta minha alma fria.
Roubando mesmo sem querer das boas pessoas, sua energia.
E pensando em tudo o que é meu, ou que ja foi um dia.
Meu passado não está morto,apenas dorme.
Meu presente,ao contrário,a toda hora corre.
E meu futuro,veja que estranho,de mim se esconde.
Porém,todas estas coisas não são minhas em particular.
Existem outros como eu e nem preciso procurar.
Porque estão em toda parte,basta você analisar.
Eles não tentam fujir.
Só tentam se misturar.Eles querem de todo jeito
com os outros se encaixar.
Eles não sabem que são iguais.
Por isso figem ser diferentes.
Querem ser felizes com determinadas pessoas e coisas,
mas não é possível.
Porque nada dura para sempre!
INDISPENSÁVEL POEMA
O amanhã é uma ilusão,posto que ainda não existe
Eu tento me libertar do passado para não seguir tão triste
Invisíveis são as correntes que me prendem a um tempo que não existe mais
Incríveis são os momentos que devo deixar para trás
Insuportaveis são as dores que torturam a alma doente
Infinitas são as lembranças que pertubam a pobre mente
Irreais são os sorrisos que se lançam a minha frente
Imortais são os desejos que no olhar se faz presente
Incessantes são os sonhos que vagam no inconsciente
Inquietantes pensamentos maliciosos e inocentes
Inexplicaveis sentimentos que não se fala,só se sente!
DEPRESSÃO MOMENTÂNEA
E esse sofrimento doce que me acalma
Insiste em se misturar com minha alma
Como um rio a desaguar no mar
E essa tristeza que me aquieta com um simples toque
Me paraliza os músculos quando abraça forte
E não me deixa sequer levantar
Me vejo sempre em estado de choque
Vivendo a vida como se fosse a morte
Sem nenhum motivo para resucitar
E essa depressão que toda noite se adentra em mim
Me corrói e parti sem se despedir
Antes mesmo do amanhecer
Deixa uma ferida totalmente aberta
Que nunca sara por completa
E nunca deixa de doer
Seria melhor que nunca saísse de mim
Que a toda hora estivesse aqui
Integrando a essência do ser
Assim não sobraria o vazio
Somente aquele eterno frio
Que completa minha dor de viver
FELICIDADE AUSENTE
A vida nunca é perfeita
E tampouco sempre alegre
Ela é cheia de desfeitas
Em qualquer caminho que se segue
Não importa a direção que a vida irá tomar
Tristezas e alegrias não irão se dissipar
A ilusão de felicidade pode até lhe confortar
Mas a sede da verdade não irá se saciar
Criam uma casca ao redor da verdade
Pois ela dói como uma ferida aberta
Ah-Como faz bem uma mentira
Se contada na hora certa
Mas não importa o quanto faça bem
Se não for real:"obrigado!"
Prefiro morrer por dentro
Chorar sorrindo
Gritar calado
Não ignoro e nem recuso a felicidade
Apenas não vejo alegria onde não existe
Porém em nossa realidade
Amar com tamanha intensidade
É o que nos torna menos tristes
METADES
Uma parte de mim é conhecimento, sabedoria
Outra parte é ignorância, aporia
Uma parte de mim é emoção, saudade
Outra parte é razão, sanidade
Uma parte de mim é dor, tristeza
Outra parte é paz, sutileza
Uma parte de mim é amor, é paixão
Outra parte é rancor, solidão
Uma parte de mim quer viver, se encontrar
Outra parte sumir, evaporar
Uma parte de mim é modéstia, humildade
Outra parte é orgulho, vaidade
Uma parte de mim é segura, potente
Outra parte é medrosa, carente
Uma parte de mim é ciência, empirismo
Outra parte é fé, misticismo
Uma parte de mim é bruta, vazia
Outra parte é poema, é poesia
Separar uma parte da outra parte
E transformar o dualismo em unidade
Não perderei só a metade
Mas sim toda a harmonia
CAMINHO DA MORTE
Sigo os passos de um fantasma que é o meu destino
Por um caminho escuro e de trilha torta
A solidão invade minh'alma sem bater na porta
Como um verme que invade com verocidade
Toda carne morta
Assim sigo sozinho nessa caminhada
Sem nunca ter visto o rastro da esperança
Que eu procuro desde criança
Mas até agora não encontrei nada
Apenas ando sem ter muita pressa
Mesmo com minha matéria submersa
Num rio de dor e tristeza
Pois sei que minha agônia vai se estancar com certeza
Quando eu der meu último passo
E cair sobre os gelados braços
Da única coisa que me espera
E já consigo ver no fim da estrada
A impiedosa morte ali parada
E o meu destino a olhar para ela
MUDANÇAS
Quanto mal há na ânsia de quem espera?
Ou na saudade de quem se foi ou nem chegou?
Quanto de mim existe hoje do que eu era?
E amanhã quanto haverá do que hoje sou?
Tudo muda a todo tempo sem parar
E é tão difícil ter certeza de onde ir
Até hoje não encontrei o meu lugar
Talvez esteja muito distante daqui
Quantos amores ainda irão desabrochar?
E os antigos ficarão onde eu deixei?
Provavelmente nunca mais irei voltar
Pra não saber se fiz o certo ou se errei!
JOGO DOS CONTRÁRIOS
O que sou afinal?
Herói ou covarde?
Mocinho ou vilão?
Insensível ou poeta?
Gigante ou ou anão?
Sensato ou desvairado?
Esportivo ou social?
Malandro ou trouxa?
Sutil ou fatal?
Senhor ou escravo?
Teísta ou ateu?
Fingido ou sincero?
Afinal quem sou eu?
CONFUSÃO
Eu sou o inverso de um bonito verso
Buscando nas trevas a luz da razão
Tão virtuoso e mais do que profano
Filho do ócio e da contradição
Um complexo despreocupado
Com a análise da deturpação
A paz suplicando ao caos
Para se libertar e sair do caixão
A causa prima de um problema crônico
Cuja sistematicidade é a solução
A simples organização dos pensamentos me destruiria
Pois eu sou apenas uma confusão
CONSCIÊNCIA
Quanto mais conheço a religião
Mais desejo manter distância
Que sorte ter me libertado
Um pouco depois da infância
Na teoria a religião prega o amor
Mas na prática o que se espalha é violência
Por isso quanto mais conheço a religião
Mais prefiro me aproximar da ciência
Duas palavras definem religião:
Demagogia e demência
Pessoas que deixam na mão de seres imaginários
A responsabilidade da própria existência
Sou aquele que trocou o dom da fé
Pela maldição da consciência
DESPEDIDA
Papel não falta
Tem vinho na taça
Mas nada vem
O tédio mata
Não se resgata
Quem não se tem
Cessou a música
Ninguém mais dança
É o suicídio
Da esperança
É o fim da linha
Última instância
Cortaram as asas
Das borboletas
Que no estômago
Faziam festa
Aqueles sinos
Não tocam mais
O navio do amor
Deixou o cais
Secou o mar
Dos sentimentos
Encheu-se um rio
Com seus lamentos
Não há rancor
Mas há saudade
Não mais paixão
Só amizade
Tudo é mudança
Dizia Heráclito
As coisas mudam
Mas nada é fácil
Sejamos nosso
De mais ninguém
E ao final
Meu bem querer
Me queira bem!
AQUELES OLHOS
O que há naqueles olhos
Que me fitam intensamente
Com malícia e pureza
E com um desdém tão complacente
O que há naqueles olhos
Que é tão difícil de explicar
E como pode um corpo inteiro
Se perder num só olhar
Esses olhos me atraem
Como um imã atrai o metal
Esses olhos fazem bem
Tanto quanto fazem mal
Ah- Esses olhos, esses olhos
Que me levam a perdição
Num piscar faz o desejo
Transformar-se em paixão
Esse olhar misterioso
Põe em risco minha razão
Já não sei se é uma dádiva
Ou se é minha maldição!