Alessandro Loiola
O fato de que os humanos têm consciência da Moralidade é por si só surpreendente, e nos leva a buscar uma explicação para o fenômeno.
Somos constituídos de tal maneira que fomos dotados de uma necessidade prática para acreditarmos nos testemunhos acerca daquilo que ainda não sabemos sobre o mundo - e nos permitimos influenciar profundamente por aqueles entre nós que dizem saber.
Somos especialistas em empregar filosofia e ciência para racionalizar algo em que, por razões absolutamente não-filosóficas e não-científicas, acreditávamos desde o princípio.
Vamos supor que deus nos diferenciou dos demais animais quando nos dotou de inteligência, raciocínio e livre arbítrio. Ele deseja que acreditemos nele, mas escondeu as provas diretas e incontestáveis de sua existência. Acreditar em deus sem provas seria então uma elevação da inteligência, do raciocínio e do livre arbítrio ou a simplesmente degeneração de todos estes em loucura?
Ser “amável” não é uma questão de “valer o amor que você tem”, mas de “demonstrar aptidão para ser amado”.
A seletividade do amor pode ser explicada, mas não justificada: para aquilo que não apreciamos no amor, nos tornamos voluntariamente cegos, distorcendo a percepção até que ela silencie ou nos agrade, e esta aposta na melhora espontânea do desencanto parece ser uma das maldições mais longevas de nossa espécie.
Morremos por amor, sofremos por amor, nos calamos por amor, choramos por amor, enlouquecemos por amor e nos sentimos sós porque amamos.
Amamos porque nossos desejos nos fazem acreditar que outra pessoa nos trará a felicidade – o que é um imenso equívoco.
A Amizade emerge quando duas ou mais pessoas descobrem que compartilham alguma ideia, interesse ou gosto que, até aquele momento, acreditavam ser um tesouro ou um fardo único de si mesmas.
A Paixão é um caldo fervente de interdependência emocional que despejamos sobre outra pessoa. Ingeri-lo implica em uma perda no mínimo parcial de si mesmo.
A paixão é uma Deontologia baseada na vítima, onde a vítima é o sujeito que diz estar amando: ele deseja para si todos os direitos, inclusive o de sequestrar e parasitar o outro como uma filial, transformando-o em uma franquia externa de suas angústias destinada a trabalhar incessantemente para quitar os débitos de sua própria miséria emocional.
Ao colocarmos o amor no centro de toda expressão emocional do imaginário popular, o transformamos em uma tela utópica onde estamos sempre projetando nossas querelas sentimentais e construindo dramas vívidos, sufocantes e muitas vezes inúteis que chamamos de “romance”.
Intimidade é convidar o outro para conhecer um pouco do seu “eu” mais interior, tornando-o uma mistura de consultório médico e confessionário.
Sempre que o Amor é vivenciado como uma resposta imunológica a uma delicadeza que nos fragiliza, ele deixa de ser aconchego e elegância e se converte em uma batalha cruel em um charco de flagelos.
O objetivo da vida é conhecer-se a si mesmo - e o Amor é um dos mais nobres caminhos para esta meta.
Dentro do Deísmo e do Panteísmo, agradecer a deus faz tanto sentido quanto rezar ao prédio da maternidade onde você nasceu ou prestar sacrifícios ao bebedouro da escola onde você foi alfabetizado. O deus deísta (ou panteísta) criou tudo e é tudo, mas não está nem aí para você. Infelizmente, isso não oferece grande aconchego: somos seres sentimentais e ansiamos por um sentido na veneração. A adoração religiosa é uma expressão desta necessidade de dependência emocional com um criador com quem achamos ter alguma preferência ou relacionamento pessoal. Por isso o Teísmo é tão popular.
Um sinal comum em todas as religiões é o reconhecimento de que a condição humana é de alguma forma “insatisfatória”, ou decaída ou incompleta, e que nossa felicidade ou salvação ou elevação dependem de um estado de bençãos ou algum outro tipo de nirvana.