Alessandra Leite
Um grito de Elis
De repente a explosão do pranto
Um alívio, um acalanto
E o silêncio acordou os monstros
Adormecidos na contida revolta
Nem o ar quer suas palavras
que nada dizem, sufocam o nada
Redemoinho de letras
alfabeto torto, o vento devolve as letras paradas
A mistura de tudo
cabeça atrapalhada
Pessoa oculta e me revela ainda mais
Vinícius faz do riso o pranto
Neruda implora o mesmo riso
Quintana avisa sobre os monstros
No meio da poesia torta
entrelaçada nos caminhos sem fim
Um novo dia, a utopia
O amor que eu quis
As pedras, o fim do caminho
Um grito de Elis
Caminhos
Nas lágrimas em que me rendo
À eternidade de um amor perene
É fácil perceber quando a calma vence a urgência
diante da dor da renúncia e da saudade
Procuro as rimas e não as encontro
Deixo a alma redigir o texto
E para os erros chega a penitência
A maior punição é a ausência
da alma dele em minha casa
Ele é a paz que me falta
O silêncio que cala meus medos
Transforma o cinza em cor-de-rosa com duas palavras
Ele é a própria imagem do amor cristalizado
A paciência que me faz falta
A doçura que me seduz
No breu do pecado ele é a minha luz
A distância é o meu castigo
E se ele vier comigo
Meu castelo se refaz
Ele é a renúncia mais doída
A chegada e a partida
Dos caminhos até mim
É o vento que traz
a verdade capaz
de devolver o meu eu
Ele é o navegar quieto
Intranquilo
O rio que em um delírio São
Precisa cair no mar.
Faces do Mesmo amor
Quem sabe o amor seja só uma flor caída
Destoando de tudo o que a impureza diz
Quem sabe é só um espinho perdido
Em um olhar entristecido
Ou o que foge do desejo
Se confunde em um sorriso
Algo que persiste
por saber que ainda existe
A esperança de viver
Ou então é a entrega
Ao que foge à regra
E se vai naquelas manhãs
Deixando no suspiro do pecado
do mesmo amor um recado
A fluir antes da morte.