Alejandro Zambra
Não vou explicar aqui os motivos que me fizeram parar de fumar. Basta dizer que tem a ver com covardia e ambição. De repente descobri que queria viver mais. que coisa mais absurda essa: querer viver mais. como se a gente fosse, por exemplo, feliz.
Classificamos os livros para vendê-los. Há pessoas que precisam saber se estão lendo um romance ou contos. Eu não. Nunca me interessei por gêneros. Para mim, um romance não tem mais valor que um ensaio ou poema.
Um bonsai é uma réplica artística de uma árvore em miniatura. Consta de dois elementos: a árvore viva e o recipiente. Os dois elementos têm de estar em harmonia e a seleção do vaso apropriado para uma árvore, é por si só, quase uma forma de arte. (...) Um bonsai nunca é chamado de árvore bonsai. A palavra já inclui o elemento vivo. Uma vez fora do vaso, a árvore deixa de ser um bonsai.
No final ela morre e ele fica sozinho, ainda que na verdade ele já tivesse sozinho muitos anos antes da morte dela, de Emilia. Digamos que ela se chama ou se chamava Emilia e que ele se chama, se chamava e continua se chamando Julio. Julio e Emilia. No final, Emilia morre e Julio não morre. O resto é literatura.
Sabia pouco, mas pelo menos sabia isto: que ninguém fala pelos outros. Que, mesmo que queiramos contar histórias alheias, terminamos sempre contando nossa própria história.
É uma história de amor, nada muito especial: duas pessoas constroem, com vontade e inocência, um mundo paralelo que, naturalmente, bem rápido desmorona. É a história de um amor medíocre, juvenil, na qual reconhece sua classe: apartamentos exíguos, meias-verdades, frases de amor automáticas, covardias, fanatismos, ilusões perdidas e depois recuperadas – as bruscas mudanças de destino dos que sobem e descem e não partem nem ficam. Palavras velozes, que antecipam uma revelação que não chega.