Alê Maria Borboleta
Tem um tiquinho de amor lá fora. Por favor, não feche a porta. Deixe ele entrar e se entusiasmar novamente, como se estivesse nascendo pra esse mundo. Amor assim, a gente não perde e nem deve deixa-lo se perder.
Se fechar a porta, ele entrará pela janela, meio bandido, invadindo todo o recinto a procura do seu autêntico sentimento.
Tem um cisco de amor lá fora. Por favor, permita que ele seja livre para ver o sol e retorne maior que saiu. Amor assim, a gente cuida, não prende. Amor é ser... ser amado.
Tem um punhadinho de amor lá fora. Tão pouco para o que há aqui dentro. Pare de tolice... deixe ele entrar.
"Durante a vida eu me dividi para multiplicar, errei para acertar e corri para um dia caminhar. Multipliquei algumas coisas boas e dividi outras ao meio para que desse um pedacinho pra todo mundo. Errei tentando acertar. Corri com a intenção de chegar, mas numa das lições que aprendi é que não há onde chegar, só é preciso viver. Multipliquei amor. Dividi meu tempo. Errei para aprender. Acertei para ser feliz. Corri só para me cansar e... caminhei para observar melhor os acertos da minha vida.
As flores são como as crianças. Fazemos de tudo para que cresçam lindas, perfeitas e cheias de vida.
Onde há amor, elas florescem. Onde há o toque suave, elas não se desmancham. Onde há o cuidado, a cor é vibrante.
Entender a necessidade de cada uma também é uma tarefa importante. Algumas precisam de mais sol, outras mais sombra. O vento pode desmanchar algumas, mas pode levar sementes boas para outros solos. A vida de uma flor depende de quem cuida. A vida de uma criança também.
As flores, as crianças, a vida, o amor. Para quem acredita no simples, saberá a importância do cuidar.
Em alguns momentos é preciso fechar os olhos.
Quando sentir a dor maior que a esperança, feche os olhos para acreditar.
Quando a brisa chegar de repente no rosto, feche os olhos para senti-la.
Quando o julgamento o tornar pequeno, feche os olhos em oração.
Quando a chuva chegar no meio do caminho, feche os olhos para senti-la como uma purificação.
Quando um abraço amigo te encontrar de repente, feche os olhos para seus corações se encontrarem.
Quando o sol apertar a visão, feche os olhos para enxergar o que ela não consegue ver.
Quando sentir que uma palavra ruim quer sair de dentro do seu ego, feche os olhos e conte as estrelas que iluminarão o seu ser.
Quando perceber o amor por perto, feche os olhos para entende-lo.
Quando pensar nos seus sonhos, feche os os olhos para decidir em como materializa-los.
Quando sua música favorita tocar, feche os olhos para se encontrar na melodia.
Quando o cansaço dominar seu corpo, feche os olhos para respirar fundo e descansar.
Quando a saudade apertar, feche os olhos para lembrar de quem ama. E se isso não funcionar, vá de encontro ao nome de sua saudade.
Quando sentir a felicidade encostar, feche os olhos para agradecer.
Quando sua fé for testada, feche os olhos para que seus caminhos se abram.
Quando receber uma benção tão esperada, feche os olhos para que a gratidão invada seus sentidos.
Quando acordar amanhã, feche os olhos novamente por um momento... e agradeça a vida.
Podemos planejar e extrair nossos conhecimentos numa bolsa de valores da vida. Ainda assim, estamos diante de uma estrada longa, com visão limitada. Algumas vezes é melhor sentar, observar o próprio respirar para continuar. Nada é tão acertivo quanto a intuição.
Parei de ouvir o que os olhos queriam ver e passei a ouvir o verdadeiro que habita em mim. Se um dia encontrei felicidade no auge de todo o material, não foi a verdade que me vestia. Só me vesti de felicidade quando a vida estreitou os caminhos e as oportunidades, até então tão importantes, se restringiram. Desencontrei muitas pessoas, não enxerguei a mão que me brindou numa festa e não tive nada a oferecer senão a minha presença. Nesse momento ouvi uma simplicidade brotando de momentos que já não vivia com tanto entusiasmo. Ouvi meus pés caminharem por ruas que jamais conheceriam se meus caminhos não estivessem se estreitado. Ouvi sorrisos amorosos de desconhecidos. Ouvi o falar manso de um idoso que pegou o ônibus para sua consulta. Ouvi a mãe segurar seu bebê logo de manhã dando amor, proteção e carinho a ele. Ouvi orações matinais de "rezadeiras" que se enchiam do espírito santo. Ouvi crianças chegarem sem carro para a festa, mas felizes por terem passeado. Ouvi a lua sozinha me dizendo que o que importava na vida estava comigo, ali, todos os dias. Ouvi a coragem me trazendo de volta, sacudindo todos os meus sentidos, fazendo ventania no peito e escancarando para meu ego que eu não sou o que tenho, porque sou superior a tudo isso. A bagunça virou-me do avesso, e por ironia da simplicidade, é desse avesso que eu precisava para essencialmente ser feliz.