alceu wamosy
Duas almas
Ó tu que vens de longe, ó tu, que vens cansada,
Entra, e, sob este teto encontrarás carinho:
Eu nunca fui amado, e vivo tão sozinho,
Vives sozinha sempre, e nunca foste amada...
A neve anda a branquear, lividamente, a estrada,
E a minha alcova tem a tepidez de um ninho,
Entra, ao menos até que as curvas do caminho
Se banhem no esplendor nascente da alvorada.
E amanhã, quando a luz do sol dourar, radiosa,
Essa estrada sem fim, deserta, imensa e nua,
Podes partir de novo, ó nômade formosa!
Já não serei tão só, nem irás tão sozinha.
Há de ficar comigo uma saudade tua...
Hás de levar contigo uma saudade minha...
Ária Antiga
Chora o orvalho da luz sobre a rosa do dia
que se fecha. O jardim todo lembra um altar
para o qual sobe o incenso azul da nostalgia,
e onde os lírios estão de joelhos, a rezar.
Tu cantas para mim. Tua voz, triste e mansa,
vem trazendo, a gemer, dos confins da lembrança,
qualquer coisa de velho, onde a vida se esfume.
Quando a voz adormece um fantasma desperta.
A tua boca é como uma rosa entreaberta
que a saudade acalante e o passado perfume.
E essa velha canção que o teu lábio cicia,
no momento em que a tarde adormece no olhar,
enche o meu coração de uma vaga harmonia,
de um desejo pueril de ser bom, e chorar...