Aillon Dias
A Busca
Se procuro algo e não encontro
Talvez não esteja procurando direito
Pois todas as coisas estão em seu devido lugar
O que procuro, então, tem que estar lá.
Se procuro e não encontro
Será que o procuro realmente existe
Ou é algo que eu, sem querer, inventei?
Só para que essa busca fosse sem fim...
Mas por que procuro?
Se não encontro, por que ainda assim procuro?
Deve ser porque a busca é que me move adiante
E se desisto de procurar
Não há mais razão de ser
Não há mais porque querer
Algo que se acreditaria impossível de se encontrar.
Um dia desses, refletindo sobre a minha existência e sobre muitos dos questionamentos que dela tiveram origem, percebi algo tão simples e óbvio: ser feliz é possível.
Certamente, muitos diriam tratar-se de utopia, mas fui capaz de entender que utópico mesmo era tomar essa ideia como verdade absoluta e seguir a maré.
Mas eu compreendo esse tipo de pensamento, até porque eu também compartilhava dele, pois numa sociedade dinâmica como a nossa é muito mais fácil deixar-se levar por opiniões pré-formadas a guiar-se por um pensamento dialético.
O cerne da questão está em estabelecer uma definição do conceito de felicidade. Se não somos capazes de defini-la, como podemos decretar ser impossível alcançá-la?
É certo que a visão que cada pessoa tem do assunto advém da maneira como cada um o vê. Se tomamos a felicidade como algo a ser alcançado, é muito provável que passemos a vida angustiados, buscando o que para nós parece ser inatingível. Por outro lado, se a enxergamos como um estado de espírito originário das mais diversas razões e, assim como todo estado de espírito, passível de mudança, somos capazes de subtituir a ideia equivocada de felicidade plena pelo pensamento de que a vida é, na verdade, constituída por momentos de felicidade e momentos de infelicidade.
Essa é a nova visão que tenho a respeito do que é ser feliz. Tudo depende da maneira como decidimos ver o que se passa ao nosso redor. Por isso, abra seus olhos para o mundo e seja feliz sempre que você puder!
Sangria
Sinto fraqueza
Sinto sede
Sinto frio
Sinto que algo dentro de mim se partiu
Aos poucos vou ficando inconsciente
Vou caindo lentamente
Com tremores e arrepios
A pulsação aumenta
A respiração o meu fôlego afugenta
E a cada instante é mais lenta
Até que, num relance, as luzes se apagam
E não vejo e nem sinto mais nada
TERMINAL
Chegou a hora de atravessar para o outro lado
Me desprender das coisas daqui e partir
Não sei ao certo pra onde
Se a pé ou de bonde
Só sei que é pra longe
Quando partir pra lá
Posso não mais voltar
Farei quem me ama chorar
Mas o que se pode fazer?
Não é assim que tem que ser?
DIRETAMENTE PROPORCIONAL
Tu te fostes e estou só
E me falta cá um bocado
A distância é maior
Se mais te quero ao meu lado
FUGAZCIDADE
O tempo parece escasso
Há tanta coisa a fazer
Andando nas ruas do espaço
Não tenho mais vida a perder
TRANSPIRAÇÃO
Tua voracidade me excita
Sabes que adoro cada beijo
Cada infame desejo
Que em meu corpo suscitas
O teu corpo perfeito
Que em meu leito aproveito
Nesse calor é liquefeito
E vai virando suor
O enlace é desfeito
E em meu colo eu te deito
Após ter te satisfeito
Não há nada melhor
SelvaGens
O gentio virou gente
A nudez virou vergonha
O verde virou cinza
O caule virou concreto
O rio virou asfalto
Tupã virou Deus
A selva continua...
DEVANEIO...Nº04
Eu escolhi você
Mas por quê?
Só queria entender
Se bem que isso não faria diferença
Não diminuiria minha querência
Apenas justificaria o meu sofrer
MULTIVERSOS
Quantos eus há em mim
Habitando em outras dimensões
Alimentados com minhas emoções
Mergulhados em minhas frustrações?
São vários, são infinitos
São universos distintos
Num multiverso irrestrito
CARDIOPATIA
A dor que há em mim
Que me consome a cada dia
Que nos traços de nanquim
A minha pena anestesia
É uma dor que não tem fim
É o estopim da minh’agonia
POLISSEMIA
Se não fizer sentido pra ti
Fará pra mim
Porque surgiu de mim
Não quero te dizer como entender
Não usarei palavras pra descrever
Vou te deixar livre pra interpretar
Pois nada está acabado
Apenas está colocado
Resta a ti significar
ANEXOS
Eu te vejo e você me vê
E nos unimos num amplexo
E na cama vamos estabelecer
A união do côncavo e do convexo
PENA & PERGAMINHO
Com a pena na mão
Me distancio do chão
E neste pergaminho
Vou descobrindo o meu caminho
Pra onde estou indo agora?
CHUVA DE AMOR SEM FIM
Gosto de sentir as gotas deste amor que chove em mim
Amor que é tempestade e, às vezes, calmaria
Esta chuva que lava as minhas tristezas
E faz brotar em mim a alegria
Que molha o meu jardim
Que parece não ter fim...
SÓIS
Não quero ser como o Sol e nunca quis
Não preciso estar no centro pra me sentir feliz
Não quero ninguém traçando sua órbita ao meu redor
Apenas refletindo e não irradiando luz por si só
O que eu quero é ver todos estrelas anãs
Fulgurando vida em todas as manhãs
MELHOR É AMAR
Por que condenas minha forma de amar
Se sequer és capaz de enxergar
Que condenável mesmo é não amar?
LEITURA LABIAL
Meu coração pulsa
E em cada batida expulsa
Palavras que não fazem sentido pra ti
Resta a mim te beijar
E com meus lábios te explicar