AilaSampaio
Estamos conjugando verbos em tempos e modos diferentes, rastejando uma despedida que até pode nem ser o que queremos. Olha bem pra mim e decide que música pretendes dançar. Pode ser que eu tope. Pode ser que não, mas pelo menos saberei o o ritmo antes de decidir apertar o 'play' ou o 'eject'.
AílaSampaio
Gosto de fazer rastejar o que me põe a alma cansada... gosto de fazer com as palavras o que não posso fazer com os olhos e as mãos. Mas nada, absolutamente nada, tem certidão de nascimento, nome ou endereço. Tudo nasce e desnasce sem compromisso com o que, quem ou quando. A poesia é minha deserção desse mundo que, por mais íntimo que tente se fazer, me é inevitavelmente estranho.
Aíla Sampaio
Chuva põe tempo nublado no coração, vontades preguiçosas de aconchego e de fazer nada; desejo de ver a paisagem úmida do mar a molhar-se de água doce e roubar-me os pensamentos.
Amor tem que ser laço, nunca nó. Não que tenha que desmanchar quando convier, mas que não seja difícil de desatar quando necessário.
Quando a gente existe em alguém que também existe dentro da gente, o mundo fica todo povoado com apenas dois rostos.
O outono desenhado na paisagem não impede que a primavera se instale no meu coração. Lá fora, folhas secas correndo ao vento; aqui dentro, jardins ensolarados anunciando que é tempo de colher as flores.
Agora que apaguei as lembranças e fiz as pazes com o passado, posso finalmente enterrar meus mortos e sentar-me à mesa... nada mais me será indigesto!
A minha mais bonita lembrança é a dos teus olhos escandindo a noite para desenhar em meu corpo os poemas que só tuas mãos conseguiam escrever.
Que o meu amor caiba no teu abraço sem sobra ou falta de espaço. Que me vistas com teu corpo e nele amanheças como um dia ensolorado após uma noite de chuva.
O amor é como o barulho do vento... ecoa despreocupado se vão ou não escutá-lo. Existe naturalmente, como o espetáculo da aurora, que acontece independente dos olhares que o admiram ou, alheios a ela, ainda dormem.
Amores verdadeiros não acabam, nunca vão embora, apenas diminuem a voltagem, se aquietam e mudam para outro compartimento da nossa casa-coração!
Do livro DE OLHOS ENTREABERTOS
Não quero amor a conta-gota nem felicidade emprestada. Quero a transitividade do verbo amar com todos os seus complementos.
Do livro DE OLHOS ENTREABERTOS
No céu em que me perdi contigo já não há anjos nem vida eterna. Que fazer se permitimos que nos expulsassem do paraíso? Se nosso 'para sempre' desabou nuvens abaixo e se afogou no mar revolto das tuas inseguranças? Resta-me abandonar o barco antes que se afogue a última lembrança boa que guardo de ti.
Despossuir-te custou-me a posse de um vazio infinito, de uma solidão incapaz de deixar-me sozinha comigo mesma. A tua falta me habita como qualquer órgão que me mantém viva na armadura do corpo.
Teu nome... basta ouvi-lo, e meu olhar abre as janelas da manhã para que se faça dia corpo adentro e abram-se clareiras em meu coração escurecido de saudade.
Nunca se desiste totalmente de um amor a quem se disse adeus racionalmente. Fica, em algum compartimento da alma, um desejo de ter tomado a decisão errada; fica no coração uma sala desocupada e silenciosa onde se vela um morto que não pode ser enterrado.
Tu plantaste o deserto em minha alma e agora queres colher flores? Soterraste a minha esperança de primavera e agora ressurges no outono, para que eu veja que mudaste? Posso até ver, mas jamais volto a enxergar quem um dia jogou areia nos meus olhos.
Chega de pretéritos imperfeitos ou de futuros do subjuntivo. Agora só conjugo o verbo amar no presente do indicativo!