Agostinho Lima da Silva
BARBIE
Conheci uma Barbie em tamanho natural,
Que, de tão bonita, superava e ofuscava a original.
Sim, conheci uma Barbie que tinha o olhar penetrante.
Era impossível aos comuns não admirá-la, de forma, estonteante.
Ela era uma mistura equilibrada da deusa grega Afrodite;
Com a candura quase angelical da Lady Diana, acredite!
Também tinha a sensualidade da Madona, sem qualquer vulgarice.
Por onde ela passava impactava uma legião de admiradores.
Mesclava aspectos díspares e enaltecedores.
Aquela mulher tinha uma beleza peculiar e nada universal.
Sua nobreza não significava a soberba do trivial.
Sua infinita e refinada inteligência
não vinha acompanhada de arrogância.
Suas palavras suaves, claras e precisas,
acalmavam as mais pertubadas almas e mentes indecisas.
Ela era assim, simplesmente, arrasadora;
Sóbria, introspectiva, avassaladora!
As mulheres jamais esquecem da primeira vez. Já os homens se lembram, vagamente, da última, se não há verdadeiramente amor e paixão.
Como pode a mulher ter sido criada a partir da costela do homem, se é ele que nasce das entranhas dela.
A DOCE ILUSÃO
Para os intelectuais haverá sempre um paradoxo existencial: a caracterização da ilusão. Dotados dos meios suficientes e necessários na identificação desta possível armadilha, os afortunados doutos podem, por vezes, almejar a condição de vítimas consentidas dela, a doce ilusão.
A filosofia e o cienticifismo são implacáveis em refutar qualquer investida da ilusão. Por vezes, este rigor embota os sonhadores, prejudicando o desenvolvimento destas disciplinas. A ciência quer modelos formais que expliquem aquilo que pode ser observado. O artista, o poeta quer tornar belo o inexplicável, o imponderável. A desconfiança do óbvio é o pressuposto básico da filosofia. A fenomelogia dá o arcadouço necessário a ciência que a utiliza na descrição dos seus métodos de estudo.
A grande virtude dos afortunados doutos reside no poder da escolha entre ser feliz ou ter razão, quando esta condição conflitante se impuser. Sendo erudito ele pode optar. A maior das arrogâncias é querer ser feliz sempre ou ter razão sempre. “Afinal a vida é isso, e um pouco de fantasia não faz mal a ninguém”. Assim escreveu uma linda cientista, quem ousaria discordar dela?
Agostinho Lima-072200Set11
QUEM TEM O PODER?
O poder é a capacidade de dizer sim ou não quando toda lógica contraria a decisão tomada. Sempre há um ponto de inflexão, que a partir do qual não se pode mais voltar atrás. Há aquela oportunidade perdida para sempre, que resulta no arrependimento incurável, na maioria das vezes, gerado por uma atroz omissão.
Somos condicionados a cultuar o não. Os heróis são seres, predominantemente, estóicos. O sim fora foi, é, e, será sempre pecado, e sua natureza intrínseca é a culpa. Para que serve um navio que não sai da calmaria do porto seguro para não enfrentar o mar aberto, por vezes revolto? Não arriscar nada significa também não ir a lugar algum.
Agostinho Lima
VESTAL IRROMPIDA.
Umbrais castos consentidos.
A vestal incólume destrona-se.
Prazeres são descortinados.
Trombetas tocam o deslumbre.
Surgem mundos esplêndidos.
O prazer justifica atos livres.
Afloram sentimentos adormecidos.
Sem melindres, nada torpes.
Quero seu contexto único.
Tudo nele resplandece.
Quente inquieto úmido.
Sua voz rouca me emudece.
Desenvoltura que deixa tímido.
Do universo, o homem mais alegre.
Agostinho Lima-25Out14-23:17h
RENASCIMENTO
Espera me, assim, lascivamente.
Nosso encontro porá fim.
Na insatisfação dos desejos da mente.
Os mais íntimos e indecentes, enfim.
Não sintas vergonha de nada.
Põe para fora, tudo.
Abre qualquer porta fechada.
Sai detrás deste cruel escudo.
Toda nudez será recompensada.
Teu grito de prazer será o mais agudo.
Aquele do fundo da alma lavada.
Arrepende-se deste mundo mudo.
Sente-se, verdadeiramente, amada.
Por alguém que te quer e te procura, muito.
Agostinho Lima
MINIMALISMO
Saúde, família, parentes, bens, amigos, trabalho, enfim todas as coisas que as pessoas adquirem ao longo do tempo vão se tornado desprezíveis diante daquilo que ainda não podem ter. A cegueira reinante é produto de um trabalho profissional articulado pelo mercado para que todos virem consumidores contumazes e irracionais. A felicidade é uma condição do ter que se extingue com a posse.
A funcionalidade que pode atender a uma determinada necessidade dentro das possibilidades econômicas, financeiras e mesmo intelectuais de um grupo, muito pouco importam neste processo doentio, meticulosamente, imposto.
Na China, na montadora do Iphone, os trabalhadores estavam cometendo suicídio por não terem dinheiro para adquirir o aparelho que eles fabricavam, mesmo após anos de trabalho quase escravo. O “problema” da Apple veio à tona, e como podia atrapalhar os negócios, seus executivos resolveram a situação com um programa de sorteios de unidades para os funcionários mais produtivos. A produção aumentou e os suicídios atribuíveis à incapacidade de se possuir os celulares mais famosos do mundo, pelos operários da fábrica, não se justificavam mais. Eles se matavam por outro motivo. Afinal, a mão de obra abundante e muito barata, por razões óbvias, não podia ser desprezada. Sabe-se que naquele país, o salário é de trinta dólares mensais para quem consegue emprego formal. Para os consumidores do Iphone no resto do mundo, e, sobretudo, para os investidores da empresa que relevância esta questão possui?
A cidadania, de outrora, é coisa retrógrada. O cidadão morreu. No seu lugar está o consumidor desenfreado e desvairado, que quer coisas que não precisa. O mercado transforma sua vida num inferno sem fim. Por ser apenas um número de cartão de crédito, CPF, Indentidade Funcional, e outros códigos que lhe dão a sensação de status e poder de ter ainda mais.
A vida transformou-se numa encruzilhada: ou seguimos a manada humana que se auto impõe a destruição por um consumismo nefasto ou tentamos salvar a terra com seus recursos escassos e finitos consumindo aquilo que seja essencial à existência, adotando o minimalismo.
A pergunta que se faz é: há tempo ainda para a existência das gerações futuras?
Agostinho Lima-22Mar2014
MAGNÓLIA
Imagine a vida sem pecado.
Sorriso desprovido de malicia.
Olhar carente sem brilho.
Corpos desnudados sem carícia.
Antítese do confortável morno.
Fervor do vulcão que explode.
Lavas que escorrem do âmago.
Flor bela e despudorada eclode.
Não se entrega a ela pela metade.
Como fugir dos riscos do inferno.
Se lá não se respeita a sobriedade.
A magnólia não é flor de inverno.
Pelo contrário, verte sagacidade.
Atrevida sem limites, um sonho.
Agostinho Lima- 260120Jul14