Adson Guedes
Vivias implorando por chuva, num forte calor amazônico que fazia escorrer suor no teu rosto devasso, que hoje se misturaria as lágrimas daquela lembrança.
Nessas idas e vindas, caminhando sobre tábuas, eu estou acostumado com a beleza dessas plantas; as vitórias-régias são lendas que atiçam o meu intelecto.
Tudo que é sublime e rústico traz nas suas curvas os traços poéticos necessários para a inspiração e a construção de uma obra de arte.
"....uma selva desconhecida, cheia de detalhes com espinhos, flores, folhas novas e velhas; ando descalço sem medo, porque a essência é boa e a paisagem encanta...."
O olhar do sublime percorre cada traço censurável dessa natureza desconhecida, cuja areia é branca e as águas me afogariam.
" Não é de um coração pecador e livre que tu deves desconfiar. Toda alma que transparece puritana, maqueia seus corpos perfeitamente para iludir a sociedade"
" Vivemos o suficiente para fazermos alguma diferença neste mundo. O problema não é a morte, o grande perigo é ela chegar e não ter mais nada pra matar..."
(...) Ela estava longe dos meus beijos e da minha pele, mas não das minhas mensagens e da minha voz - as noites eram fatigantes - em um único dia, conversávamos muito, conhecíamos tantos lugares; conversas que sempre invocavam a esbórnia; a distância impedia meus dentes de tirar sua calcinha de renda vermelha, com detalhes pretos, que davam cor e vida a um fogaréu ambulante de coxas macias, entretanto, para quem pisa no mesmo solo e vive debaixo do mesmo céu, tudo é uma questão de tempo e prioridades; eu não tive escolha; não existem obstáculos quando o homem está dominado pelo seu instinto.
" Tu conheces aquela lenda que o povo conta, dos pescadores sendo levados para o fundo do rio por uma mulher, depois de
matá-los afogados ? tu pareces uma delas com estas pernas e estes olhos que me prendem. Quero morrer paulatinamente entre os teus seios..."
"(...) você não é minha, meu bem.
Você é livre! mas, se decidir ficar. Vamos sair para beber, falar um bocado de bobagens, sorrir um pouco e foda-se o resto"
" Eu sei que você não é nenhuma santa, meu bem.
Levamos uma vida libertina e por causa dela, somos muito cobiçados, mas também estamos condenados à solidão. Mata-me com os teus truques de sereia e vamos viver juntos; uma história de dois canalhas irresistíveis."
Esse olhar não se encaixa em ti, boneca.
tua doçura é evidente, mas há mais do que se vê.
Sinto que por trás desses olhos tímidos, há uma sinfonia de histórias
mal contadas, mal acabadas
Sinto que por trás desses olhos introvertidos
residem desejos imundos
pecados absurdos
vontades que só o álcool poderia desvendar.
Eu sou o livro proibido,
banido em muitos países
repudiado por muitos,
alvo de olhares hostis e de falsos pudores
sou o livro que te desafia, que te faz desaprender...
em poucas livrarias me enfeito, esquecido pelos deuses, abominado, sou renegado,
mas sou acolhido por ti.
Belos lábios, rubros e carnudos
vestidos com batom vinho
um beijo teu no meu pescoço
descendo até meu peito, na minha barriga e, por fim, na cabeça entregue ao êxtase,
deixaria o teu rastro visível até mesmo da lua.
Oh, maldito tempo, traiçoeiro, que desbotará a pele do teu rosto
que desarmará o fascínio do teu sorriso
tempo este que te roubará a juventude
mas enquanto caminharmos sobre este chão de lama
enquanto respirarmos o ar poluído desta vida.
perto ou longe, nos braços ou na ausência da minha cama
toda a beleza dos traços que hoje me inspiram,
estará guardada em algum canto escuro da minha memória.
No que sei e na tua certeza
as gotas de orvalho que caem das folhas
são como os rios de suor que escorrem
das colinas do teu corpo em noites de chuva.
Não guardes de mim
apenas flores, querida
nem poemas sacanas
a cada instante.
o amargo também se faz presente.
Quero te amar
Desejo te entregar ao meu lado mais sombrio
afogando-te em um rio de humilhação profunda
elevando-te aos céus, num delírio divino e, simultaneamente
rebaixando-te ao patamar vil da mulher descartada
mas ao lançar meu olhar
quero presenciar o desvario, a insanidade das gargalhadas incontroláveis tuas, com o rosto encharcado de lágrimas douradas do meu eu mais sádico.
Deus é amor
Deus é como o amor que surge quando a paixão amadurece, invisíveis, intocáveis, apenas sentidos,
pois ambos são fabricados nas profundezas do cérebro.
A questão não é o céu ou inferno,
o problema é a multidão que habitará, as mesmas figuras daqui,
e a tortura será eterna.
Você não precisa da morte para compreender a inexistência,
pois já caminha sem vida
nas vielas do caos, nas aldeias abandonadas,
em cada vilarejo,
em cada povoado,
onde teus pés nunca pisaram
onde desconhecem a tua existência.
Eu sou a sombra que te acaricia na calada da noite.
quando a brisa adentra pela janela e sopra pelo quarto
ossos de vento que sussurram ao teu ouvido.
Eu sou a sombra que te observa nas horas silenciosas da madrugada
quando um objeto cai e um vulto se desenha, despertando a inquietude.
Não enlouqueça, meu bem, sou eu, testemunhando tua nudez na cama.
O poder, a essência do mal
crianças correndo, uma figura política, a corrupção personificada, outra, a sombra de Hitler em seu tormento.
meus olhos ardem, testemunhas de uma realidade distorcida.
Fomos adestrados a conviver sob o julgo das armas.
Agora, me vejo sob a mira dos teus olhares, rendido ao domínio dos teus saltos...
Não preciso de moedas, guardo pessoas na minha carteira.
Nossa, que intrigante contemplar a terra de um outro planeta distante!
ela brilha como uma estrela solitária, em meio a um vasto tecido de escuridão,
repleta de criaturas, flora, oceanos
e um monte de idiotas.