Adriana Carvalho Adam
Fotografar é transformar notas musicais em imagens. É enxergar pelas frestas dos cílios as cores das palavras inaudíveis. É ver uma imobilidade emoldurada pela história dos dias e pela soma dos tempos. É desenhar uma emoção com a luz.
A espantosa semelhança entre o macro e o microcosmo sempre nos leva refletir.
Somos pequenos universos, tão perecíveis, supostamente oriundos do macro, ou seria o inverso, infinita e eternamente perplexos, ante tantos mistérios que nos rondam.
Que importância nós temos para essa imensidão de energia que pulsa? Somos parte desta energia, dizem.
Como?
Observo a matéria inerte que apodrece após a morte. E grita o contraste com a manifestação que ali havia, desta matéria, repleta de vida.
Havia algo bem mais vivo, ali. Infinitamente mais inexplicável que a carcaça que habitou.
Que equação misteriosa é essa, tão difícil de decifrar, que poderia nos fazer ver o que hoje não conseguimos, com esta rudimentar capacidade de entender esse mistério que nos cerca? Melhor mesmo é seguir sem entender. Aceitar o mistério eterno. A resposta deve ser muito óbvia. Bem por isso não a enxergamos... bem por isso contemplamos o céu em eterna interrogação... Ajusto o foco, apenas mais dez cliques pra garantir a captura. E só mais um gole de vinho. Hora de juntar tudo e aterrisar.
O que é beleza pra você?
Um jeito de olhar
Um modo de sentir
Ou a maneira de pensar...
Um salto e um Chandon
Aquela música e o luar
A cor do edredom
Nuance que faz voar
O que é belo, afinal
Se beleza é simetria
E o simétrico é raro
Que tal a simpatia?
Beleza é no fim
A soma do intangível
É algo que toca, assim
No âmago do invisível...
O belo é, um saber multiplicado
Saber-se gente, com mais a ouvir
Do que tanto a ser falado...
(Adriana Carvalho Adam)
Fogo e mente
Toda mente precisa de calma
Todo fogo precisa de alma
Toda mente precisa de alma
Todo fogo precisa de calma
Os rituais em torno de uma fogueira são significativos. Para quem se permite sentir, perceber.
Em torno do ato de montar uma fogueira e cuidar do fogo para que não apague, há uma sinergia que evoca a presença do grande espírito, o sagrado em si mesmo de cada um.
O som dos tambores no ritmo do coração, nos conecta com o princípio de tudo, com o céu acima da cabeça e a terra abaixo do pés descalços.
A dança das labaredas hipnotiza a medida que a madeira queima e libera seu perfume purificador.
A mente em sintonia com o fogo, vibra na frequência dessa luz e reconhece o tamanho do seu poder.
A consciência se ilumina.
Os guerreiros estão de pé.
Adriana Carvalho Adam
Mentes ocupadas não encontram tempo para pensar naquilo que não devem. Não sentem aquilo que não querem. Não abraçam tristezas, nem sentam com as lágrimas.
Morte, saudade, vida...
Vida que sempre exige tomadas de decisões sem muito tempo para pensar.
Vida que gira, em ângulos inimaginados, e te pede, sempre, para decifrar e seguir.
Eu, sempre desafiei o destino,
descumpri rotinas, inventei caminhos,
desobedeci.
Subi pelos telhados,
Me pendurei em precipícios
sem me preocupar se eu ia cair
ou se ia voar...
Apostei com sangue, contei com a sorte, acreditei.
Fui nadar sem medo em águas desconhecidas, desbravando a cada braçada um novo sentido.
Subi e saltei de árvores e montanhas como um pássaro que carrega no instinto a urgência de viver...
E cada voo, ou mergulho, me mostrou que seguia, não a razão e a lógica matemática,
mas sempre a intuição
e a verdade visceral, expontânea
do ser infinito
que em todos nós habita...
Eu confio nesta voz, interna, que traz reações físicas, impossíveis de dissimular.
A verdade sagrada do corpo.
Que se mostra pura e liberta,
tal como deve ser.
O pulsar da vida no peito.
Adriana Carvalho Adam
Desvelanças...
Escolhas ao vestir, panos, cores e formas, poesias de um corpo.
Corpo coberto, que se faz livro aberto, em cada detalhe, subtraído ou adicionado, com claras mensagens, quer queira ou negue, que vão comunicar.
O quê? O que você sabe e o que ignora. Por onde andou, o que enxergou e o que não viu.
O jeito que tece, as tramas de sua alma, que aflora e descostura, mesmo quando, se encolhe e nem escolhe.
Até isso, comunica, uma decisão. A que desnuda, sua mais sutil tentativa, de cobrir, o que na verdade, quer revelar, de um jeito adivinhado, por puro desejo de querer ser, assim, notado sem pedir,
reparado.
Adriana Carvalho Adam
#comunicaçãovisual #linguagemdocorpo #moda #semiótica
Manter os olhos bem abertos é uma questão de sobrevivência. Curioso observar os que fazem o contrário. Sobrevivem às custas de manter os olhos bem fechados.
Acredito que exista alguma espécie de Deus no universo. Uma sabedoria. Uma energia sublime. Um mistério ainda não decifrado.
Mas não acredito em religiões.
A disciplina “Religião” , deveria ser substituída por Humanismo nas escolas.
Orientar a criança a ser gente, ensinando sobre empatia e respeito.
Respeito ao semelhante e ao diferente.
Sem doutrinar. Sem cabresto.
A religião, ao meu ver, cria muitos fanáticos. Promove histeria. Divide. Ilude. Paralisa o discernimento. É um ópio, vende acolhimento. Vende.
Vende demais.
Orar reconforta, sim, mas porque ao orar a pessoa automaticamente promove uma meditação e isso acalma e reconforta.
Porém; somente a sua energia mental, somente o seu posicionamento perante a vida é que vai atender aos seus silenciosos pedidos ao orar!
Sintonia de energias. Fé. Lei da reciprocidade. Lei da Atração.
Não tem um “velhinho” bonzinho ou tirano, sentado lá em cima te ouvindo, ou decidindo quem morre ou quem vive, quem ele livra ou faz pagar! Não!
O que existe é o pulsar da natureza. Implacável. Veloz. Finita.
O tempo.
Quem determinou que o tempo fosse contado, e dividido, em horas, dias, semanas, meses e anos, teve uma ideia organizacional muito boa! Imprescindível! Além de organizar, conseguiu algo muito mais importante! Renovar a esperança, antes que chegássemos, ao limite da exaustão, após doze meses de trabalho.
Porque essa tal “passagem do tempo” por nós, na realidade, não existe. O tempo é um fugitivo incansável. Nós é que passamos por ele, que placidamente, nos ignora! O universo nos ignora, nós é que o admiramos e interrogamos, em nossa infinita perplexidade. E essa astúcia criada por alguém muito sábio, de fim de ano, e votos de renovação ajuda. É muito. É só um artifício, uma ilusão, que nos traz um fôlego, uma vontade de trocar a roupa da alma e recomeçar como se fosse a primeira vez. A primeira vez! Com toda a sua mágica e mistério! A primeira vez que se faz amor com alguém, o primeiro beijo! A primeira vez em um novo lugar, com uma nova roupa! O primeiro olhar, a primeira vista.
Toda primeira vez é embalada com atenção, cuidado, magia e amor. Por isso reinicia-se. Por isso a necessidade visceral de reiniciar. Ano após ano. Como um marco. Como uma estaca enfiada na terra, que sinaliza, o que ficou para traz e a novíssima página todinha em branco para se desenhar a vida. Como um portal para uma nova, única e fresca, primeira vez!
Adriana Carvalho Adam
A fotografia é, também, um recurso poético. E a fotografia feminina, por si só, já é uma poesia. Um simples recurso, enquanto sistema de captura de uma imagem. Um poema completo, quando, sob a luz do ângulo perfeito, capta, além da imagem, o âmago do não dito, a nuance de uma silhueta, as asas de um olhar que voa, livre, no perfume do mais belo voo de sua alma.
A semiótica, em sua produção de sentidos, de significados, e da criação de uma imagem, que se configura através da análise do observador e do que é observado, nos mostra o quanto a fotografia é uma ferramenta poderosa para a auto percepção do ser humano. Com poderes absurdamente terapêuticos. Enquanto fotógrafos, ajudamos o outro a se descobrir através do nosso olhar. É terapêutico, é sinergético e tem o poder de curar. Se uma imagem se produz no seu cérebro após ver algo, é tudo explicado pela semiótica, esta ciência de todas as formas incríveis da linguagem. Por isso para cada ser humano, o significado de uma imagem produz diferentes percepções. A interpretação de um texto também. Ao fotografar uma mulher que se dedicou uma vida inteira a cuidar do outro, ela me disse, que tinha, certeza, de que não estavam ficando boas as fotos. Era uma externa. Ao pôr do sol. Parei por um instante, mostrei no visor o que eu estava vendo, uma captura que havia acabado de fazer dela. Ela se espantou. Chorou. Me disse, essa sou eu? E nesse momento, nesse exato momento, ela se vendo, ali, crua, sem edição, somente ela ao sol, foi ali, bem ali, que algo mudou, que uma chave virou, para sempre. Ela se ressignificou. Pois se permitiu. A imagem que ela havia formado de si ao longo dos anos, não vinha do olhar dela, e, sim, da falta do olhar do outro que a legitimasse como bela. Como seres sociais que somos, precisamos sim, além do espelho, daquele olhar que acolhe, daquele olhar que não julga, e nos devolve à nossa essência. E ali ela se viu. Solta e bela. Coberta pelo sol e pelo amor.
Adriana Adam
RP 3694
Fotografar é também um abraço. Um abraço com a luz. Muito além do exato click. É sintonia. Ritual. Caldeirão mágico. Os temperos são colocados um a um. E no final, a revelação, quando quem fotografou e quem foi fotografado se refletem. Com os espelhos do olhar. E esses espelhos só refletem o melhor, em conjunto com o coração. Então ambos se renovam e se engrandecem e alcançam um outro estado de percepção de si e do outro. Fotografar é movimento eternizado, grafado no tempo. É quando se descobre o mais belo ângulo de um corpo. Que se move. Que faz um bailado e se encaixa em si mesmo. Em poses e transes. Entre luzes e sombras. Fotografar é entrega e compaixão. É desnudar-se e desnudar. É vestir-se de si e do outro. É entender a perfeita imperfeição e sua beleza única. É ver. É perceber e enxergar a incrível arte que se descortina em simples mãos bem direcionadas. É composição. De detalhes ínfimos. Fios de cabelos. Braços que giram e se encaixam. Se encontram, e se abraçam. Fotografar é um grande abraço de luz.
A resposta segue no vento, segue no vento, flutua, gira, vai e volta, faz piruetas.
A resposta nem existe, tudo flui, tudo se transforma, o vento chega e o vento vai. O vento que traz é o mesmo que leva embora. Nossa passagem é como o vento, e nele está a metáfora para as respostas. Elas não existem porque fluem, se transformam em outras e outras e o sentido de tudo é o amor que damos, o amor que sentimos, o bem que fazemos e a nossa breve passagem, tal como o vento, tal como um perfume, que se lança, e que dura o tempo de se sentir.
Adriana Carvalho Adam
25.08.2023
O que eu desejo pra ti, é que no silêncio de um momento só teu, tu olhes com todo amor para ti mesmo, para o teu coração, para os teus braços, para as tuas mãos, para todas as tuas lutas e para todos os teus caminhos, que te trouxeram até aqui, e vejas o quanto te diferencias dos que só contemplam e não realizam. Eu desejo que tu olhes e realizes na tua mente tudo que conseguisse, corajosamente. Eu desejo que te orgulhes muito de ti mesmo, e que mantenhas sempre a bondade e a generosidade junto de ti. Eu te desejo, principalmente, olhos bem abertos e gratidão para tudo de bom tu tens em tua vida. Tua família, que é teu apoio e amor maior e teu trabalho que te dignifica e enobrece dia após dia. Eu te vejo como um ser que tem ousadia e se recria e reinventa todos os dias. Teu trabalho é poesia e arte, assim como a arte que é todo o teu corpo, esse também, desenhado e assinado por ti.
Fotografar é um abraço de luz. É quando a luz contrasta e envolve. E revela o que não se sabia. Porque a luz mostra. E se consegue deixar para sempre visto, aquilo que muitas vezes passa despercebido ao olhar. Só a fotografia consegue nos mostrar nuances e ângulos mágicos, na exatidão da leveza de duas gramas, assim como um vento, uma brisa, que passa e nunca é a mesma, um segundo de um frame de vida, gravado para o infinito e além, muito além do que se pode sonhar.
06.07.2023
Deus é um mistério, uma energia e inteligência indecifráveis.
Mas ele se revela através das pessoas. Esteja atento as pessoas que Deus usa para te abençoar.
Às vezes ele usa você para entregar a alguém. E outras ele usa alguém para te enviar essas bençãos. Elas são enviadas por Deus. E entregues de muitas maneiras sutis. Coincidências. Conexões. Através de algumas palavras. Um abraço. Um sorriso. Um diálogo. Uma compreensão. Um olhar.
Há pessoas que te entregam uma chave espiritual que te abre fronteiras mentais. Outras te apresentam a pessoas que mudarão sua vida para sempre. Outras te inspiram, e te conduzem a mundos diferentes.
Às vezes você ganha algo inesperado e que faz mais feliz os teus dias. É através de nós, uns para os outros, que Ele consegue tocar as nossas vidas.
Adriana Adam
O espelho de uma alma são os olhos e o espelho desses olhos são as minhas lentes que capturam para sempre muito além do corpo físico. Uma alma só brilha e dança, solta, só se revela, quando o corpo relaxa e se admira, se gosta, se aceita, se ama. Então a mágica acontece, e, através da comunicação física da matéria, emerge o espírito, a luz, a verdade, a magia, que no exato instante, é eternizada pela fotografia.
Ah, o tempo. O tempo. Sim, ele passa. Veloz. Mas, em sua passagem, ele mostra, ele cura, ele desvenda os mistérios. Ele junta e ele separa. Ele atrai e ele repele. Ele é reto e é curvo. Ele te afasta para longe para te mostrar o que não podias ver de perto. Ele é uma lupa, que te faz enxergar melhor. Ele é medicinal. Ele é, O tempo, e o vento…