Adolfo Casais Monteiro

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Pingos de Chuva

Caem,

gordas, sonoras,

monótonas pingas de chuva,

- espaçadas -

e indolentes

vão marcando uma toada:

ping pang – ping pang,

as pingas

chuva de Outono pardo.

Espapaçada

a terra mole absorve

as vagas de chuva densa

que lenta

vai caindo,

em pingas grossas,

sonoras.

E ao cair,

a chuva bate o compasso

com o som dum contrabasso…

ping…

pang…

ping…

pang…

Inserida por katiacristinaamaro

Permanência


Não peçam aos poetas um caminho.
O poeta não sabe nada de geografia celestial.
Anda aos encontrões da realidade
sem acertar o tempo com o espaço.
Os relógios e as fronteiras não tem
tradução na sua língua.
Falta-lhe o amor da convenção em que nas outras
as palavras fingem de certezas.
O poeta lê apenas os sinais da terra.
Seus passos cobrem
apenas distâncias de amor e de presença.
Sabe apenas inúteis palavras de consolo
e mágoa pelo inútil.
Conhece apenas do tempo o já perdido;
do amor
a câmara escura sem revelações;
do espaço
o silêncio de um vôo pairando
em toda a parte.
Cego entre as veredas obscuras é ninguém
e nada sabe— morto redivivo.
Tudo é simples para quem
adia sempre o momento
de olhar de frente a ameaça
de quanto não tem resposta.

Tudo é nada para quem
descreu de si e do mundo
e de olhos cegos vai dizendo:
Não há o que não entendo.