Adelium Castelo
Não quero revolucionar o mundo com as minhas ideias, mas quero só ver quem no mundo as poderá revolucionar.
Nada mais do que te debruçares no campo inimigo para entender o seu perigo. Não te proíbo, é um mal necessário, mas não obrigatório de se ter. Escolhas nos acompanham e são duras. Apenas digo: força irmão ELA voltará!!!
Quem soltou a águia?
A águia foi solta,
E junto seguiam outras rapinas,
Engana-se quem crê na ausência de alvo.
Trovejam os canos metálicos
Ribombam os mais grossos
Cambalhotam as andorinhas.
Desta insolente investida
Safaram-se as de cabeça emiscuida na terra,
Mas também os urubús no fascinio pela tribulação.
Ai! Ai! Tulipas negras, minhas verdadeiras paixões
Jamais reviram seu brilho.
Até o beijo-da-mulata, virou de mestiço a beijo negro.
Em meio a tanto
Só as águias, procuravam enaltecer a razão da mente dos corvos,
Enquanto as andorinhas entocadas no desespero,
Compartilhavam dormitórios com as raposas.
Sonho
Tenho sonhado sempre contigo
Esperando sonhares comigo
Sonho com o sonho
Pois tu não és mais que sonho.
Assolas sempre o meu sonho
Pois te fazes homnipresente, oh! Meu sonho.
Te quero tocar e parar o sonho,
Mas como? Se tu não és mais que sonho.
Queixo-me de quem te fez sonho
Pois a ti sonho, não me oponho.
Deixa-me tocar-te, proponho,
Vontade tua eu tenho.
Pois tu não és mais que sonho.
Lamúrias de um sem tecto
Nas manhãs de inverno/ as pessoas passam por mim/ como as águas no litoral/ sou invisível aos olhos do mundo e do tempo/ quiçá... Quiçá visível aos olhos de Deus./ sirvo de tapete para os ricaços/ na entrada das lojas./ Onde irei reclamar?
P´ra onde se foi a minha alegria?
Que vida é esta em que somos acoitados pela penúria?
Até quando tanta miséria?
Onde irei reclamar?
O impudor do avanço
Anafadas mentes
Sempre formaram andarilhos urbanos
Antagônicos ancestrais
Feitos anátemas pelo impudor do avanço.
O estático impressiona
O progresso ilude
Do sonho a vida nasce
Da realidade acabrunha-se o seu mentor.
Desconceituada a moral
Esperneamos no casual encontro connosco
Fitámo-nos incrédulos
Vaiamos do remoto estágio
Aplaudindo o impudor do avanço.
Histórias banais
Discutimos nós
Sobre tudo e em nada tocamos
Conhecemos tudo
E ignoramos o óbvio!
Somos todos um,
E num somos um todo saído do uno.
Livros enganosos
Nutriram sempre nossas pacatas mentes.
Ah! Martirizante vácuo de inteligência ignorante,
Petecas nas mãos das circunstâncias.
Acenamos ante o dito superior
A quem sempre nos submetemos…
O ganho da perda
Entende-se a vida como de ganhos e perdas
Perde-se justamente
Até mesmo injustamente.
Ah!
Que dor alegre!
Venci e perdi em simultâneo
Tornado indigno da própria invenção.
Mercador mensário
Mestiço na própria alegria
Vença quem vença
Alegre-se o mentor indigno.
Consola-te amigo
Tenho te visto
Andando só, mas acompanhado
A vida tirou-te os pais
Sobrou-te apenas a solidão
O zelo dos teus protectores atirou-te na miséria.
Que fizeste?
Nada mais do que nascer
Sem conhecer os ditames da vida
Sinónimo de desgraça absoluta.
Assim te sentes?
Quero que sentes…
Pense que no que pensas, mentes
Consola-te amigo, pois sinto o que sentes
Junta-te a mim
E… duas almas vagando sem rumo
Nos tornaremos uno.
Identidade desconhecida
Sou um poeta mirim
Desejo ser o sol no seu clarim
Cultuado ao som do tamborim
Nas suas belas sinfonias com o bandolim.
Filho bastardo deste país
Vagueando em veredas obscuras,
Da noite sombria, fruto da ilusão,
Da iluminação da luz solar,
Do dia que só se resume em sombrias trevas amenas.
Ando contente
Sou das ruas o agiota,
Alimentado diariamente pela fome imposta.
Choro ante o reflexo das minhas lágrimas
Que me exoneram numa ilhota.
Nada falo ante os que me chamam idiota.
Vida!
Vida, vens em canções
Sem Manual de instruções.
Não seria tão mais fácil?
Na seria minha acção ágil?
Ajude-me a compreender-te
Pois só a ignorância te ofereço.
Tornaste-te incompreensível,
Pergunto, qual filósofo sensível:
Porquê? Porquê?
Todos por ti choram
Mas de ti também reclamam,
Por acaso alguém te vê?
Competição!
Tua existência conturbadora
De amizades tornou-se destruidora
Pra quê?
Sugestão tua, ninguém vê.
Tornou-se maior a tua procura
Mesmo em mente iluminada e escura.
Indigna-me tua existência,
Pois a ninguém ofereces paciência.
És a causa do bem maléfico
E tanto mais apaixonado fico.
Agradeço a tua existência,
Ensina então a prudência.
Manhã sonâmbula!
Levantei cedo procurando o canto do galo
Não o ouvi
Pois o serralheiro já se havia levantado
Procurei então ver a estrela da aurora
Não a vi
Pois o oleiro também se havia levantado
Pensei então em voltar a cama
Tarde demais
Era inverno e o frio já lá estava.
Que faço agora?
O canalizador se havia atrasado
Na sua água encontrei a cura,
Estava sonâmbulo.
Transtornado por viver dependente da Independência dependente do meu país.
Quanto valho?
Talvez a virilidade de um chofer
Comparado a solidão do marinheiro no recife
Talvez o tilintar de uma moeda
Nada valioso em relação ao mudismo de uma nota.
Talvez a penumbra trazida no inverno
Rápida e bela visão ofuscada pela noite sombria.
Talvez o insaciável desejo do alvo
Mas eu caço apenas amoricos.
Será que nasci para aumentar o desapontamento do bolso político?
Será que não sou mais que um manequim ambulante,
Pobre mudo em campanhas publicitárias?
Deixe-me provar das migalhas da tua mesa
Talvez robusteça para melhor procurar o meu valor.
O meu ser poeta
Poderás até não entender
Poderá parecer que entendeste
Do teu entender, vão lacrimejar os olhos
E dos olhos te arrancarei a compaixão.
Não são ditos imaginários
São imaginações enraizadas no real.
Tristes fascínios em letras,
Que correspondidas farão da tristeza a alegria das ruas...
Amanhã foi hoje e ontem o amanhã,
Condoendo-me com os outros,
Faço do sofrimento quase perpétuo,
A alegria das letras, eternas vivências.
Já devias ter percebido que te consultei para ter uma diversidade e não uma divergência de pensamentos.
Todo mundo canta e chora o amor perdido, mas nunca ninguém pára p'ra pensar que voltar atrás seja a solução!
O desvanecer do meu EGO!
Nascido debaixo dos contentores
De entranhas nutridas pela penúria
Confortado pelo calor das sobras
Espraiado para meu único banho.
Acoitado pelo manancial da miséria
Treinado a amealhar dissabores.
De todos, indiciado maninho
Fazendo da esperança minha mantença.
Minha existência é ínfima como no nipónico
Quero do fulgor do meu pensamento
Uma atalaia à minha tribulação.
A dor de um mestiço
Encontrei hoje
A alegria e a tristeza de ser o que nunca serei.
Meu Deus!
De novo a culpa recaiu sobre mim.
Juro que não fui eu quem mexeu
Na mudança desse autocarro a que chamam vida.
Quem dera ser negro ou branco.
Quem dera ser um pão colorido?
Teria ao menos o apreço da maioria
A quem Samora diz que nunca murcha.
Caído e recaído em cantos e recantos desta sociedade abominável.
Os teus olhos
Só desvendam em mim, culpas desconhecidas e inexistentes!
Serei eu culpado pela prostituição dos teus olhos?
Bastará o teu carinho passageiro para amainar a raiva deste miserável mestiço?