Adauto Junior
Minha rede
Quando era jovem, bem jovem, dormia todos os dias da minha juventude em uma rede quentinha, confortável e forte. Lembro que me balança bastante nela. Ah, como era bom, como era divertido. Balançava alto, cada vez mais alto, quase que dando uma volta completa no ar. Lembro também que eu me enrolava dentro dela, todo o corpo dentro e coberto, quase que como uma casa. Ela era resistente a tudo, inclusive a mim mesmo, e olha que eu exigia bastante dela. Sempre tomei o cuidado de tirá-la vez ou outra para lavar e secar, definitivamente era um cuidado sem igual. Brinquei bastante dentro da minha rede, descansei muito no seu interior, adormeci inúmeras vezes envolto por ela.
O tempo passou, e parece que aquela rede tão resistente, já não é mais assim. Começou a ranger, a desfiar. Perdeu um pouco da sua cor original também. Há que diga até que se trata de outra rede. Fico com receio de balançar muito alto, já não sei se ela suportaria as minhas alturas. Ainda durmo dentro dela, mas já não me enrolo como antes, pois tenho medo de puxá-la demais e ela soltar fios e criar pequenos buracos, acho até que ela já tem alguns, eu que ainda não os vi. Hoje levo um lençol para dentro para poder cuidar do frio. Ainda cuido bastante dela, mas confesso que tenho receio desse cuidado todo terminar deixando-a ainda mais velha e mudada. Dizem que lavar demais desbota e enfraquece o tecido. Isso é estranho pra mim, sempre pensei que fosse o contrário, inclusive em se tratando da minha rede.
Queria que ela me fizesse dormir como antes. Sinto falta daquela sensação...
Nos extremos de meu coração
Algo me atormentava
Uma mistura de medo e paixão
Que fazia meu peito extremecer
Uma vontade louca de
me apaixonar por você
Mas algo me impede
Talvez o medo de amar e não ser correspondido novamente
Ou então pelo simples fato do medo de falar
Tenho medo de criar expectativas e sofrer na pele tudo outra vez.