Abílio Rosa Jr.
Não vivemos mais em tempos de casamentos arranjados e mulheres submissas como há séculos atrás. Vivemos sim numa época de muito dinamismo, informação, tecnologia e liberdade. E com o amor não tem sido muito diferente. As pessoas escolhem seus parceiros, daqui a pouco trocam, ou são escolhidos, daqui a pouco são trocados, ficam, namoram, casam, separam, ficam, ficam de novo, e os amores e desafetos vão acontecendo neste acelerado campo relacional. Mas eu pergunto, e o coração pra acompanhar esse ritmo? Amores não retribuídos? A rapidez dos vínculos? Uma noite e nada mais? As expectativas não contempladas? Será que todos entendem o cenário atual, e bancam seus desejos e vontades? Prontos pra lidarem com qualquer desfecho? Eu me arrisco em dizer que são poucos. Tenho visto muita lágrima, angústia e confusão por aí. Gente descrente no amor, com receios de confiar e se envolver, e principalmente, medo de sofrer... O sofrer é fundamental para se ter mais maturidade afetiva, é nele que você tem a oportunidade de transcender você mesmo, com o tempo inclusive você vai ficando bom em aprender com o sofrer. O sofrer é inerente a qualquer relação humana, é o risco que se assume para poder estar com pessoas, alguém consegue viver sem um abraço, um beijo, sem amor, sem gente? Mas e o "coração blindado"? Um coração "aberto" para viver e aprender com o que a vida reservar no campo afetivo, bancar as coisas, aprender, sofrer sim, e acima de tudo, viver... Amar é isso, entrega, risco, intensidade, mas penso que pelo amor, vale a pena cada lágrima derramada, não? Não blindem o coração "para o amor", blindem "para amar"...
Quem almeja a felicidade no outro, corre grande risco de não encontrá-la. A felicidade não está, nunca esteve, e nunca estará no outro. Está em você, em como percebe a vida, e como se percebe nela. Os caminhos da carência, da fragilidade e da cobrança, dependendo do momento no qual nos encontramos, tornam-se muito sedutores, mas devem sempre ser mais do que evitados. Procure, pelo bem de sua saúde mental e afetiva, não ser dependente do afeto de ninguém. A outra pessoa deve vir não para completar um "suposto vazio existencial", e sim amplificar ainda mais a felicidade. Este é o caminho para construir um amor leve como se deve, pleno, livre, intenso e maduro. É não precisar do outro para absolutamente nada, duas almas livres, que simplesmente estão ali, uma ao lado da outra, porque não haveria nenhum outro lugar no mundo onde gostariam mais de estar, do que aquele...
Todos sentimos ciúmes? Sem dúvida. Todos sentimos aquele pequeno desconforto, uma certa inquietude diante de uma determinada situação. Mas quantos deixam pra lá e procuram lidar de uma maneira saudável, madura e aceitável? Quem nunca ouviu por aí "Ah, um ciuminho é bom, é sinal de amor!", e discursos do gênero? Calma, que não é bem assim... Pelo contrário, ciúme pode ser um sintoma, de que algo não vai bem. Isso, quando não adoece pessoas, e se transforma em algo patológico ao ponto de terminar em tragédias. Primeiro vale lembrar, que ninguém deve ser propriedade de ninguém, pessoas tem que estarem juntas porque desejam, não porque devem. Amor é querer, e não dever... O ciúme pode ser indicativo de várias coisas, dentre as principais, sexismos infundados, relacionamentos desgastados e inseguranças exageradas. O que mais me chama a atenção, é que na grande maioria das situações, o ciúme não é um reflexo da relação, ou de uma eventual falta de confiança no(a) parceiro(a), mas na falta de auto-confiança! E como construir uma relação segura e confiável, se você não acreditar nem em si mesmo? Não perca seu tempo monitorando os passos do outro, proibindo uma série de coisas, mendigando amor para alimentar as paranóias da insegurança. Se o outro quiser cometer algum "deslize", vai cometer, independente do que você fizer. O caminho para se fazer presente de verdade no coração da pessoa amada, é se amar primeiro. Investir em você, em ser alguém especial, diferente, marcante, sedutor, desejável, único, simplesmente insubstituível... Relacionamento de verdade é ser livre juntos, é ser e deixar ser...
Neste dia do trabalho, não poderia deixar de falar sobre uma das mais belas vocações da vida, simplesmente a mais gratificante que existe; o amar... Mas como qualquer outra "profissão", o amar requer muito treinamento, aprendizado, capacitação, vivência, experiência, empenho, esforço, e acima de tudo, sensibilidade. Amar é se trabalhar! O amor precisa de reflexão, comunicação, tolerância, paciência, alteridade, respeito, afinidade, amizade, habilidade, sentimento, tato, enfim, uma verdadeira infinidade de coisas... E o mais enriquecedor de tudo isso, é que com o tempo, você percebe que o mais gostoso do amor, o poético, o fluir e o deixar sentir, o ser levado, o se permitir, se torna cada vez mais intenso e singular, na medida em que você se empenha em vivenciar, se experimentar no amar...
Estava eu ouvindo uma querida amiga falar a respeito da dificuldade de se manter uma relação à distância. Ela me comentava, com ar de tristeza nos olhos, e certa melancolia no tom de voz, que não aguentava mais estar separada por continentes de seu amado, que não suportava a tortura da saudade, e não sabia mais onde encontrar recursos para lidar com a angústia dessa falta. Eu fiquei pensando em relação a essa "geografia do amar", em como todos podemos ser afetados por essa realidade a partir de um eventual desdobramento da vida, seja por questões profissionais, familiares, enfim, e de uma hora para a outra, se ver longe da pessoa amada! Não é fácil elaborar essa situação, gerir e nutrir uma relação à distância, mas diferentemente do que muitos acreditam, é possível sim preservar cada gota de amor, e manter uma relação "funcional", mesmo de longe... Vai exigir de cada um, muita estrutura, auto-confiança, auto-conceito, mente e coração bem resolvidos. Já da relação, vai exigir muita solidez, confiança, clareza, respeito, e acima de tudo, amor! O que importa de verdade não é estar ao lado, é estar dentro... O que é de verdade, o que é forte, vai superar a saudade, vontade, falta, lágrima, medo, e resistir a qualquer dificuldade, ou adversidade que se impor entre o amor... Quilômetros podem separar corpos, mas jamais almas e corações...
Nada mais bonito que um amor correspondido. Quando dois amantes se perdem e/ou se encontram um no outro, do mais alto ponto de seus corações, compartilhando da mesma grandeza de um amar, tendo seus corpos magicamente encaixados, e almas envolvidas por uma sintonia perfeita. Mas e quando o amor não é correspondido? Nada mais triste então. O amor é amar e sentir-se amado. Um amor só pode nascer, crescer, e viver, se ele tiver alimento. O amor pede abraços apertados, olhares apaixonados, e silêncios que traduzem "eu te amo". Amor tem que ter reflexo, o outro precisa ser um espelho no qual você se vê. Não está conseguindo se ver no espelho? O seu amor, é a jóia mais preciosa que você tem na vida, portanto, procure dar esta jóia, a quem estiver disposto a fazer o mesmo, pois amor de verdade, em sua plenitude, só acontece com entrega, entre duas pessoas que dão o mesmo valor ao amor...
Um verdadeiro sonho para muitos, que planejam desde criança este episódio de suas vidas, em encontrar um grande amor, e celebrar a união com uma cerimônia digna de contos da Disney. E um verdadeiro pesadelo para outros tantos, uns que procuram fugir aos compromissos de qualquer maneira, aqueles que já desistiram por não acreditar mais nessa possibilidade, outros que sentem-se extremamente cobrados pela sociedade, família, e por si mesmos, a "desencalhar", enfim. São tantas as produções, as construções, e os mitos culturais em torno desse acordo, ritual que chamamos de "casamento", que é compreensível ele gerar tanta dor de cabeça assim nas pessoas. A verdade é que não deveríamos dar tamanha importância ao casamento, transformando-o nesta coisa homérica. Casamento deve ser algo de muito mais leveza, uma consequência, e nunca um fim. No entanto, o que se percebe nos dias atuais? Mais casamentos terminando, do que começando. Por que? Simples, eles começam pelos motivos errados. Na grande maioria das vezes, ele acaba sendo um fim, ao invés de um desdobramento natural da relação como deveria ser. Muitos casam por objetivo, cobrança, conveniência, necessidade, conservadorismo, entre tantas outras razões equivocadas, e acabam esquecendo que o casamento não passa de um "protocolo social", e esquecendo também o que importa de verdade entre um casal; amor! O que eu vejo muito por aí, são festas caríssimas de casamento, onde a união não dura mais que uma estação do ano, ou se dura, é pela velha e boa infeliz comodidade. Porém, outra coisa que eu vejo muito por aí também, são casais extremamente felizes e funcionais, que estão há anos juntos, e nunca se casaram. O que estou querendo dizer? Dizer se casamento é algo bom ou ruim? Absolutamente que não. O que eu quero dizer, é que um casal feliz e funcional, independe do rótulo que carregam, se são apaixonados, namorados, noivos, casados, ou qualquer outro modelo de união. Se o casamento tiver razão de ser, encher os olhos, ser bonito, um capítulo natural de uma união feliz, e tiver parceria, companheirismo, cumplicidade, harmonia, convenção, sintonia, e principalmente, amor, então encontro motivos que valem a pena, para se fazer uma linda festa, e celebrar com amigos e familiares. O verdadeiro elo entre um casal, não está no dedo, está no coração...
E quantas vezes já se ouviu por aí, que na balada ninguém quer nada com nada, que só tem o que não presta, que é uma vida vazia, e assim por diante? Não é bem assim... Na balada, assim como na vida, há de "tudo", pessoas, vontades, situações, inúmeras experiências, prontas para serem vivenciadas. Algo curioso, que muitas vezes acaba ocorrendo, é umaa ingênua distorção da principal proposta da balada, que seria o lazer, para uma "missão de guerra". Há todo um "folclore social" construído, no qual severas expectativas são geradas, os meninos se cobram a "pegarem alguém", e as meninas a "serem desejadas", e se isso não ocorrer, para muitos a noite será um verdadeiro fiasco. Isso quebra com o maior encanto que a noite reserva; o mistério! A magia da noite, mora na despretensão, na espontaneidade, no sair para se divertir, dar boas risadas, curtir, beber com os amigos, pagar micos, é não saber o que vai encontrar, as situações que vai se deparar, as pessoas que vai conhecer, as amizades que vai fazer, os desejos que vão acometer, os lances que vai viver, e os amores que podem acontecer. Eu particularmente, passei por diversas situações na balada, positivas, negativas, vivenciei momentos únicos de felicidade, dei muitas gargalhadas, dancei além da conta, bebi só um "pouquinho", conheci pessoas fantásticas, fiz grandes amizades, também vivi, claro, alguns romances, outros "apenas uma noite", fiz alguns vínculos, e principalmente, esbarrei num grande amor. O que importa de verdade, é como você se percebe, e percebe as coisas ao seu redor, o quanto você está de braços abertos para o que a vida reserva, o quão disposto a se permitir, experimentar-se no mundo você está, e isso independe do lugar que você está pisando, é questão de ser, e atrever...
Perdi. Não teve jeito. Me encarei no espelho e dei os parabéns para o adversário; eu mesmo. Não havia mais nada pra se fazer além de reconhecer a derrota. Não dava mais pra se fingir de forte. Essa é uma luta diária, de você com você mesmo. Você contra suas angústias, paranóias e fraquezas. Contra seu corpo que grita, sua mente que o enlouquece e sua alma desistente. Não dá pra vencer todos os dias. Uma hora se esgotam suas elaborações intelectuais mirabolantes e seus recursos afetivos à prova de balas, pra lidar com suas encrencas. Acabam-se as mentiras sinceras e as verdades mentirosas que você conta pra você mesmo pra tornar a realidade um pouquinho mais suportável. Uma hora seu olhar fica turvo e o que resta é se encostar no sofá e olhar pro teto até a visão voltar. O problema é quando nem isso podemos nos permitir fazer, viver nossos tropeços. Mas isso já é história pra outro devaneio...
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Eu me perco observando as pessoas, andando pra lá e pra cá em suas lutas diárias... Sempre termino me fazendo a mesma pergunta; será que é difícil entender que todo mundo só quer seu lugarzinho ao sol? Pra que toda essa inveja, mágoa, paranóia e competição? Por que todos não andam juntos, exercitam o colocar-se no lugar de? Afinal de contas, cada um a seu modo e circunstância, quer a mesma coisa, amor, riso e paz. Tem lugar de sobra pra todo mundo debaixo desse sol...