A. W. Tozer
Um cristão verdadeiro é uma pessoa estranha em todos os sentidos. Ele sente um amor supremo por alguém que ele nunca viu; conversa familiarmente todos os dias com alguém que não pode ver; espera ir para o céu pelos méritos de outro; esvazia-se para que possa estar cheio; admite estar errado para que posa ser declarado certo; desce para que possa ir para o alto; é mais forte quando ele é mais fraco; é mais rico quando é mais pobre; mais feliz quando se sente o pior. Ele morre para que possa viver; renuncia para que possa ter; doa para que possa manter; vê o invisível, ouve o inaudível e conhece o que excede todo o entendimento
"O homem, cujo tesouro é o Senhor, tem toda as coisas concentradas nele. Outros tesouros comuns talvez lhe sejam negados, mas mesmo que lhe seja permitido desfrutar deles, o usufruto de tais coisas será tão diluído que nunca é necessário à sua felicidade. E se lhe acontecer de vê-los desaparecer, um por um, provavelmente não experimentará sensação de perda, pois conta com a fonte, com a origem de todas as coisas, em Deus, em quem encontra toda satisfação, todo prazer e todo deleite. Não se importa com a perda, já que, em realidade nada perdeu, e possui tudo em uma pessoa - de maneira pura, legítima e eterna."
O homem que tem se esforçaco para purificar-se, e nada tem a relatar senão repetidos fracassos, conhecerá o verdadeiro alívio quando deixar de dar demasiada importância à sua alma, e passar a olhar somente para aquele que é perfeito.E quando estiver olhando para Cristo, as próprias coisas que por tanto tempo vem tentando fazer, serão finalmente realizadas dentro dele.Será Deus a operar nele tanto o agir como o efetuar.
"Na verdade é a variedade, e não a uniformidade, que é a característica de Deus. Em tudo em que você vê a mão de Deus, você vê variedade, e não uniformidade."
Eu me recordo de um homem de Deus a quem foi perguntado: "O que é mais importante: ler a Palavra de Deus ou orar?". Ele respondeu: "O que é mais importante para um pássaro, a asa da direita ou a da esquerda?"
Enquanto o homem não passa por dificuldades com seu coração, provavelmente não sairá das dificuldades com Deus.
Quem quiser verificar sua verdadeira condição espiritual pode fazê-lo notando quais foram os seus pensamentos nas últimas horas ou dias. Em que pensou quando estava livre para pensar no que lhe agradasse?
O homem que está crucificado tem os olhos voltados para uma só direção... Ele não pode olhar para trás. O homem crucificado está olhando apenas uma direção, que é a direção de Deus, de Cristo e do Espírito Santo.... O homem na cruz não tem mais planos para si ... Mas alguém fez planos para eles, e quando eles o pregaram naquela cruz, todos os seus planos desapareceram. Quando você se dispõe a morrer na cruz, você diz adeus - você não vai voltar!
“Há no cosmos, vivo e que respira, algo misterioso, maravilhoso e tremendo, acima da compreensão de todas as mentes. O crente não alega entender tudo. Ele cai de joelhos e sussurra: Deus!”
Os mais notáveis cristãos confirmam unanimemente que, quanto mais perto de Deus, mais aguda e viva se torna a consciência do pecado e o sentimento de desvalia pessoal. As almas mais puras jamais conheceram quão puras eram, e os grandes santos nunca souberam que eram grandes. O próprio pensamento de que eram bons ou grandes teria sido rejeitado por eles como tentação de Satanás.
Ficaram tão enlevados e preocupados em contemplar a face de Deus que tiveram muito pouco tempo para olhar para si. Ficaram mais que enlevados nesse doce paradoxo de consciência ou conhecimento espiritual, pelo qual conheceram estarem limpos mediante o sangue do Cordeiro, e pelo qual sentiram merecerem somente a morte e o inferno, por justa paga. Este sentimento aparece muito nítido e forte nos escritos do Apóstolo Paulo, e igualmente o encontram expresso em quase todos os livros devocionais, bem como nos hinos sacros de maior valia e mais queridos.
O homem verdadeiramente humilde não espera encontrar virtude em si mesmo, e quando não a encontra, não se desanima. Ele sabe que qualquer boa obra que poderia fazer é resultado da obra de Deus nele, e se é obra própria sua sabe que não é boa, por melhor que pareça. Quando essa crença se torna parte desse homem, algo que opera como uma espécie de reflexo subconsciente, ele se vê liberto do peso de viver segundo a opinião que tem de si mesmo. Pode descansar e contar com o Espírito para que cumpra a lei moral em seu íntimo. Muda-se o centro de sua vida, do ego para Cristo, que é onde deveria ter estado desde o princípio, e assim se vê livre para servir a sua geração de acordo com a vontade de Deus, sem os milhares de empecilhos que antes tinha. Se um homem assim falha para com Deus de alguma forma, lamenta-o e se arrepende, mas não passa os dias castigando-se a si mesmo por seu fracasso. Dirá com o Irmão Lourenço: "Nunca poderei agir de outra forma se me deixas só; Tu és aquele que deve impedir minha queda e emendar o que é mau", e depois disso "não continuará se torturando pelo acontecido". Quando lemos sobre a vida e os escritos dos santos, é que a falsa humildade mais entra em ação. Lemos Agostinho e percebemos não ter sua inteligência; lemos Bernardo de Claraval e sentimos um calor em seu espírito, que não encontramos em nosso próprio em um grau que sequer se lhe assemelhe; lemos o diário de George Whitefield e temos de confessar que comparados com ele somos simples principiantes, noviços espirituais, e que apesar de nossas "vidas tão supostamente ocupadas" vemos muito pouco ou nada realizado. Lemos as cartas de Samuel Rutherford e sentimos que seu amor por Cristo ultrapassa tanto o nosso, que seria estupidez sequer mencioná-los ao mesmo tempo. É então que a pseudo-humildade começa a trabalhar em nome da autêntica humildade e nos leva até o pó numa confusão de autocompaixão e autocondenação. Nosso amor próprio se volta contra nós mesmos e com grande azedume nos joga em rosto nossa falta de piedade. Sejamos cuidadosos com isso. Aquilo que achamos ser penitência pode facilmente ser uma pervertida forma de inveja e nada mais. É possível que simplesmente estejamos invejando esses poderosos homens, e desanimemos de chegar a ser como eles, imaginando que somos muito santos porque nos sentimos humilhados e desanimados.
Tenho conhecido duas classes de crentes: os orgulhosos que se consideram humildes, e os humildes que têm medo de ser orgulhosos. Deveria haver outra classe: os desesperados de si mesmos que deixam todo o assunto nas mãos de Cristo, e se negam a gastar o tempo tentando fazer-se bons. Serão esses os que alcançarão o alvo, e bem antes que os demais.
O homem humilde aceita que se lhe diga a verdade. Ele crê que em sua natureza caída não habita bem nenhum. Reconhece que, separado de Deus, não é nada, não tem nada, não sabe nada, nem pode fazer nada. Mas esse conhecimento não o desanima, porque também sabe que, em Cristo, ele é alguém. Sabe que para Deus ele é mais precioso que a menina dos seus olhos, e que pode todas as coisas por meio de Cristo, que o fortalece; ou seja, pode fazer tudo o que está dentro da vontade de Deus que ele faça.
O homem cheio de autoestima espera de forma natural grandes coisas de si mesmo, e se sente amargamente desanimado quando fracassa. O crente que tem autoestima tem os mais elevados ideais morais: chegará a ser o homem mais santo de sua igreja, se não o mais santo de sua geração. É possível que fale da depravação total, da graça e da fé, enquanto ao mesmo tempo inconscientemente está confiando em si mesmo, promovendo-se a si mesmo e vivendo para si mesmo. Como tem aspirações tão nobres, qualquer falha em alcançar seus ideais o enche de desânimo e desgosto. Vem, então, a dor da consciência, que ele erroneamente interpreta como evidência de humildade, mas que na realidade só é uma amarga negativa de perdoar-se a si mesmo por haver caído da alta opinião que tinha de sua própria pessoa.
"A vida em que o Espírito habita não é uma edição de luxo do cristianismo que deve ser desfrutada por determinados cristãos extraordinários e privilegiados... Ao contrário, é o estado normal para todo o homem e mulher remido em todo o mundo."
A nossa grande honra está precisamente em ser o que Cristo foi e é. Ser aceito pelo que O aceitam, rejeitado pelos que O rejeitam, amados pelo que O amam e odiado pelos que O odeiam.