A Hospedeira.
Talvez tivesse que ser assim. Talvez sem os pontos baixos, os pontos altos não pudessem ser alcançados.
Em tantos milênios, os humanos nunca entenderam o amor. Quanto é físico, quanto está na mente? Quanto é acidente e quanto é destino? Por que casamentos perfeitos se desintregam e casais impossíveis prosperam? Não sei as respostas nem um pouco mais que eles. O amor simplesmente está onde está.
Passei muito tempo observando a sua espécie. Sempre esperando vocês mudarem, sabem como é, quando não agissem mais como nós, por não haver mais ninguém para quem representar. Continuava observando e esperando, mas vocês apenas permaneciam agindo como humanos. Ficando com a família de seus corpos, saindo para fazer piquenique quando o tempo estava bom, cultivando flores, pintando quadros e tudo o mais. Eu me perguntei se vocês não estariam se tornando meio humanos. Se não temos alguma influência, afinal.
Havia nela uma lenta elaboração emocional que eu não estava reconhecendo. Algo no limite da raiva, com uma ponta de desejo e uma porção de desespero.
Ciúme, esclareceu ela.
As emoções deles são poderosas. Se a vontade dela sobreviveu por muito tempo com suas memórias, ela talvez resista com elas.
Oito vidas inteiras, e nunca encontrei ninguém por quem ficasse num planeta, ninguém a quem seguisse quando os outros fossem embora. Nunca encontrei um companheiro. Por que agora? Por que você? Você não é da minha espécie. Como pode ser meu parceiro?
Bem, acho que talvez… você esteja morrendo por ser humana. Depois de todos os planetas e de todos os hospedeiros que deixou para trás, você finalmente encontrou o lugar e o corpo pelos quais morreria. Acho que você encontrou sua casa, Peregrina.
Era difícil afastar o olhar dos olhos dele quando eles brilhavam assim. Difícil de duvidar de qualquer coisa que ele dissesse.