A elegância do ouriço

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Mas tudo veio em sua hora... Tudo vem na hora certa pra quem sabe esperar...

"Eu só desejava uma coisa: que me dexassem em paz, que não exigissem muito de mim ..."

(...) Então, bebamos uma xícara de chá. Faz-se o silêncio, ouve-se o vento que sopra lá fora, as folhas de outono sussurram e voam, o gato dorme sob uma luz quente. E em cada gole, se sublima o tempo.

Passei pelo menos trinta minutos de humor massacrante. E, depois, de repente pensei: mas por que é que eu queria tanto que ela a agarrasse? Por que é que dói tanto quando o movimento não é sincronizado? Não é muito difícil adivinhar: todas essas coisas que passam, que deixamos de ter por um triz e que são perdidas para eternidade... Todas essas palavras que deveríamos ter dito, esses gestos que deveríamos ter feito, esses kairós fulgurantes que um dia seguiram, que não soubemos aproveitar e se afundaram para sempre no nada... O fracasso por um triz... Mas foi sobretudo outra idéia que me veio à cabeça, por causa dos "neurônios-espelhos". Uma idéia perturbadora, aliás, e talvez vagamente proustiana (o que me irrita). E se a literatura fosse uma televisão que nos mostra tudo aquilo em que fracassamos?
Bye-bye movimento do mundo! Poderia ter sido a perfeição, e é o desastre. Deveria ser algo que vivêssemos de fato, mas é sempre uma fruição por procuração.
E aí pergunto a vocês: por que ficar nesse mundo?

Não se devem esquecer os velhos de corpos estragados, os velhos que estão pertinho de uma morte em que os jovens não querem pensar, a inexistente alegria dessas derradeiras horas que deveriam ser aproveitadas a fundo e que são padecidas no tédio, na amargura e na repetição. Não se deve esquecer que o corpo definha, que os amigos morrem, que todos nos esquecem, que o fim é a solidão. Esquecer muito menos que esses velhos foram jovens, que o tempo de uma vida é irrisório, que um dia temos vinte anos e, no dia seguinte, oitenta. [...] Mas entendi muito bem que vida passa num tempinho a à-toa, olhando para os adultos ao meu redor, tão apressados, tão estressados por causa do prazo de vencimento, tão ávidos de agora para não pensarem no amanhã... Mas, se tememos o amanhã, é porque não sabemos construir o presente e, quando não sabemos construir o presente, contamos que amanhã saberemos e nos ferramos, porque amanhã acaba sempre por se tornar hoje, não é mesmo? [...] É preciso viver viver com essa certeza de que envelheceremos e não será bonito, nem bom, nem alegre. E pensar que é agora que importa: construir agora, alguma coisa, a qualquer preço, com todas as nossas forças. Sempre ter na cabeça o asilo de idosos a fim de nos superarmos a cada dia, para tornar cada dia imperecível. Escalar passo a passo nosso próprio Everest e fazê-lo de tal modo que cada passo seja um pouco de eternidade.
O futuro serve para isto: para construir o presente com verdadeiros projetos de pessoas vivas.

Pois a arte é a vida, mas num outro ritmo.

Esses instantes em que se revela a trama da nossa existência, pela força de um ritual que reconduziremos com mais prazer ainda por tê-lo infringido, são parênteses mágicos que deixam o coração à beira da alma, porque, fugaz mas intensamente, um pouco de eternidade veio de repente fecundar o tempo. Lá fora o mundo ruge ou dorme, as guerras se inflamam, os homens vivem e morrem, as nações perecem, outras surgem e em breve serão tragadas, e em todo esse barulho e todo esse furor, nessas erupções e nessas ressacas - enquanto o mundo vai, se inflama se dilacera e renasce -, agita-se a vida humana.
Então, bebamos uma xícara de chá.

A verdadeira novidade é aquilo que não envelhece, apesar do tempo. (setsuko no filme As irmãs munakata)

"(...) meu pensamento profundo do dia: é a primeira vez que encontro alguém que procura as pessoas e que vê além. Isso pode parecer trivial, mas acho, mesmo assim, que é profundo. Nunca vemos além de nossas certezas e, mais grave ainda, renunciamos ao encontro, apenas encontramos a nós mesmos sem nos reconhecer nesses espelhos permanentes. Se nos déssemos conta, se tomássemos consciência do fato de que sempre olhamos apenas para nós mesmos no outro, que estamos sozinhos no deserto, enlouqueceríamos. Quando minha mãe oferece petisfours da casa Ladurée à sra. de Broglie, conta a si mesmaa história de sua vida e apenas mordisca seu próprio sabor; quando papai toma o café e lê o jornal, contempla-se num espelho do gênero manual de autoconvencimento ; quando Colombe fala das aulas de Marian, deblatera sobre seu próprio reflexo, e quando as pessoas passam diante do concierge, só vêem o vazio porque ali não se reconhecem.
Do meu lado suplico meu destino que me conceda a chance de ver além de mim mesma e encontrar alguém."

É com saudade que penso nas manhãs de domingo, essas manhãs abençoadas por serem de descansos quando, na cozinha silenciosa ele bebia seu café e eu lia."

"Por alguma obscura razão, Colombe, que não tem um pingo de discernimento, compreendeu que o que eu mais detesto na vida é barulho. Acho que fez essa descoberta por acaso. Nunca teria lhe vindo à cabeça espontaneamente que alguém possa precisar de silêncio. Que o silêncio sirva para ir ao interior, que seja necessário para os que não estão interessados apenas na vida exterior, não creio que seja algo que ela consiga entender, porque seu interior é tão barulhento quanto o exterior da rua. Mas, em todo o caso, ela entendeu que eu precisava de silêncio, e, por desgraça, meu quarto fica ao lado do dela.