Às Vezes
Quando nada parece dar certo, vou ver o cortador de pedras martelando sua rocha talvez 100 vezes, sem que uma única rachadura apareça. Mas na centésima primeira martelada a pedra se abre em duas, e eu sei que não foi aquela que conseguiu isso, mas todas as que vieram antes.
Os grandes homens estão muitas vezes solitários. Mas essa solidão é parte da sua capacidade de criar. O caráter, assim como a fotografia, desenvolve-se no escuro.
Um imbecil pode, por si só, levantar dez vezes mais problemas que dez sábios juntos não conseguiriam resolver.
A grande vaia é mil vezes mais forte, mais poderosa, mais nobre do que a grande apoteose. Os admiradores corrompem.
Os advogados de um criminoso só raras vezes são suficientemente artistas para aproveitar em favor do réu a terrível beleza do seu ato.
O prazer visita-nos muitas vezes; mas a mágoa agarra-se cruelmente a nós.
Guarda-te uma vez dos inimigos e mil vezes dos amigos, porque um amigo poderá vir a ser teu inimigo e prejudicar-te com facilidade.
Acontece às vezes que uma flecha lançada ao acaso atinge o alvo que o arqueiro não queria; muitas vezes uma palavra pronunciada sem desígnio lisonjeia ou magoa um coração infeliz dividido entre o prazer e o medo.
Toda a descoberta da ciência pura é potencialmente subversiva; por vezes a ciência deve ser tratada como um inimigo possível.
[Ao ser perguntado por que costuma o número dezessete tantas vezes em suas crônicas]
Dezessete é um número cabalístico e, sendo cabalístico, eu não posso revelar. Brincadeira, não tem nenhum significado. Dezessete é uma palavra bonita.