Às Vezes

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Muitas vezes nos refugiamos no futuro para escapar do sofrimento

"A premência do tempo ajeita muitas coisas a seus desígnios, decidindo, por vezes, no momento mais grave, o que um processo interminável não pudera fazê-lo."

Sentimos mais prazer, às vezes, em superar um desafio, do que desfrutar algo que se nos é oferecido gratuitamente.

Às vezes quando ainda valia a pena eu ficava horas pensando que podia voltar tudo a ser como antes.

A violência às vezes é necessária, mas a meus olhos não há grandeza senão na doçura"

Eu às vezes tenho a sensação de que estou procurando às cegas uma coisa; eu quero continuar, eu me sinto obrigada a continuar. Sinto até uma certa coragem de fazê-lo. O meu temor é de que seja tudo muito novo para mim, que eu talvez possa encontrar o que não quero. Essa coragem eu teria, mas o preço é muito alto, o preço é muito caro, e eu estou cansada. Sempre paguei e de repente não quero mais. Sinto que tenho que ir para um lado ou para outro. Ou para uma desistência: levar uma vida mais humilde de espírito, ou então não sei em que ramo a desistência, não sei em que lugar encontrar a tarefa, a doçura, a coisa. Estou viciada em viver nessa extrema intensidade.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trecho da crônica Conversa telefônica.

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O Amor e o Sábio Agricultor

O Amor é um sentimento caprichoso, por vezes impaciente e temperamental demais e, por ser assim, às vezes pode ser injusto com outros sentimentos que ainda não têm a mesma intensidade que ele possui.
Às vezes, num relacionamento, é comum que uma das pessoas acabe se ressentindo por perceber, em determinado momento, que o Amor que ela sente é semelhante a um Carvalho, belo, grande e forte, enquanto que o da outra pessoa mais parece uma muda de uma árvore pequena e frágil.
Nesta hora, um relacionamento pode entrar em crise, ou mesmo desmoronar, e isto faz pensar o quão imprudente, por vezes, pode ser o Amor.
Quem ama, algumas vezes precisa ter a sabedoria de um agricultor, que sabe que nenhuma planta cresce e dá frutos da noite para o dia. É preciso muitos cuidados, dedicação e a crença de que após determinado período, caso pragas e intempéries não assolem a plantação, será feita uma boa colheita.
Para isso, o agricultor entrega todas as suas energias à lavoura, e precisa estar preparado para combater até mesmo as pragas e as intempéries mais cruéis.
Agindo assim, o que acontece no final é motivo de festa e muita felicidade para o agricultor.
Isto mostra que não se deve abandonar um sentimento por ele parecer pequeno e frágil, mas dispensar-lhe melhores cuidados e preservando-o para que ele possa crescer e, um dia, tornar-se um Amor belo e forte.

Mas quem não sabe que ternos segredos e confidências recônditas se insinuam muitas vezes em uma pergunta banal, feita por lábios amantes?

Também era bom que não viesse tantas vezes quantas queria: porque ela poderia se habituar à felicidade.

Clarice Lispector
Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Eu nunca fui uma santa. Eu sou um ser humano e eu apronto às vezes.

Às vezes esperamos a pessoa tomar a iniciativa e vir falar conosco, apenas para saber se ela realmente se importa.

Eu já mandei minha felicidade embora muitas vezes simplesmente por não ter a menor ideia do que fazer com ela, deixei que ela passasse porque estava mais acostumada a lidar com o meu caos pessoal. E dessa vez não quero que isso aconteça. Dessa vez olhei pro meu pessimismo e decidi encará-lo. Ele me disse que vai doer depois, que quanto maior a altura, maior a queda. Eu disse que queria arriscar. Por favor, deixa, pelo menos dessa vez, deixa eu saber como é! Ela não queria, mas no fim das contas teve que ceder, afinal quem manda aqui ainda sou eu! Agora eu passeio com ela todos os dias, nos tornamos grande companheiras. Eu e a minha felicidade, a minha felicidade e eu. Às vezes ainda nos estranhamos, às vezes ela ainda me deixa um pouco desconfiada. É que às vezes ela chega tão decidida a se juntar a mim no meio da noite, entre um abraço e outro, entre uma palavra doce e outra. E de vez em quando, o meu pessimismo tenta se sobressair e me dizer pra tomar cuidado, pra não dar muita trela. Mas parei de ouvi-lo, confesso que a presença da minha nova amiga é muito mais agradável e cheia de vida, e sinceramente, sempre gostei mais do colorido que do cinza! Tô pagando pra ver sim, tô com a cara exposta sim, e pode doer o quanto for, podem maldizer o quanto for, o sorriso que eu levo hoje apaga todos os outros rastros. Eu aprendi, aos trancos, que ser feliz não dói. Ser feliz não dói. Confia em mim, não precisa ter mais medo – ela me disse.

Tantas formas revestes, e nenhuma
Me satisfaz!
Vens às vezes no amor, e quase te acredito.
Mas todo o amor é um grito
Desesperado
Que apenas ouve o eco...

Miguel Torga
TORGA, M., Penas do Purgatório, 1954

Nota: Trecho do poema "Esperança"

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A solidão é as vezes tão nítida como uma companhia. Vou me adequando, vou me amoldando. Nem sempre é horrível. Às vezes é até bem mansinha.

No fundo você sempre sabe a verdade, mas às vezes dá vontade de se iludir, né?

Tenho sentimentos e muitas vezes eles não cabem no peito e viram palavras.

XXVI

Às vezes, em dias de luz perfeita e exata,
Em que as coisas têm toda a realidade que podem ter,
Pergunto a mim próprio devagar
Porque sequer atribuo eu
Beleza às coisas.

Uma flor acaso tem beleza?
Tem beleza acaso um fruto?
Não: têm cor e forma
E existência apenas.
A beleza é o nome de qualquer coisa que não existe
Que eu dou às coisas em troca do agrado que me dão.
Não significa nada.
Então porque digo eu das coisas: são belas?

Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver,
Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens
Perante as coisas,
Perante as coisas que simplesmente existem.

Que difícil ser próprio e não ver senão o visível!

Alberto Caeiro
Livro: “O Guardador de Rebanhos” (1914)

Nota: Alberto Caeiro é heterônimo de Fernando Pessoa.

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Tão correto e tão bonito o infinito é realmente um dos deuses mais lindos, sei que às vezes uso palavras repetidas mas quais são as palavras que nunca são ditas?

Às vezes a gente precisa fazer uma faxina, limpar algumas coisas, jogar fora outras, abrir algumas janelas, fechar outras. Dar alguns espaços, colocar alguns pontos, algumas vírgulas. Assim como água não se mistura com óleo, coisas novas não acontecem, quando as velhas ainda ocupam espaço.

Quantas vezes fingiu que estava tudo bem pra não tirar aquele belo sorriso do rosto da sua amiga?