Arte
Só hoje eu queria poder acordar e encontrar você dormindo ao meu lado, com o cabelo todo bagunçado e expressão de quem está quase despertando após uma noite boa.
Só hoje me levantaria da cama pra preparar o café, deixando o aroma espalhar até te alcançar, porque sei que café é uma das suas paixões.
Só hoje te levaria até o litoral para encontrar o mar, molhar os pés e sentir o vento espalhando seus cabelos, enquanto de perto registro sua liberdade.
Só hoje faríamos fotos malucas, porque nossas brincadeiras revelam quem nós somos e precisariam virar boas histórias para contar.
Só hoje caminharíamos na areia, subiríamos aquela trilha, chegaríamos ao topo.
Só hoje te abraçaria apertado e te daria aquele beijo que nos completa e nos conecta, sentindo seu coração batendo forte.
Só hoje tudo isso seria possível, mas não será.
Hoje acordei só.
Hoje espalhei o aroma de café pela casa, mas ele encontrou ambientes vazios.
Hoje fui até o litoral, molhei os pés, senti o vento e minha liberdade solitária.
Hoje caminhei na areia, subi a trilha e cheguei ao topo.
Hoje vi o mundo e percebi que o mundo era eu.
Não havia abraço ou beijo. Havia vento no corpo e sol no rosto.
Havia eu. Ainda não há você.
MONUMENTO AO MANGUEBEAT
De perto ele assusta
Caranguejo bem gigante
Monumento ao Manguebeat
Chico Science, o pensante
O Recife cultural
Da lama, do manguezal
Música eletropulsante
Para mim, um objeto é algo vivo. Um cigarro ou uma caixa de fósforos contêm uma vida secreta muito mais intensa que a de certos seres humanos.
Não há nada de especial para ver ao olhar para mim. Sou um pintor que pinta dia após dia, de manhã até a noite – retratando figuras e paisagens, mais raramente retratos.
Um amigo de verdade é alguém para quem você pronuncia uma frase e ele conhece dez mil palavras por trás dessa frase.
Artistas, de qualquer tipo, têm a individualidade de enxergar beleza em qualquer estado humano. Se não enxergam a beleza, transformam-no em arte, então, será belo. Tragicamente belo. Talvez, tragicamente necessário.
Nos reduzimos a perguntar aos outros quem nós somos ao invés de perguntarmos a nós mesmos. Trata-se de um dos motivos de o mundo estar cheio de pessoas que acreditam ter esse controle sobre as outras.