Apagar a minha Estrela
Me Aliciando
(Uma carta para a Alice de 7 anos, escrita por mim mesma 30 anos depois)
Minha Alice, minha filha pequena,
Desejo que seus olhos verdes tão vivos
Vejam beleza de uma forma plena.
Começando este passeio por você mesma, caçula,
Que eles vejam como é belo teu sorriso em cena.
Que eles te vejam a cachear seus dourados cachos
Aceitando que cada curva é um charme seu,
Neste corpo que deve ser amado e aceito,
Como ele sempre mereceu.
Corpo que é (e sempre será) sua verdadeira casa
Corpo que tudo sente e sentindo extravasa
Corpo que se deforma quando é odiado,
Mas a ti acolhe, mesmo que tão rechaçado.
Desejo que tua dança encontre os mais belos ritmos,
Que gire sempre que precisar girar.
Que te conduza firme até que ache um bom parceiro,
Para que girem juntos, como um verdadeiro par.
Que aprenda que passos para trás são parte da coreografia
E que, de forma nenhuma você deve temê-los,
Só dá dois pra frente quem teve a coragem
De um pra trás ter ido sem medo.
Desejo que você entenda o quanto antes
Que passos servem para dançar.
Pois passos retos que não se balançam
Só se apressam para um final alcançar.
E a vida, caçula, é um caminho curto,
Cujo destino certo é a morte.
Viver é achar a beleza da dança
Viver girando, sem sul e sem norte.
Siga leve: dois pra frente, um pra trás e um giro.
Não pare nem por um instante.
Se se perder: use a dança como um retiro
Se se achar: dois pra frente um pra trás, só dance.
Sem passos pra trás ou sem giros,
Você caminha reto para a morte.
Sem leveza, sua dança, sem vida,
Sem criatividade, seu traço mais forte!
Passos pra trás são erros importantes
Que nos obrigam a sair do lugar.
Não podes querer dar os dois passos pra frente,
Sem antes aprenderes bem a errar.
Giros são recomeços que te fazem
Ver sua paisagem mudar.
Cuidado! Alguns podem te tirar do chão,
Já outros, te fazem o cabelo ventar.
Mas todos precisam de fé e coragem,
Até quando girando você precisar
De uma mão que te encerre a viagem
E sem com isso teu ritmo mudar.
Desejo que saibas ver na sua dança, a vida
E que na sua vida, vejas a arte
Que te percebas como uma exímia bailarina
E que ache música em toda parte.
Eu sei da dor que carrega os seus choros,
Te vi sair de mim repleta de adrenalina,
E por ser tão diferente de tudo e de todos
Me assustou por ser exageradamente assim: genuína.
Mas saiba que és amada, não importa o passo,
Que és livre para voar solta no próprio vento,
Mas sempre que quiser dançar num abraço,
Tens em mim, tua mãe, pertencimento.
Desejo que sejas competente para qualquer música dançar,
Mas que tenhas sensibilidade para a tua própria também criar.
Que tenha sempre em teus pés leveza
E quando dançares pelo ar, sutileza.
Confiança o bastante para quando forte ventar,
Sentar teus pés no chão, pousar.
Desejo que dance com tudo que sentir no coração,
Que dance com flor, letra, pena ou ilusão
Girando, girando com sua emoção
Ou pousando e parando calçando a razão.
Mas tem um acessório que não te desejo, pequena,
Um “presente” passado de geração a geração,
Que pesa e aperta, não nos deixa dançar,
Este acessório é a culpa, e esta, a ti eu me recuso a dar.
Te liberto da condenação que viemos todas vivendo
Remoendo culpas, isto é tudo que aprendemos.
Já muitas de nós perdemos a música e paramos de dançar...
Andando reto na vida, para tudo mais rápido passar.
Sinto muito não ter podido contigo ensaiar
Tua dança tão preciosa quando começaste a balançar
É que em mim já não tocava música para te mostrar
Como é que eu dançava antes da culpa me aleijar.
Me perdoa, pequena, por não ter conseguido te falar,
Que você é amada mesmo quando o que sentias era o meu rejeitar.
É que a vida, pouco a pouco, me deixou pesada,
E mesmo eu querendo contigo dançar,
Dei dois giros, fiquei tonta, e sem querer parei no ar.
Caí direto na armadilha da culpa,
Aquela que julga sem nunca bailar,
Te tirei do seu prumo, nunca te ensinando a ser amada...
Ou a si mesmo se amar...
Alice Hott
Puro Desejo
Nesta hipnose do sono
Em meio a névoa delirante
vejo e pressinto alguém em minha direção ;
fêmea, cabelos sedosos,
pele doce e macia (que já me arrepia).
-Não me toque. ela diz.
Contrariando o seu corpo que me chama
dizendo: - Me explore ...
Diante deste delírio me inclino;
insinuante me entrego ao seu desejo.
Já desnuda, percorro minuciosamente
a cada detalhe de suas curvas.
Sussurros contínuos mutuamente
nos enlouquecem em movimentos frenéticos.
A respiração me denuncia
e numa sincronia perfeita...me encaixo.
E neste frenesi me deleito com sua seiva,
saboreando cada gota.
E no ápice do meu prazer preencho
com a minha satisfação transbordando seu cálice.
Saciados nos acomodamos entrelaçados nos corpos
suados e extasiados.
Acordo e ainda inebriado com a lembrança da sua
quase presença; fico na expectativa de reve-la
na realidade desta vida.
SEM RUMO
Sem rumo saio,
descompassado vou lentamente
Nem assim disfarço minha mente.
Mesmo sendo refém,
me solto de suas amarras!
Liberto meus pensamentos
e com eles também vou.
Nesta cadência
sou passo no chão batido
o coração sente cada pisar.
sou o sopro do vento no ar ,
o rosto agradecido...suspira.
sou letra da música no peito escondido,
que ouço sem compromisso.
Enfim corro sem pedir socorro
protegido chego até o fim
sem disputa
satisfeito volto e digo
não desista de mim.
Na busca incerta
Fiz minha escolha
Encontro marcado
Destino (perfeito) antecipado
Ainda lembro da cena...
a cada passo já me surpreendia
Meus olhos negligentes,
sorriama cada detalhe.
Mulher serena, plena, linda !
Na minha mente já fazia alvoroço
Feitiço, magia, sedução...
-Calma aí seu moço!
dizia meu coração.
Sem qualquer medo ou limite
Me entreguei.
Até hoje me rendo a esta
Paixão....
MINH'ALMA
"Minha alma cansada
ainda abalada resiste
A luta diária
Desconfiada se cala
Diante ao caos da minha mente
Que mente o que sente
Confusa se perde em prantos
Confidente me diz : -Não consigo !
Meu corpo reage sem saber,
Sobrevive em modo automático
sem rumo dizendo:
-Eu consigo!"