Apagar a minha Estrela

Não tenho certeza,
mas acho que os grilos gostam
da minha janela.

Minha mão vazia
Esperando a sua
Encontro que cria.

mostro o passaporte
minha sombra espera
depois da fronteira

Malograria a minha vingança tornando-a tão rápida.

A minha história foi composta como uma aquisição para a eternidade, não para ser ouvida por ocasião do triunfo na competição de um dia.

Dia a dia ia-se agravando a minha secreta aversão por tudo aquilo de que se tira proveito. Ler e sonhar, estes narcóticos, eram os meus antídotos, mas as regiões onde são possíveis os atos pareciam-me definitivamente fora de alcance.

Os maiores acontecimentos da minha vida foram alguns pensamentos, leituras, alguns pores-do-sol em Trouville à beira-mar e palestras de cinco a seis horas consecutivas com um amigo que agora é casado e está perdido para mim.

A minha vida está aqui, onde tu estás, a minha vida é esta e não há outra vida.

frio na alcova
ao pisar teu pente,
minha esposa morta

Os trigais maduros
marcaram de cor dourada
minha pobre infância.

minha sombra
com pernas mais longas
não me afasta

Trezentos quilômetros
Para não vos contemplar -
Mangueiras da minha infância!

A igreja branca
Sufocada entre eucaliptos -
Aldeia de minha mãe...

As chuvas de maio
enchem de rãs
a minha porta!

O espantalho -
na minha infância
primeiro amigo

pérolas de orvalho!
olho e vejo em cada gota
a minha casa-espelho

já foi feita a escolha?
chegou minha vez, é isso?
gralha barulhenta!

tua palavra é semente
minha solidão é serpente
onde está o bote?

Se a minha mulher tiver de ser viúva um dia, preferia que fosse durante a minha vida.

Aquilo está bem!
Isto, também!
A primavera de minha velhice.