Antologia Poética
CONDADO
É preguiça ou enfado
Desse gato danado
Que nem se levanta nem pula
Desse mundo quadrado.
Enfado ou preguiça?
Desse mundo tiririca
Que atiça a sua gula
E se transforma em titica.
Mas que mundo de enfado!
Que universo malvado
Sempre tecendo o seu fardo
Com seu sonho enterrado.
Vá de frente com a vida
Não! Não olhe de lado
Pode ser que a partida
Ainda tenha condado.
Antonio Montes
CHORO CHORADO
Nas lagoas desses copos meus
Afogo-me por ti
Toda essa minha dor
A cada tim, tim um adeus
Sobre o qual eu banho-me
Em lagrimas desse amor.
Meu bem...
Eu trombei no poste
E calo em mim o galo dessa paixão
Eu sei... Você sabe...
Não sou forte!
Então eu choro
O choro chorado da desilusão.
Antonio Montes
PERFEITO EU
Perfeito eu? Não... Nã, nã, ni, não, não!
Eu não sou perfeito e não poderia ser
Pois sou humano e tenho um coração
Coração que me eleva aos céus dos
sonhos e que as vezes torna à mim...
Há esse mundo cruel e medonho.
Um coração que leva as trevas me
coloca entre intrigas e me castiga com
a solidão, me empurra para baixo
fazendo-me sofrer com a minha paixão.
Eu não sou perfeito, também não levo
jeito de ser, nem poderia... Imagine fui
moldado de barro, ganhei vida com
assopro, minha forma é fraca, qualquer
tempestade me faz tremer.
Deixei-me enganar-me por uma
asquerosa rastejante, vendi a lealdade
por um punhado de moeda
e ainda flagelei e crucifiquei o amor.
Eu sou balançado pelos ventos,
perco as minhas vontades para o tempo, tempo
altos e baixos permeiam meus sentimentos.
Sou frágil, sou sentimental eu posso
sim... Eu posso chorar por perder,
por ganhar... Eu posso enganar e ser
enganado, eu sinto...
Há qualquer momento eu posso rir, chorar
posso viver e também é claro...
Sim! Sim... Poderei morrer.
Antonio Montes
A CARTEIRA
Na beira do meio fio da rua
Próximo à boca de lobo
Despencou em tombo, caiu
Sem fala ali, ninguém viu
A carteira, bordada de couro
Sem vida e com repartições
Tombou com alguns tesouro
Ali, Bem ali! Em um dia de estio
Sempre muda, ficou sem fala
Sobre o paralelepípedo frio
Interno de seus segredos
A bela carteirinha, continha...
Cartões de créditos, cheques
Carteira de identidade, CPF
Titulo de eleitor para votar
Carteira de habilitação para dirigir
Uma carta de amor toda cheia.
Era noite tinha brisa, tinha lua
E o luar estava todo cheio de prata
Tinha até receita para um coração
Veja... Um pouco de paciência
Alguns sentimentos de coerência
Um fecho de gratidão
Um sorriso nas presenças
E harmonia dotada de paixão.
Tinha até um bilhetinho...
Era em paginas com pauta
Mandava beijo para a ingrata
Dizia algumas estripulias
Insinuava algumas cascatas
Tinha nele, certos desejos
Tinha abraços, tinha beijos
Tinha até um Deus te cuide!
Na carteira também tinha...
Comprovante de moradia
Rascunhos de recordações
Contava muito carinho
Zipado com sentimento.
O bilhetinho, tinha margens
Tinha flores, falava de amores
Nele... Não tinha rancores.
Antonio Montes
EXASPERAÇÃO
Ofuscada pela claridade da lâmpada
a mariposa da noite, é atraída
pelo reflexo d'água... Despenca de cima
caindo no interior de uma vasilha e,
a um espaço de poucos centímetros
quadrado, mas que para ela é como
se fosse, um oceano de desenganos.
Em desespero, sob água, bate asas
... Bate asas, e não consegue se
desvencilhar do afogamento, bate asas
... Bate asas, e vê o mundo todo
passando n'aquele momento.
Debatendo-se ela observa que o fim
esta próximo... Despeja os últimos
desejos de suas asas no ar...
E nunca mais consegue voar.
Antonio Montes 28/10/16
LOBRIGAR
Sentado a beira da praia
vejo areia veja espuma
vejo azul do céu e as brumas
se perder nas andas do mar.
Ouço os cânticos das sereia
banhar os meus sentimentos
espumas e mares cheias
balançar a todos momentos.
Vejo as asas das gaivotas
bater palmas de felicidades
a alegria bater nas portas
do horizonte e das cidades.
A calma vem ao meu peito
com jeito de paz mundial
no rosto um riso satisfeito
acordando o alto astral.
Antonio Montes
CARNIÇA
Pegue os seus cachorros
E atiça... Atiça em mim?!
Atiça por ai com seu rompante!
Com camuflagem da estupidez
E com a sua preguiça...
Atiça e não analisa e nem observa
Com a sua carranca só faz cobrança
Não se dá conta que é para a carniça
Que você vai e que eu vou...
Todos, todos iremos
Pode ser plebeu padre juiz ou doutor
Filho, mãe, pai, neto ou avô
Com provocação ou não
Se defendo ou se atiça...
Um dia, todos irão se transformar...
Em carniça.
Antonio Montes
CASA COM JANELA
Uma casa com janela que olhava...
Olhava e não via nada!
Nada através do muro de sua lateral
Então olhava para frente de sua rua
E para a parte de traz do seu quintal.
Uma casa com janela que abria...
Horas abria para o seu quintal e visualizava
toda aquela calmaria
Horas abria para a sua lateral...
Nada! Nada era normal
E quando abria para frente, sentia esperança
Viajava em sonhos e via muita gente desigual.
Uma casa velha, já toda broca...
Já não abria... Sonho não tinha
Também não tinha mais agonia
Às portas todas tortas regiam
E a esperança? A esperança tinia e...
Se perdia em seus sonhos...
Todavia, em pesadelos medonhos.
Uma casa com telhado queimado
Que rebatia a seca de um sol fustigado
... Fustigado que queimava que ardia
Rebatia a tormenta de granizo, que tremia
E as goteiras que caia toda fria.
Uma casa com quartos de sonhos...
Sonhos que sonhava ao dormir e cochilar
Sonhava ao pensar e a divagar
Uma casa que era a sua morada...
Seu tudo no mundo uma casa que:
A harmonia um dia reinava.
Antonio Montes
AZEDO E BOM
Oh meu limão, azedo e bom
me de o suco?
Que eu lhe dou meu adoçar.
Com minha jarra e essa farra
Vamos ouriçar?!
Essa saudade que amarra...
lembranças ao tempo e ao lugar
colocando a vida pra amargar.
E esse calor que faz o corpo
tombar ao gosto de espantar
eleva o humor a ficar pouco
e o louco a mudar de lugar.
Oh meu limão! Vamos tomar...
O doce da vida pra voar
e assim plainaremos na alegria
e todos os dias, vamos amar.
Antonio Montes
PINTALGADO
No dia solto de fado
a voz, ecoa pelo ar
ritmo produz o corpo
a ginga entorta o olhar.
A musica eleva a alma
nos braços intimo do ser
bailar irradia a calma...
O sentimento e renascer.
Dia de fado... Asas!
Paixão e amor... Voar!
A felicidade transborda
e vê alegria extravasar.
Sonhos vão para o além
deitar-se no berço futuro
nesse dia, obrigado, amem
pelo passos tão seguros.
Antonio Montes
SICÁRIO
Assina mão assina
assina aqui, sua sina
mão, a sina assassina
... Assassina a sua sina.
É você que faz a sina
sua sorte e sua rima
assassina, alto estima
por ser, mão assassina.
Assina mão, assina
as dividas de sua vida
elas serão sua sina
da sua vida atrevida.
Antonio Montes
PERFAZER
No silencio da noite
ao som da intensa madorna
um suspiro propenso
mistura-se a ressonância do sonho
... Quintal de terra
bola de meia, peteca no ar,
menino deixe de brincadeira...
Venha cá?!
O pipa esta solta aos ventos
ao tempo, em seu momento...
Um olhar sob o horizonte do mar...
Menino venha cá?!
Vá correndo ao compadre
volte antes do cuspe secar
traga o fumo, traga a palha
que hoje eu quero pitar.
Freadas buzinas...
Furdunço com ambulância,
tempo pequeno, assina a sina
o sonho acaba
mais um fim de ressonância.
Antonio Montes
CONTE E FALE
Sim me diga, diga vai?!
Vai dizer, o que, que há?
Se não me diga, não diga!
Se vai dizer, então diga já.
Se ameaça em dizer...
então, vai ter que falar!
Se não que falar, não ameace
e guarde tudo pra você.
Hum! Resolveu, vai falar?!
Fale logo sem demora?!
Não enrole o blá, blá, blá
diga tudo e vá embora.
Essa hora ainda é tempo
de expor tudo que sabe
diga do seu sentimento
contando toda verdade.
Antonio Montes
O poeta é o mais frágil dos sonhadores, rabiscando entre linhas poesia, mostrando que tudo é infinito.
O que não me falta, são dias assim, em que me alimento de poesia!
Ultimamente, até minha respiração está poética...
Cansei de soluçar ou chorar, agora eu quero é só poetar!
Meu-nosso lugar
Apesar de ser manhã,
ainda era escuro.
Canonizamos
no livro da vida,
o beijo eterno
da bondade
revestida de paixão.
Flores delicadíssimas
ornavam as cabeças,
Milagres em forma
de pedras
sob os pés
em resposta de fé.
Esse vento me abraça
e os sabores das amoras
irrompe o inexpressivo
sorriso.
Fotografei su’alma
com meu olhar. Aqui fica!
Ainda dizem coisas dos tempos
das águas doces-salgadas
do nosso ranchinho.
MÉTODO POÉTICO
.
.
Meu método?
O mesmo das Estrelas.
Primeiro, surge uma ideia –
vaga, ou mesmo fantasmagórica.
Ou então uma combinação inesperada
de palavras, por vezes embaraçosa...
Talvez – quem sabe – uma imagem
cujas estranhezas e travessuras
afrontem todos os cânones.
Uma eloquente frase
que cale ao peito
solitária:
sincera
lágrima.
.
Em uma palavra: Poeira
– nuvens de poeira desgarradas
vindas dos confins da mente
e das bordas do acaso.
.
Mas então, depois de muito vagar pelos meus arquivos,
ou de pairar errantemente sobre os meus sonhos,
algumas delas começam a se combinar
– como se, irmãs, viessem
de famílias distintas –
E eis que surge,
alegre,
a Gravidade,
pronta a juntar em um só giro
o que se queria disperso e sem mais rumos:
Ansiosa para, com violenta ternura,
moldar a forma.
.
Por fim, emerge,
do caos girante, uma estrela
– supremo milagre no delirante acaso
de um universo improvável
em sintonia fina.
.
Faz-se o Poema
– estranho acontecimento
cuja tenra fornalha interna
queima a pretensão
de alimentar
as almas...
.
A ti parece, este, um método por demais aleatório?
É porque não sabes de toda a paciência que foi necessária
para não limpar intempestivamente a poeira errante
que por tanto tempo pairava nos escuros céus
dos meus arquivos, sonhos, lembranças.
Quantas vezes fui tentado a deletar
um quase-embrião de verso,
ou quis me desfazer
da tal metáfora
tão desajeitada!
Mas ouvi a voz:
Guarda este pó
que de ti vieste.
.
Sem esta paciência,
não seria possível a criança:
ver, do poema, a forma brotar esperança
como flor que redefine as suas próprias pétalas
e decide, magnífica e hesitante,
se pétalas terá...
.
Ver, da alma poética,
redesenhar-se certo corpo
quando é corpo o que se quer...
E, quando não é isto o que se almeja,
aceitar-se como alma pura-chama,
ou reconhecer-se, mesmo,
tão somente como pó.
a dignidade do pó:
despretensioso,
periférico,
errante.
.
Este é o método:
render-se ao que se tornou possível
no oceano do improvável
com a bem ajustada
sintonia fina.
Respirar
a poesia
como destino
que se fez do acaso...
.
.
[BARROS, José D'Assunção. Revista Sede de Ler, 2024]
"Sob a Pele"
Leon sempre teve uma visão diferente do mundo. Onde outros viam normalidade, ele via perguntas sem resposta. Ele era um garoto de espírito inquieto, alguém que se recusava a seguir o molde. No fundo, ele sabia que estava procurando por algo – talvez liberdade, talvez propósito – mas era difícil definir exatamente o quê. Ele se sentia como um estranho em sua própria pele, como se usasse um “uniforme” que não era feito para ele, algo que todos enxergavam, mas ninguém realmente via.
Quando a noite caía, Leon vagava pelas ruas da cidade. O silêncio das ruas e a brisa fria o faziam sentir-se vivo, como se a noite fosse seu verdadeiro lar, um lugar onde ele não precisava fingir. Ele andava sozinho, absorvendo a solidão, sentindo-se mais em casa nas sombras do que sob o sol ofuscante do dia, onde as expectativas pesavam sobre seus ombros.
Foi numa dessas noites que ele encontrou um velho misterioso, sentado no degrau de um prédio, com o rosto pintado e os olhos cheios de sabedoria e uma melancolia silenciosa. “O que você vê ao se olhar no espelho, garoto?” o velho perguntou, a voz calma, mas carregada de um tom que despertou algo em Leon. Ele hesitou, surpreso pela pergunta, e por fim respondeu, quase sem pensar: “Eu vejo... alguém que não sou eu.”
O velho sorriu, um sorriso triste e cheio de segredos. “Não é a máscara que define quem você é, mas o que você faz com ela.”
Essas palavras ficaram ecoando na mente de Leon, como um enigma que ele precisava desvendar. De volta ao seu quarto, ele olhava no espelho tentando ver além da própria imagem. Ele percebia que vestia o “traje” que o mundo lhe deu, com todas as expectativas e papéis que os outros projetavam nele. Mas agora ele questionava: qual era o seu verdadeiro papel nessa história?
A partir daquele encontro, algo dentro dele mudou. Ele começou a observar os próprios passos, os próprios sonhos. Percebeu que passava a vida escondendo seus verdadeiros desejos, ocultando quem ele era por trás da fachada que os outros esperavam. Mas, como um herói que veste seu uniforme pela primeira vez, Leon decidiu se lançar em sua própria jornada. A máscara não o definiria, mas o que ele escolhia fazer com ela, sim.
Nessa nova fase, ele começou a frequentar lugares que antes evitava, como o antigo ginásio da escola, onde enfrentou a própria insegurança. Passava mais tempo escrevendo e desenhando, descobrindo no papel uma maneira de expressar suas ideias, seus medos e seus sonhos. Suas criações eram fragmentos de sua alma, partes que antes pareciam desconectadas, mas que agora formavam um quadro maior.
E enquanto ele se dedicava a entender e abraçar quem realmente era, percebeu que não estava sozinho. Outras pessoas ao seu redor também carregavam suas próprias “máscaras”, suas próprias inseguranças. Ele conheceu Julia, uma garota que sorria para o mundo, mas que escondia uma tristeza profunda. Aos poucos, eles se tornaram confidentes, revelando segredos e sonhos. Juntos, eles descobriram que não precisavam se encaixar em padrões, mas sim criar seu próprio caminho.
Uma noite, em um dos telhados onde costumavam se encontrar, Julia o olhou e disse: “Leon, talvez a gente nunca pare de usar máscaras. Mas acho que podemos escolher quem queremos ser enquanto as usamos.”
Essas palavras fizeram Leon perceber que ele nunca precisaria escolher entre esconder-se ou mostrar-se completamente. Ele era um herói e, como todos os heróis, podia carregar as marcas de suas batalhas, visíveis ou invisíveis, sem deixar que elas o definissem.
Agora, cada vez que ele caminhava pelas ruas à noite, ele sentia que estava mais próximo do seu verdadeiro eu. Leon não precisava mais do “uniforme” dos outros; ele havia criado o seu próprio. E, como o Sol que nasce após a noite, ele começou a viver cada dia com a certeza de que sua verdadeira essência não precisava ser escondida – apenas vivida.
Evangehlista Araujjo O criador de histórias
O viajante,
é um cultivador
na linguagem das árvores,
tem vocação para sementes,
e, lança ao campo fértil
a boa palavra
No Brasil da atualidade
Tá difícil de viver,
É grande a desigualdade
Sem apóio do poder
Somos vítimas forçados,
Pela pátria humilhados
Divididos feito bois.
Pobre serve um avarento
Só mudando o tratamento,
Que a Justiça dá prós dois.