Angústia
Nunca diga o quanto dói uma dor que não é sua, independentemente da sua interpretação sobre a causa ou o sofrimento. A dor é subjetiva, carregada de significados únicos que, muitas vezes, nem mesmo quem a vive consegue compreender completamente.
O luto é uma condição que ou levamos para vida ou nos tira ela. Mesmo seguindo com ele, é inegável que uma parte de nós se vai com aqueles que amamos e nesse vazio que fica, entra uma saudade ainda maior do que o espaço pode comportar.
"Absolutamente tudo pode ser modificado pelo ângulo do nosso olhar, como por exemplo os erros cometidos, para uns o cadafalso da angústia, para outros o aprendizado libertador.
Evite as lamentações e procure ocupar aquele segundo pelotão, lá o espaço é mais arejado e menos ocupado."
Por que renasce tão lentamente pequena rosa? Por que vais tão depressa lua nova? Me balanças à procura de frutos, nada cai de mim; por que mesmo assim ainda insistes em me ouvir?
Dilúvio
Olhei para o céu nublado
com os meus olhos também nublados.
O tempo fechado.
O coração machucado.
Tudo anunciado.
O meu dilúvio havia chegado.
Por vezes fui levado.
Caminhando triste, angustiado.
O dilúvio não cessava.
Os meus olhos, cansados ficavam.
Por dias e noites na chuva eu me vi.
Mergulhado em lágrimas que só eu via, só eu sentia.
Mergulhado na saudade que me invadia,
em medos e incertezas que não partiam.
Preso à angústia que me afligia.
E mesmo que eu tentasse sorrir
para afastar o que eu sentia,
no fundo eu sabia
que ainda sim dilúvio eu seria.
"Muitas vezes já me senti premido pelas circunstâncias e colocado em cheque quanto aos postulados fundamentais em que acredito.
É uma coisa muito difícil porque dói, machuca e extenua, a sensação é de estar nadando contra a maré de um mar revolto que te empurra para a margem de si mesmo.
Ainda assim, nesses momentos de angústia, confesso, o maior lenitivo que encontro é saber que estou lutando por uma das parcelas mais importantes da minha essência, o direito de expressar quem sou, minhas crenças e valores, e a fé de que podemos sim fazer diferença neste mundo inóspito e passageiro.
Por isso jamais deixarei de ser crédulo na boa intencionalidade da alma humana, e expressarei a minha dimensão de amor e benquerer para com todos que se predispuserem a recebê-lo.
Eu sei, tenho absoluta convicção disso, que sempre em algum lugar, haverá alguém que mereça receber o melhor do que há em mim."
Aquilo que me asfixia à alma, que prolonga o meu alento, que mistura os pensamentos, que me tira de viver.
Como o nada pode doer tanto, como aquilo que não se ver posso sentir, como sangra o meu corpo à dentro, sem que eu deixe de existir.
Os olhos vermelhos se escondem atrás de uma lente preta, que culmina toda a dor, que tira a minha verdade, que deixa meu mundo incolor.
Os meus passos nunca mais andaram em silêncio, a todo canto que prossigo posso escuta-los, talvez eu já esteja enterrado, mas ainda não me mataram.
"Com o passar dos anos aprendi que não importa o quanto me preocupe, os problemas simplesmente não se resolvem com minha angústia."
Melancolia
És linda triste,
Ainda que insiste
A me fazer deprimir,
Reter o meu sorrir!
A pensar me fazer
Que amar é morrer
De desgosto e decepção,
Sem gosto para a paixão
Que nos dilacera o peito
Como uma fera tem feito!
Amarga melancolia,
Larga de apatia,
Longa de temores,
Prolonga as dores
Que em meu seio tenho
E os anseios que venho
Tentando superar,
Procurando achar
Sozinho sem sorrir,
Caminho a se seguir!
Bela tua tristeza;
Singela natureza
De madrugadas insones,
Transformadas em ciclones
De sentimento e emoção
De dentro do meu coração
Pesaroso e sombrio ―
Amoroso, mas frio!
Destrói-me; faz-me chorar!
Corrói-me; traz-me um ar
Pesado sobre a minha mente,
De enfado, e a encobre totalmente,
Desejando tão somente a morte,
Deixando de ser quente e forte!
O riso se transforma em pranto!
Um sorriso se forma no canto
Do rosto, todo ele amarelado
De desgosto do modo levado
Que tenho vivido minha vida!
No cenho abatido, linhas doridas
Tão cedo trazidas de mordaz sentimento!
Coração ledo na lida, mas sem mais alento!
Melancolia que me toma, fazendo triste
Melodia que se forma sendo que inexiste
Agora em mim, esse terrível sentimento!
Hora do fim, desse sensível esgotamento.
Afeto desperdiçado
Nós poderíamos ter esperado mais,
ter compartilhado mais e brigado menos,
ter descoberto mais o que agradava
e muito menos o que nos afastava.
Nós teríamos sido mais amigos,
fazendo mais planos e mais ideias,
com mais afeto e gentilezas.
Ter tido muito mais carinho,
sem tanto tempo para discutir,
falar e retrucar até ofender.
Teríamos sido mais íntimos,
sem tantas cobranças e comparações,
sem querer ser o que não somos.
Ter falado menos
e colaborado mais,
sem dar espaço
a um vazio tão grande.
Não nos distanciaríamos tanto,
cultivando sentimentos tristes,
com tantas angustias e solidão,
se permitíssemos mais carinho.
Sem tantas comparações e reclamações,
teríamos tido mais tempo
para abraçar e beijar,
e para amar muito mais.
Silêncio
Há silêncio como resposta,
e aquele melhor do que ferir,
mas tem outro que é treva,
quando a aflição é urgente.
É o que apaga o sorriso,
espalha o frio de angústia,
congela a esperança,
e esculpe a saudade.
Derrete como gelo,
todos os sonhos,
e faz da ausência,
um profundo vazio.
Agonia
Nada acontece
como sempre
e também
parece que nada de mais acontecerá
Sempre esperando por algo
mas ao mesmo tempo
sabendo que no fim
nada vai mudar
O tédio reina
e se alimenta da angústia
resultando em pura agonia
Nada disso aconteceria
se algo fosse feito
Na verdade, o algo não existe
é uma ação sem efeito.
Quem não tem fé não tem chão como referência e nem luz para o guiar. Vive em queda livre e no escuro total.
Na carência, a alma implora; no excesso, o coração cansa; no meio, a paz mora.
A falta gera angústia: tudo aperta e grita; na vida aflita, o peito chora.
No excesso, tudo sufoca, tudo irrita; o fôlego vai embora.
Nos extremos, a busca é longa; no meio-termo, a paz vigora. O equilíbrio prolonga, serenidade aflora.