Amor Triste

⁠Rotundas saudades saúdam ao longe em trombetas soturnas...

⁠Eu mesma já tentei me alcançar e quase não voltei.
Por isso entendo as distâncias necessárias.

⁠Se eu mentir que não ligo, saiba me desmentir. Só não me peça de repente para partir.

⁠Alcance-me toda, se prometer não fugir.
Mas quem poderia?

Sou um segredo fundo perambulando no meio das pessoas.

⁠Mas de repente tive uma ideia toda sem sentido:
Tudo sempre fez sentido, e este é mesmo o meu caminho.

⁠Abraça-me forte até arrancar a parte de mim que é tua, e aceitarei ficar em migalhas sem dor.

⁠Se algumas das palavras minhas entendessem o que dizem, fugiriam depressa para lugar nenhum...

⁠Que dor pontuda a de não te ter, ouvindo-te por toda parte dentro de mim...

⁠Meu coração soprou teu nome e quis parar...

⁠Saudade... de quê?
Essa é a saudade que mais dói: de quê?

⁠"Olá, estranho, há quanto tempo?" - disse eu para mim mesma, fugindo depressa do espelho...

⁠Verdadeiramente fui por demais verdadeira.
Minha sentença é derradeira.

⁠O que eu verdadeiramente falo apenas se pode sentir, não ouvir.
É necessário estar dentro de alguém para ouvi-lo bem.

⁠Acabou, acabou.
Mas repare: nunca antes havia começado.

⁠Só me dê a mão agora, me ajude a entender por que no mundo há tanta coisa breve que devia durar, e outras tantas coisas que deviam ser fugazes e parecem para sempre...

⁠Eu não aceito não entender.
Por isso o mundo me desagrada, e desagrado às pessoas por estar triste.

Não gaste o seu tempo com inutilidades e futilidades, amor.
Se o tempo é pouco eu te dou qualidade ao invés de quantidade.
Eu te amo.

nunca mais trago o amor
os dias
de volta
as cartas sobre
a mesa
nunca mais o poste
o papel colado
a cuspe

e lágrima

passam as folhas
as palavras
passam

entre concreto
e bitucas de cigarro
os passos
vão de encontro
ao passado

os muros
repetem
meia volta
nunca mais
três dias e ao
acaso
o som dos saltos
e os buracos

nunca mais trago o amor
os punhos
erguidos
os cartazes sobre
o ventre
livre

passam os muros
as folhas
caem
e secam
tristes

Talvez nosso amor esteja a sete palmos abaixo da terra.