Amor Tecnológico
Pra você guardei o amor que nunca soube dar, o amor que tive e vi sem me deixar sentir sem conseguir provar sem entregar e decidir.
Convenientemente aplicada a qualquer situação, o amor vence sempre. É um fato que se verifica empiricamente. O amor é a melhor política. A melhor não só para os que são amados, mas também para quem ama. Pois o amor é um potencial de energia.
Balada do amor através das idades
Eu te gosto, você me gosta
desde tempos imemoriais.
Eu era grego, você troiana,
troiana mas não Helena.
Saí do cavalo de pau
para matar seu irmão.
Matei, brigamos, morremos.
Virei soldado romano,
perseguidor de cristãos.
Na porta da catacumba
encontrei-te novamente.
Mas quando vi você nua
caída na areia do circo
e o leão que vinha vindo,
dei um pulo desesperado
e o leão comeu nós dois.
Depois fui pirata mouro,
flagelo da Tripolitânia.
Toquei fogo na fragata
onde você se escondia
da fúria de meu bergantim.
Mas quando ia te pegar
e te fazer minha escrava,
você fez o sinal-da-cruz
e rasgou o pito a punhal..
Me suicidei também.
Depois (tempos mais amenos)
fui cortesão de Versailles,
espirituoso e devasso.
Você cismou de ser freira..
Pulei o muro do convento
mas complicações políticas
nos levaram à guilhotina.
Hoje sou moço moderno,
remo, pulo, danço, boxo,
tenho dinheiro no banco.
Você é uma loura notável
boxa, dança, pula, rema.
Seu pai é que não faz gosto.
Mas depois de mil peripécias,
eu, herói da Paramount,
te abraço, beijo e casamos.
Sem amor não poderíamos sobreviver. Os seres humanos são criaturas sociais, e sentir-se valorizado pelos outros é a própria base da vida em comunidade.
O amor é um sentimento tão profundo que nos deixa cegos para tudo mais.É uma verdade absoluta: se a paixão é capaz de transformar o mais hábil dos homens em um louco, o amor é capaz de transformar a mais louca das criaturas em uma pessoa muito hábil. Hábil até demais!
É cedo demais pra desacreditar do amor. É cedo demais pra desistir. É cedo demais pra pensar que não tem final feliz.
TEUS OLHOS
Olhos do meu Amor! Infantes loiros
Que trazem os meus presos, endoidados!
Neles deixei, um dia, os meus tesouros:
Meus anéis, minhas rendas, meus brocados.
Neles ficaram meus palácios moiros,
Meus carros de combate, destroçados,
Os meus diamantes, todos os meus oiros
Que trouxe d'Além-Mundos ignorados!
Olhos do meu Amor! Fontes... cisternas...
Enigmáticas campas medievais...
Jardins de Espanha... catedrais eternas...
Berço vindo do Céu à minha porta...
Ó meu leito de núpcias irreais!...
Meu sumptuoso túmulo de morta!...
Submetido à dor,
todo amor passa pelas fases do sacrifício,
da raiva, da revolta, da tristeza,
do sofrimento puro e simples,
até o momento em que a pessoa (que era amada)
já não faz diferença alguma...
Nesta vida o que vale é o amor. O resto é tudo pinóia...
Nota: Adaptação de trecho do livro "Dona Flor e seus dois maridos"
— E o amor, o amor, cara. O que eu faço com isso? (...)
— Amor não existe. É uma invenção capitalista.
"Paixão termina, amor não. Amor é aquilo que a gente deixa ocupar todos os nossos espaços, enquanto for bem-vindo, e que transferimos para o quartinho dos fundos quando não funciona mais, mas que nunca expulsamos definitivamente de casa."
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo. O essencial faz a vida valer a pena.
Negar amor a uma mulher encantadora e linda é coisa que não se deve fazer em hipótese alguma, pois isso é gravíssimo pecado: Deus castiga...
Encontros e desencontros do amor
Cada encontro está carregado de perda. Ou de perdas. Às vezes duas pessoas que se amam (amigos, casados, solteiros, amantes, namorados) se encontram e são felizes. Ao fim da felicidade, um deles chora. Ou fica triste. Ou baixa os olhos. Ou é invadido por uma inexplicável melancolia. É a perda que está escondida no deslumbramento de cada encontro.
O encontro humano é tão raro que, mesmo quando ocorre, vem carregado de todas as experiências de desencontros anteriores. Quando você está perto de alguém e não consegue expressar tudo o que está claro e simples na sua cabeça, você está tendo um desencontro. Aquela pessoa que lhe dá um extremo cansaço de explicar as coisas é alguém com quem você se desencontra. Aquela a quem você admira tanto, que lhe impede de falar, também é um agente de desencontro, por mais encontros que você tenha com as causas da sua admiração por ele.
A pessoa que só pensa naquilo em que vai falar e não naquilo que você está dizendo para ela é alguém com quem você se desencontra. Alguém que o ama ou o detesta, sem nunca ter sofrido a seu lado, é alguém desencontrado de você. Cada desencontro é perda porque é a irrealização do que teria sido uma possibilidade de afeto. É a experiência de desencontros que ensina o valor dos raros encontros que a vida permite. A própria vida é uma espécie de ante-sala do grande encontro (com o todo? O nada?).
Por isso, talvez ele nada mais seja do que uma provocação de desencontros preparatórios da penetração na essência do ser. Mas, por isso ou por aquilo, cada encontro está carregado de perda. E no ato de sentir-se feliz associa-se a ideia do passageiro que é tudo, do amanhã cheio de interrogações, da exceção que aquilo significa. A partir daí, uma tristeza muito particular se instala.
A tristeza feliz. Tristeza feliz é a que só surge depois dos encontros verdadeiros, tão raros. Encontros verdadeiros são os que se realizam de ser para ser e não de inteligência para inteligência ou de interesse para interesse. Os encontros verdadeiros prescindem de palavras, eles realizam em cada pessoa, a parte delas que se sublimou, ficou pura, melhor, louca, mas a parte que responde a carências e às certezas anteriores aos fatos.
É mais fácil, para quem tem um encontro verdadeiro, acabar triste pela certeza da fluidez da felicidade vivida do que sair cantando a alegria da felicidade vivida ou trocada. Quem se alegra demais se distancia da felicidade. Felicidade está mais próxima da paz que da alegria, do silêncio do que da festa. Felicidade está perto da tristeza, porque a certeza da perda se instala a cada vez que estamos felizes.
É esta certeza - a da perda - que provoca aquela lágrima ou aquela angústia que se instala após os verdadeiros encontros. Há sempre uma despedida em cada alegria. Há sempre um "e depois?" após cada felicidade. Há sempre uma saudade na hora de cada encontro. Antecipada. Disso só se salva quem se cura, ou seja, quem deixa de estar feliz para ser feliz, quem passa do estar para o ser.