Amor e Desilusão
Todos os dias eu acordo, e visto minha armadura. Sim...armadura!
Eu já vesti flores. Eu já respirei sonhos, expirei poesia e transpirei amores...
Eu já acreditei no lado bom das pessoas, já compreendi e justifiquei o lado ruim, afinal pra mim, ninguém era tão mau assim.
Eu já amei sem medidas, pessoas que não mereciam nem se quer a minha atenção, e sabe o que é engraçado? Mesmo sabendo de tudo isso, eu ainda era capaz de amar...
Mas a vida anda às avessas. O que era pra ser um processo de lapidação do bruto para a forma mais preciosa, se torna o contrário, porque viver é lapidar-se ao contrário...o precioso acaba se tornando bruto, e o que era flor, se torna dor...
Foi doloroso perder as pétalas que eu tanto amava vestir. E eu tive que me vestir de pedras, pra que ninguém mais pudesse me atingir.
E todos os dias eu acordo ...visto a minha armadura de pedras para conseguir viver...ou simplesmente sobreviver.
Uma baixa autoestima e experiências traumáticas podem provocar a incapacidade de expressar sentimentos ... amor.
As superficialidades se tornam fugas, relacionamentos com parceiros que não alcançam e atingem as emoções necessárias - sem admiração , sem envolvimento propositalmente para evitar transpor e reiniciar relações e tocar a ferida não curada.
A QUATRO MIL METROS DE VOCÊ
Rarefeito é o ar apesar do vento
Entra em mim como água no deserto
O diafragma em soluços, tento
A atmosfera que és tu, liberto.
Respiro fundo e olho a queda
A tristeza escarlate-artéria depreda
O sangue azul-veneno em mim enreda
Teu cheiro em meus alvéolos já não degreda.
Almejo as habilidades dos pássaros
Invejo os leves pulmões caros
Desprender-me dos limites bárbaros
A chegada ao topo é para os raros.
Meus ouvidos me falam dos teus ecos
Martela em meus tímpanos apáticos
Destoam além dos meus instintos poéticos
Seus ecléticos pensamentos sarcásticos.
Aqui nesse quarto escuro, sigo sem rumo.
Querendo apenas não existir
Ah! Que saudades eu sinto de sorrir
Queres me fazer de ti também gostar?
Não vê que ainda estou por outro a sofrer?
Não me permito por ti também padecer.
Este é novo
O mais completo
Vem de dentro
Pensamento
Rasga a carne
Em versos
Deixando claro
O dizer da alma.
Num vil pensamento
O olhar é perdido
Descartando explicações
Construindo muralhas
Passos são desnecessários
E os caminhos são incertos
Desiludida, sozinha, da mesma forma como sozinha se iludiu. Fica com um copo vazio entre as mãos e com algo mais difícil de preencher por dentro. Ela, um mero adubo daquela planta que, aos poucos, floresce sobre um túmulo de um amor que murchou. Aquela planta rara à qual damos o nome de felicidade.
Guilhotina
Eu sei o quanto tudo pode ser difícil,
Para uma mulher e para um homem,
Entendo que o Amor tem muitos artifícios,
E tenho medo que essa pressa assim se torne,
Este movimento que faz da vida acelerada,
Que conturbada, dos sonhos afiada navalha.
A pior dor, é a da perca.
A dor pior que a perca, é a que devemos, temos, e nos vemos obrigados a ter que abrir mão, para não perdermos nós mesmos.
Até onde é possível haver escolhas, sem haver dor?
O bom amor, o melhor amor, é aquele que não obriga você a deixá-lo perder nas memórias e no caminho.
O pior amor é aquele despertado bem e bondoso no início, e como rosa, se transformado em puro espinho, que cada vez corta, e corta, e fere.
Já não sinto dor. Já não sinto mais nada, já não sinto.
Só pergunto onde nos deixamos sermos mal amados, desamados, meio amados.
O amor que ficar, será aquele único que não fira e realmente ame em todos os sentidos das palavras, não apenas em alguns.
Preciso que o amor que fique, não seja tortuoso. Seja amor.
Aqueles que nascem para serem sozinhos, não podem permanecer juntos pra sempre
Vivíamos constantemente a buscar razões para seguirmos sós, até que aceitamos de forma iminente nossos destinos enfim
Soneto de realidade
Outra vez uma história mal contada...
E acada frágil argumentolançado,
quebro, como umvaso despedaçado,
retrato da minha alma machucada...
A decepção bruscamente instaurada...
O afeto assim se fez, menosprezado,
a confiança, este bem tão estimado,
destruída, implodida; reduzida a nada...
Humilhado, sem ter tidoo ônus de errar,
iludido, perdido no limbo desse ínterim,
até sentir o açoite da traição aestalar...
Respiro consternado, perante o fim,
quizera eu, apenas a utopia de amar,
sem que fosse usado isso, contra mim.
Muitos terminam com seu jardim destruído por prepararem um lugar florido para pessoas erradas. Por isso, tiveram suas flores pisadas.
Meu olhar ficou fixo nos seus. Foi a batida no coração que rendeu uma canção. Meus sinceros desejos foram realizados. Um único pedido que você me concedeu foi amar você até o infinito. Veja o que aconteceu. A falta de sinceridade nos fez partir. Na imensidão do mar azul, olhei em direção ao meu verdadeiro amor. Será que é tão importante amar ou ser amado? Porque tudo é exatamente assim. Ninguém saberá lhe responder por que a vida é uma tal incerteza. Você ganha hoje e vai perder amanhã. Não é ao contrário porque não estamos no presente. É assim que eu termino, talvez um pouco mais experiente.
Me diz uma verdade que eu nunca tive o privilégio de ouvir. Fala aquela sinceridade de antigamente. Me olha nos olhos, segura na minha mão até a gente perceber que ela já está toda suada. Apenas me diz, apenas seja o que eu sempre desejei. Não é pedir demais, não seja um tanto faz.
ARRÍTMICO (soneto)
Amar você foi coisa de espaço
A sofrência é mais que uma dor
Foi tão bom ser teu, o teu laço
Trançado ao teu querer, amor!
Aqui num silêncio, falta pedaço
Pouco me resta do que foi, calor
Também falta! Falta o compasso
Abraços, afagos teus, aquela flor!
E aqui neste poetar derramado
A morte é menos que a saudade
E pelos olhos o pesar é vazado...
E ao ver o teu cheiro na solidão
Então, vejo que sou só metade
E arrítmico o matuto coração...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
10/07/2020, 14’35” – Triângulo Mineiro
SONETO SEM VOLTA
Vai-se mais um talvez pra outra parada
Vai-se um, outro, enfim decaídas cenas
Que dói no peito, na solidão, e apenas
A teimosia para essa pesada derrocada
Cá na quimera, quando a dura nortada
Bafeja, os devaneios em alças plenas
Ruflam a alma em emoções pequenas
No ocaso do horizonte atiçando cilada
Também dos silêncios onde abotoam
Os suspiros, um a um, não perdoam
E choram, lágrimas pelos olhos vais
Na perfídia imatura, ilusões escoltam
Os sonhos, que sempre ao amor voltam
Mas que ao poético não voltam mais...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Outubro de 2020, 20’20’ – Triângulo Mineiro
SOFRENTE CANÇÃO
O tempo amarelou meu verso apaixonado
Porém, não afastou aquela ilusão sonante
Deixou o instante imaculado e no passado
De modo nostálgica a saudade sussurrante
E, cá, eu, pelas bandas desde meu cerrado
Com sensação no peito e emoção gigante
Tão distante, me vejo, num suspiro calado
Com uma faiscante aflição, tão devorante!
Que pena! Tudo parecia não ser engano
Teu olhar tinha o sonido dum suave piano
Trazendo aquele sossego para o coração...
Mas a poesia que aparentava mais sentido
Na privação o meu desejo tornou-se diluído
Em dor, em solidão e uma sofrente canção!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
17 de agosto, 2022, 16’58” – Araguari, MG