Amizade Superficial
Às vezes prefiro a solidão, o silêncio de minha companhia.
Já que, num mundo tão cheio de gente, com tanta informação rolando solta, não conversamos mais, não dialogamos entre nós.
O que acontece é um vômito de ideias unilaterais, de fotos, de momentos isolados cheios de nosso ego, que recém aprendeu a fazer a roda e quer mostrar a todos o quanto é um ser humano digno de atenção e likes.
Mas por quê? Me digam vocês o porquê? Preferem estranhos comentando sua vida, dando-lhes migalhas com corações vermelhos e vazios, ao invés de compartilhar seus momentos com quem já lhe é tão íntimo, sejam eles bons ou ruins? Têm medo da crítica, do confronto, da verdade dos corações honestos e amigos? Têm medo da própria vulnerabilidade?
Se não o fiz antes, permito que sejam o que vocês são. Bons, maus, sorridentes, egocêntricos, ingênuos. Só não se escondam atrás do morno, do monótono, do tanto faz. Isso mata qualquer relacionamento, distancia qualquer coração. E ao invés de tentar ressucitá-lo mais uma vez, tenho preferido deixá-lo morrer.
E é por isso que tenho preferido a minha companhia ao invés das relações superficiais. Pois, estando comigo reconheço quem sou, o meu lado bom e o meu nem tanto, e dou aprovação e espaço para que exista e se expresse.
E finalmente, compreendo que quem permanece, quem ainda se abre pra trocar e agregar a meu ser na verdade foi a minha essência quem os escolheu para aqui permanecer.
Mas meu coração sempre bateu pelo efêmero..
O desafio humano é ver o outro sem a casca. Aprecia pessoas apenas quem assim o faz. o mesmo se daá com laranjas. Se não retirar a casca, não se pode dizer que realmente aprecia pessoas, ou laranjas, ou o conteúdo intrínseco disso.
Qualquer olhar ou julgamento apenas pela casca - e não pela essência - somente confirmará a hipocrisia de uma vida robótica e medíocre, segundo a qual todos os seres devem vestir-se de cascas iguais, e falar sobre assuntos banais, e não conhecer, não chegar à alma do outro. Nisso, há um sério problema: a vontade de conviver com cascas, e não com o conteúdo da alma de outra pessoa.
Não se julga um livro pela capa. Não se julga alguém pela casca. Por baixo dela, há toda uma história, há várias versões, há alma, há um pouco do Universo. Sem conhecer isso, nada se conhecerá verdadeiramente.
Existem pessoas que nos surpreendem mudando nossa mentalidade, mostrando que existe algo além de nossas ambições superficiais.