Amizade Infantil
LIÇÃO DA ABELHA-RAINHA AO ZANGÃO ABUSADO
Era uma abelha-rainha zangada com seu zangão,
Pois todo dia ele vinha e esquecia o seu ferrão.
O zangão pedia à rainha o ferrão dela emprestado,
E quando o usava saía sem nem dizer obrigado.
Parecia que a rainha tinha o dever de lhe dar
O ferrão que ela tinha, e nem sequer podia usar.
Mesmo contrariada, a rainha atendia o pedido,
Achava mesquinharia não fazer um favor ao amigo.
Acontece que todo dia, todo dia sem esquecer
O zangão sempre saía e não lembrava de agradecer.
Um dia quando o zangão chegou pra fazer o empréstimo,
A rainha olhou pra ele e disse num tom bem completo:
"É muito feio você pra vida não estar preparado.
Todo dia você esquece do seu ferrão de bom grado.
Não vejo nenhum problema no meu ferrão emprestar.
Acontece que é muito feio dos favores abusar.
Além de ser feio explorar os favores de um amigo,
É mais feio, ainda, você ser mal agradecido."
O zangão, surpreendido, ficou "de boca aberta",
Não imaginava que a rainha lhe diria verdades tão certas.
Todo envergonhado, o zangão saiu de fininho
E foi embora voando, com o seu coração bem partido.
Chegando em casa chorou e passou a noite pensando.
No outro dia voltou e à rainha foi logo falando:
"Você é uma amiga que me ama de verdade.
Me ensinou que é importante respeitar as amizades.
Eu quero lhe agradecer por tudo o que me disse,
Muitas vezes nessa vida agimos com muita burrice.
Nunca mais vou abusar do seu nobre coração
E não vou mais me esquecer de andar com meu ferrão."
Depois de agradecer os ensinamentos da abelha-rainha,
O zangão saiu feliz, voando com muita euforia.
Ele aprendeu a lição que nunca mais vai esquecer:
"É muito bom ter amigos que lhes ensinem a crescer".
A abelha-rainha, que sempre ajudou ao zangão,
Ensinou para ele muito mais que uma linda lição
Ela ensinou que na vida é normal todo mundo errar,
Mas é muito feio, pra todos, com o erro se acostumar.
Nara Minervino
"O direito do trabalho existe para poupar o trabalhador da exploração do capital e para poupar a criança do roubo de suas infâncias".
Complexo da Chapeuzinho
─ Senhor Tucano, por que esse bico tão grande? Perguntaram os filhotinhos de Bem-te-vi.
─ Não é para lhes fazer cócegas! Respondeu o malvado.
Sou filho: mas que filho sou?
Como nasci e como vou crescer?
Onde meu sangue está instalado?
Que lição na escola irei aprender?
Será que a vida me espera
com lápis e pincel pra eu pintar?
Com brincadeiras, musiquinhas
junto a colegas compartilhar?
E, se eu morar numa rua à margem
do coração desta periferia,
poderei contemplar a paisagem
do que hoje ainda é fantasia?
Tenho medo de ir à escola
e logo assumir responsabilidade
Mas quero conhecer o alfabeto
e outras proporções da cidade
para o meu futuro dar certo
Não, não! Não quero pensar!
Eu quero é me divertir.
Quero brincar no parquinho.
Quero cantar e também sorrir.
Quero fazer muitos rabiscos.
Quero meu mundo colorir.
Que não tardando me chegue,
o que prevê a Lei do Brasil:
creches, praças, cinema...
Quando a Magna sair do papel
se fará nosso justo sistema
(MONTEIRO, A. L. Pensamento Infantil. In: GONDIM, Kélisson (Org.). Vozes Perdidas no tempo. Brodowski: Palavra é Arte, 2020. p. 33).
O mosquito escreve
O mosquito pernilongo
trança as pernas, faz um M,
depois, treme, treme, treme,
faz um O bastante oblongo,
faz um S.
O mosquito sobe e desce.
Com artes que ninguém vê,
faz um Q,
faz um U, e faz um I.
Este mosquito
esquisito
cruza as patas, faz um T.
E aí,
se arredonda e faz outro O,
mais bonito.
Oh!
Já não é analfabeto,
esse inseto,
pois sabe escrever seu nome.
Mas depois vai procurar
alguém que possa picar,
pois escrever cansa,
não é, criança?
E ele está com muita fome.
Criançar
Visite seus avós e veja que você e seus primos nunca estiveram a sós
Provoque a infância que está presa em seus dedos
Inspire-se no bom astral infantil e sem os medos
Explore a gargalhada que inveja a velharada
Corra em redor da mesa roubando os bolinhos
Suba no sofá com os pés sujinhos
Faça pirraça com seu irmão ou com sua irmã
Pule o muro do vizinho e pegue uma maçã
Fuja do cachorro raivoso
Trace um plano barulhento, um plano ardiloso
Sem pedir, abra o pacote de biscoito recheado
Brinque na chuva e volte pra casa de cabelo molhado
Houve muito choro, houve muita briga
Houve muitos dias de dores de barriga
Criança é ser puramente sem maldade
É fazer tudo errado, é deixar saudade
Uma infância bem vivida é aquela jamais esquecida
Cada um tem a sua versão
E seja como for, cada momento teve muita diversão
Se o pessoal vê as minhas três vontades engordando desse jeito e crescendo que nem balão, eles vão rir, aposto. Eles não entendem essas coisas, acham que é infantil, não levam a sério. Eu tenho que achar depressa um lugar pra esconder as três: se tem coisa que eu não quero mais é ver gente grande rindo de mim.
Foi-se o tempo em que tirar doce da boca criança era sinônimo de maldade, roubar a criança de dentro de uma criança é crime que não cabe Habeas Corpus.
Se as interrogações são o atrito da sabedoria ou a razão de andar sobre as nuvens, preserve a idade das interrogações ou a da infância para não viver a despencar na vida.
Não devia ser poesia
Assunto que traz tanta agonia
Mas faz parte da sociedade
E deve ter notoriedade
Todo o caso de obesidade
Mais sério ainda no Brasil
É cuidar da obesidade infantil
Tratada com tanto descaso
Pelos pais de um país em atraso
Com a ajuda da nutrição
Vamos encontrando uma solução
Para os pais, atenção e educação
Para os filhos, uma equilibrada refeição!
Eu vi um ângulo obtuso
Ficar inteligente
E a boca da noite
Palitar os dentes.
Vi um braço de mar
Coçando o sovaco
E também dois tatus
Jogando buraco.
Eu vi um nó cego
Andando de bengala
E vi uma andorinha
Arrumando a mala.
Vi um pé de vento
Calçar as botinas
E o seu cavalo-motor
Sacudir as crinas.
Vi uma mosca entrando
Em boca fechada
E um beco sem saída
Que não tinha entrada.
É a pura verdade,
A mais nem um til,
E tudo aconteceu
Num primeiro de abril.
O ser humano é como o paginar de um livro. O enredo da sua história pode mudar no capítulo seguinte, em qualquer fase da vida.
Mude o seu preconceito para conceito. O preconceito é uma manifestação hostil, enquanto o conceito, é a concepção de uma opinião.