Amigo Leal
Relíquia íntima
Ilustríssimo, caro e velho amigo,
Saberás que, por um motivo urgente,
Na quinta-feira, nove do corrente,
Preciso muito de falar contigo.
E aproveitando o portador te digo,
Que nessa ocasião terás presente,
A esperada gravura de patente
Em que o Dante regressa do Inimigo.
Manda-me pois dizer pelo bombeiro
Se às três e meia te acharás postado
Junto à porta do Garnier livreiro:
Senão, escolhe outro lugar azado;
Mas dá logo a resposta ao mensageiro,
E continua a crer no teu Machado.
Não deves contar ao teu amigo que foste chifrado. Mesmo que não se ria de ti pode aproveitar a informação.
A amizade dos livros é uma imitação atenuada da amizade dos homens; não há amigo tão complacente como um livro.
Uma das funções principais de um amigo consiste em sofrer, sob uma forma mais doce e simbólica, os castigos que desejaríamos e não podemos infligir aos nossos inimigos.
Há horas em que o homem está cheio de angústia e revela ao amigo coisas que até aí dissimulou com muito cuidado; a alma sente-se então levada irresistivelmente a comunicar-se toda inteira, a abrir mesmo as suas profundezas íntimas ao amigo, para que cresça a sua amizade por nós.
Existe um critério quase infalível para determinar se um homem é realmente teu amigo: o modo como refere opiniões hostis ou descorteses a teu respeito.
Um verdadeiro amigo é o maior de todos os bens e entretanto, é aquele com que menos nos preocupamos em adquirir.