Amigo Leal
[Tocar a consciência]
Me vi sentada entre as paredes do quarto. O olhar perdido como quem tenta a todo
custo enxergar o horizonte mais distante ou adivinhar o futuro.
Foi nesse momento, que uma brisa passou pelos meus olhos e por um instante perdi
meu olhar. Me dei conta daquele embrulho meio amassado, com laços discretos e uma
cor tão desafinada.
Ao me aproximar para ver o que havia dentro do embrulho, observei a tampa meio
aberta e fui tomada pelo medo, uma sensação intensa de perigo.
Por um relance, parecia um tanto assustador chegar à tamanha profundidade e
aparentemente tão desconhecida.
Foi como chegar à beira de um penhasco e arriscar jogar-me às profundas e escuras
águas do oceano, que batem agressivamente nas pedras encostadas sobre a terra.
Quando recobrei a consciência, pensei ter fantasiado e por alguns segundos, percebi
que só estava tentando ver a mim mesma.
Eu quero um ombro sobre o meu travesseiro,
um carinho terno e demorado,
que me faça suave o rosto,
o sorriso, a face inteira.
Quero uma mão que
delicadamente toque os meus cabelos,
sem choro,
sem lágrimas,
sem pitadas de rancor no coração.
Que apague a luz
e deixe que as estrelas
iluminem a penumbra do quarto.
Que cuide do meu sono e do meu sonho,
me cobrindo com um lençol de esperança...
Até assim...
pegar no sono
e depois poder acordar,
sem a desilusão de ter sido fantasia..
A racionalidade exagerada
é nada menos que a neurose
muito bem disfarçada.
São as nossas máscaras
que criamos para nos esconder
(e evitar) de nós mesmos.]
Ah noite
que não consola,
apavora.
Chega a fazer versos
de cada pedaço
de silêncio,
dando 'nós'
em cada vento sussurrado,
inventado.
Universo: acho que nunca te pedi nada, mas hoje te peço... conspire a meu favor! Eu
aguardo, obrigada!
Mas não demore, a esperança a longo prazo me mata mais do que a certeza de não
conseguir.
Não é tristeza,
é uma vontade de agarrar o sonho,
virar e revirar os lençóis do desejo.
Por isso quero sempre dormir!
Quase a noite inteira
eu pude ver a ilusão.
Ah mundo real que me queima!
Deixe-me ver a luz que te permeia.
Há que se decidir.
Este meio termo de estar
atrás das costas é um lugar árido.
Quando se vê,
já se queimou os pés, o rosto, a alma...
Eu descobri um baú de infinidades
cheio de cartas, amores, desamores, esperanças, dúvidas... e outros mil sonhos e
desencantos...
Todos os dias abro-o por curiosidade
exceto os dias em que mereço descanso.
Às vezes, quando penso que já não há mais nada
abro novamente e me deparo com criaturas vivas, cheias de palavras, laços, embaraços
inconscientes, espelhos e almas tocantes...
O baú da minha alma
Fonte inesgotável...
Mas o que eu não havia percebido é que,
sem querer, todos os dias, coloco coisas novas nele...
Renovo-o!
Agora entendi, o porque da sua infinidade... repleto de pensamentos e sentimentos...
Uma verdadeira contemplação!
Sento-me à janela de olhos fechados,
imaginando o estalar distante da música que vibra em meu coração.
Vejo no pensamento os encantos a que gostaria de tocar numa noite qualquer. No
enxergar dos meus olhos,
a paisagem desajustada é desinteressante e seca.
Não seca de calor,
mas de infelicidade que é olhá-la e não sentir um mínimo de prazer.
E o que não vejo,
está destituído em um momento longe,
um encontro nunca encontrado.
E o que vejo são os restos de um retrato que nunca me despertou encanto.
Aprimorar esse instante em versos e cantos seria afundar na melancolia,
um exagero por demais incômodo pra mim.
Mas o que me resta disso tudo é respirar profundo e emudecer meu grito.
E quando me olho verdadeiramente,
me sangro com tantos incômodos vazios e sem propósito que se deslocam verozmente
em minhas veias.
Depois que os pingos
de chuva se foram
a noite silenciou.
Não se ouvia vozes
nem passos.
Só se ouvia,
perdido aqui e ali,
o som de almas
a pulsar.
Vou confessar!
Tenho um desejo escondido,
bem guardado,
lá no fundo do que dizem ser alma.
É meu
e é secreto!
Guardo-o até de mim mesma.
Se eu me contar,
poderei causar um desastre
ao que chamo de
"sossego camuflado".
Mas posso contar que
apreciá-lo seria único
e incrivelmente esplendoroso.
E mais uma vez confesso,
pouco me importaria
com o desastre
a mim pré-destinado.
Triste lírio do campo
carrega a dor de pétalas arrancadas
perdeu seu encanto
o brilho de jasmim
e agora só lhe resta o pranto.
Perdeu o amor
a púrpura cor
que radiava ao infinito
nada era mais bonito.
Até o perfume que exalava
dissipou-se ao vento
e deixou todo o tormento
de tristes dias a respirar.
Quase sem vida
com pedras às suas pétalas tocar
roubaram-lhe a plenitude
e os sonhos que tinha a desejar.
Não é mais o mesmo lírio do campo
naufragou na vida e no delírio
e ali, encravado ao chão
sucumbido naquele escuro jardim
teve seu triste fim.
Sim, eu já ouvi...!
Pare de gritar na
minha mente
porque ela faz
meu corpo inteiro
se apertar
em um espaço
que não me cabe...
És tão linda e tão doce
tão veemente preciosa
de forma expressivamente delicada.
Então...
Como pode deixar tocar-te de forma tão agressiva?
Como podes deixar roubar teu brilho de vermelho púrpura que retrata o teu encanto e
sensibilidade?
Como podes deixar ferir teu rosto, roubando teus dias de glamour e contemplação?
Como podes em teu simbolismo mais perfeito teres representado um rio tão
tenebroso?
Como podes permitir a maltratar-te a alma?
Não deixes tua inquietude e fraqueza serem o alvo central da tua vida, tornando-te
em puramente tristeza.
Tens mais que isso...
Tens alma!
Tens paixão!
Tens vontade de dar sentido a tudo que a toca!
Ouça,
há tanto silêncio no medo.
Ouça,
a noite se calou e se recusa a soprar o vento.
Ouça,
a alma que saltitava emudeceu-se em suas trevas.
Ouça,
não há pessoas, não há pássaros, é só uma cidade morta.
Ouça,
a inexpressividade do rosto que não sabe mais brilhar.
Ouça,
não escuto nada, nem em mim, nem no mundo.