Alturas

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Tu que estás lá nas alturas, assim mesmo te interesses pelos humildes.

Salmos
Salmos 138:6

E a minha voz nascerá de novo,
talvez noutro tempo sem dores,
e nas alturas arderá de novo o meu coração
ardente e estrelado.

- Tenho medo do chão.
- Queres dizer alturas.
(...)
- Eu sei o que quero dizer! O que nos mata é o chão!

O Maior Espetáculo da Terra

O pássaro voa sobre o céu aberto,
várias alturas ousadas alçam muitas aves.
Algumas, riscando o mar
brincam de aeroporto e decolam
nas ondas das águas e dos ares.
Mas há asas e voar não é perigo;
É mais que isso,
voar é no corpo do pássaro
uma forma de pensamento.
Poderia citar todos os animais
e seus lugares de existir
e tudo seria admissível
na linha do seu ir e vir.

Mas o homem não.
Sem garantia, se equilibra
no fio do seu pensamento,
sem que tenha asas, voa,
e sem limite de aventura,
até da natureza caçoa.

Equilibrista,
se apodera dos seus sonhos
e de suas inesperadas iscas
e vai rebolando no bambolê das pistas.
Elabora, passa o mundo em revista,
mas seu conteúdo chora,
porque tem medo do risco.
O risco !
Logo o risco, meu Deus,
que é pai de tantas vitórias
sobre tantos reclames.
Bailarino do arame,
homem que se consome
no erro crasso da mesquinharia,
da mentirosa segurança
de que o mundo é sempre reto
e as coisas, imutáveis, certinhas
e sem alquimias.
Mas diante do susto da mutante verdade,
se equilibra no andaime que construiu
e que sem sua criativa ousadia,
jamais existiria.

Trapezistas de trapézios inusitados,
nos vemos na mão do destino
como se dele não fossemos também autores.
Senhoras e senhores da jornada
geramos no mundo nossa ninhada
e com ela o nosso projeto,
nossa luta,
porém é certo que nos volta com força bruta
o ordinário fato
de não pensarmos no que virá
depois do nosso simples ato.
Porque pertence ao homem a habilidade
de ser sujeito transformador,
de realizar todo dia
o seu show de competência,
engolindo o fogo do orgulho,
se esquivando do atirador de facas,
domando os problemas que rugem
podando o pelos da Dona Insegurança,
essa mulher barbada.

Mas, respeitável público,
o show não pode parar.
Às vezes dói viver,
às vezes dá preguiça de continuar,
quando nos esquecemos
que somos os construtores
do tal arame onde andamos
quando nos esquecemos que somos
o motorneiro, o piloto, o barqueiro,
o motorista e o garoto que gira o pião,
que chuta a bola, que mira o gol,
que gira o leme, que conduz o trem,
o diretor e o ator que apresenta este espetáculo.
Poderoso é o homem com seus esclarecimentos
sobre o evento vida,
poderosa é a vida
sobre o homem que não a tem esclarecida.

Para o homem basta um dia.
Um dia de coragem.
Um dia de luz.
Uma atitude pode mudar
a qualidade do seu trabalho,
do seu cotidiano,
e da sua história.
O seu relógio pode ser o tempo
que não desperdiça glórias,
liberto de auto-piedades,
com faróis que o projetem
para além das idades,
que o homem arquitete pilares
brindando à realidade vindoura,
que a chuva de aplausos ou vaias,
fertilizem novos frutos
seguindo a lógica da lavoura:
o que cresceu?
o que é que eu faço?
o que tenho que molhar sempre?
o que é que eu levo?
o que é que eu passo?
Não disfarço:
O homem é o dono do homem
Deus é cúmplice
no livre arbítrio do picadeiro
desse espaço.


Escolhe o alvo,
o salto
e os movimentos
no desprendimento que precisará
para atirar-se
nos braços do outro,
na confiança no trapezista ao lado.

Mágico, com surpresas únicas na cartola,
com o suprimento intransferível
de ser original e não simples cópia,
reprodução,
papel carbono de mais um animal,
em um segundo ele muda tudo.
De lenço para pombas,
de pequeno para colossal.

Acrobata,
dono do seu corpo no mundo
Malabarista,
com uma civilização de pratos
nas mãos e nos ares,
esse homem escolhe a fera:
pode levar ética ao circo ou
apodrecer preso,
como um mico, e sem ela.

Contorcionista,
se digladia
entre a angústia,
o medo,
a depressão,
a paralisia dos quais
só o seu talento o salvaria
e o salvará:
Ergue-se então este homem flexível
e não mais adia.
Ao contrário,
se apropria de
seus reais valores,
suas oportunidades,
sua criatividade,
sua alegria.

Aqui está o homem:
ave rara de todos os céus,
soberano sujeito de suas possibilidades,
criança sorridente,
domador de seus passos
e ao mesmo tempo palhaço
estendendo seus sublimes braços,
tentáculos no universo,
sobre a lona dessa esfera,
para ser, se quiser,
o maior espetáculo da terra.

Coração Mais Forte que o DeverNas alturas em que o meu dever e o meu coração estavam em contradição, o primeiro raramente saiu vitorioso, a menos que bastasse eu abster-me; então, na maioria das vezes, eu era forte, mas sempre me foi impossível agir contra o meu feitio. Quer sejam os homens, o dever, ou mesmo a fatalidade quem comanda, sempre que o meu coração se cala, a minha vontade fica surda, e eu não sou capaz de obedecer. Vejo o mal que me ameaça e deixo-o chegar, em vez de agir para o evitar. Começo por vezes com esforço, mas esse esforço cansa-me e depressa me esgota, e não sou capaz de continuar. Em todas as coisas imagináveis, aquilo que não faço com prazer logo se me torna impossível de levar a cabo.

Somos assim. Sonhamos o voo, mas tememos as alturas. Para voar é preciso amar o vazio. Porque o voo só acontece se houver o vazio. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Os homens querem voar, mas temem o vazio. Não podem viver sem certezas. Por isso trocam o voo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram.

É um engano pensar que os homens seriam livres se pudessem, que eles não são livres porque um estranho os engaiolou, que se as portas das gaiolas estivessem abertas eles voariam. A verdade é o oposto. Os homens preferem as gaiolas ao voo. São eles mesmos que constroem as gaiolas onde passarão as suas vidas.

Rubem Alves
Religião e Repressão. São Paulo: Edições Loyola, 2005.

Nota: Trecho da introdução do livro. O pensamento muitas vezes é atribuído erroneamente a Fiódor Dostoiévski. Acredita-se que a confusão aconteça por Rubem Alves mencionar o escritor e a obra "Os irmãos Karamazov" na introdução do livro "Religião e Repressão".

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Fomos criados para avançar, crescer e subir a novas alturas. A nossa natureza é de crescimento, e isso implica esforço e trabalho duro.

A águia gosta de pairar nas alturas, acima do mundo, não para ver as pessoas de cima, mas para estimulá-las a olhar para cima.

Onde há alturas, há grandes precipícios.

"Muitos querem a brisa das alturas e a vista deslumbrante das paisagens, mas não querem escalar as montanhas."

Existem anjos em nossas vidas que não têm asas,
mas que nos levam às alturas
quando estamos pra baixo.

Todos temos alturas em que pensamos mais eficazmente e alturas em que não devíamos pensar de todo.

Somos assim. Sonhamos o voo, mas tememos as alturas. Para voar é preciso amar o vazio. Porque o voo só acontece se houver o vazio. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Os homens querem voar, mas temem o vazio. Não podem viver sem certezas. Por isso trocam o voo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram.

Rubem Alves
Religião e Repressão. São Paulo: Edições Loyola, 2005.

Nota: Trecho da introdução do livro. O pensamento muitas vezes é atribuído erroneamente a Fiódor Dostoiévski. Acredita-se que a confusão aconteça por Rubem Alves mencionar o escritor e a obra "Os irmãos Karamazov" na introdução do livro "Religião e Repressão".

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A visão da águia e a visão do grande empreendedor só tem quem vive nas alturas.

Existem alturas da alma, de onde mesmo a tragédia deixa de ser trágica; e, se as dores do mundo fossem juntadas numa só, quem poderia ousar dizer que a visão dela nos iria necessariamente seduzir e obrigar à compaixão, e desse modo à duplicação da dor?

Friedrich Nietzsche
Além do bem e do mal (1886).

Dizem que aqueles que estão nas alturas como que são atraídos por si mesmos para baixo, para o abismo. Creio que muitos suicídios e homicídios só foram levados a cabo porque o revólver já estava na mão. Aqui também há um abismo, aqui também há um declive de quarenta e cinco graus, do qual é impossível não escorregar, e algo incita irresistivelmente a puxar o gatilho.

Gente é mais ou menos como rio:
Tem os que gostam de perigo e se lançam de grandes alturas
Tem os de muitos braços que atiram pra todos os lados
Tem os de muitos redemoinhos que comem bois e gente
Tem os que gostam demais de si e viram lago
Tem os que só sabem correr parados
São os empoçados os pantaneiros os alagados
Tem os que transam com a terra formando ilhas
O fundo de alguns é de pedra. Tem os de peixes coloridos
Outros têm água clarinha. E tem gente córrego seco
E tem gente riacho escuro. Alguns a terra engole vivos
E tem até rio que corre pra trás
O rio que eu sou nasceu em janeiro

A águia tem vocação para as alturas. Aprenda a voar alto. Não limite-se a voar na tempestade. Seja como a águia, que voa acima da tempestade. E acima da tempestade, querido, o céu continua azul, o sol continua brilhando, porque lá o tempo continua lindo. Tenha visão de águia!

A águia que plana nas alturas não tem necessidade de ser apreciada pelas criaturas rastejantes.

Na vida há momentos de tristeza e amargura,existe sofrimentos que não nos deixam nas alturas ,porém, existe também o verbo amar que faz nós todos sorrir e sonhar...