Almas
Passo a passo percorremos o destino, seguimos o caminho, nesta viagem não vamos sozinhos, caminham connosco os sentidos.
Fecha os olhos, estende as tuas mãos, segura as minhas e deixa que te leve nesta viagem por entre as sombras de um olhar. Deixa que te pinte um cenário de encantar, repleto de cores, de fantasias e tantos outros sabores. Vem, não tenhas medo de tropeçar, é nas minhas mãos que vais por este mundo navegar. Deixa-me guiar o teu espírito pelos labirintos do jardim, sabendo que a tua alma agora habita em mim. Anda, caminha a meu lado, deixa teu braço no meu enlaçado, permite ao Sol que acabo de inventar, tua pele bronzear. Solta as tuas asas, vem junto a mim pairar, sentir como a brisa teu corpo faz voar, abraça o vento, deixando que o vazio se preencha do fôlego do teu sonhar.
Neste magnifico lugar onde tudo podemos encontrar, sentimos o apelo de um beijo que em nossos lábios vem selar e na voz vem conjugar todos os tempos do verbo amar.
É nesta cumplicidade entre as minhas palavras e os teus sentidos que se criam mundos, personagens e fantasias!
Mãe Natureza
A neblina afaga os cumes das montanhas com o seu gélido hálito, a chuva precipita-se dos céus sobre a terra sedenta, a floresta recebe esta dádiva, absorvendo cada gota que cai no seu âmago enquanto o vento agita as suas copas, é um bailado, em que o ciclo da vida se envolve numa dança intima entre os elementos. Não haverá Primavera sem um Inverno, não haverá flor sem que a planta mate a sede que o Verão quente lhe infringiu, Esta cadeia de acontecimentos é controlada pelo equilibro da Mãe Natureza, que em toda a sua imensidão nos oferece em cada estação a beleza destes momentos.
Gosto de ficar sentado, sempre que sinto o astro molhado, a ver a chuva cair, é como alento, como ter a certeza que uma Primavera está porvir.
Passo a passo construo o percurso de uma vida, sabendo que as pegadas são as recordações que ficam da minha passagem por aqui.
Divago por esta sala imensa, onde o espaço vazio propaga os ecos e as memórias são fios de luz que iluminam o meu pensamento.
Pergunto-me se os meus passos alteram o relevo do caminho, ou se simplesmente se moldam às pedras que pisam!
Ser capaz de ler os escritos da alma, é poder entender melhor o que nos envolve, o que nos aporta a calma.
Saber ler é apossar-se das palavras como se fossem nossas, é vesti-las e senti-las tocar-nos a pele.
Hoje poderia falar-te de tantas coisas profundas, dizer-te daquilo que sonho quando tenho os meus olhos abertos, daquilo que sinto quando tenho os meus sentidos despertos. Hoje podia perder-me nas descrições de tantas e tantas emoções, poderia tentar convencer-te que o céu não é apenas negro quando é de noite, que a Estrela da Tarde é um planeta e que apesar da dor a vida é sempre bela. Não, hoje não quero perder-me entre palavras, deambular pelas conversas banais, ou por outros discursos mais intelectuais, não me apetece filosofar, sequer sonhar, prefiro apenas ficar calado, encostado aos braços do meu silêncio, no conforto confinado deste momento, em que apenas olho, em que apenas contemplo, o brilho claro de um sorriso, o detalhe quase imperceptível dum reflexo, ou, tão somente o contorno suave duma silhueta que no chão da rua projecta a sombra do teu intelecto.
Há dias assim, em que prefiro não ser nada, para preencher-te com tudo aquilo que gosto de observar em ti.
É na imensidão do sonho que damos asas à nossa imaginação, onde aprendemos a divagar por toda a nossa emoção.
Estar atento ao que o vento nos diz, é saber escutar a voz dos escritos, o murmúrio das palavras que não nos temos dito.
Na voz do vento escuto os poemas carregados de sentimentos, abraço a música que se propaga no meu pensamento.
Reflicto sobre a essência dos sentidos, as ligações cósmicas que nos levam a deduzir sensações, que nos aproximam de certas almas e provocam nelas avalanches de emoções. Percebo que há uma rede de conexões que são fios invisíveis que nos unem, que nos ligam numa torrente saborosa de sentimentos. Esta ligação não acontece sempre, não acontece com toda a gente, apenas com aqueles que como nós partilham duma capacidade sensorial diferente. Aqueles, como nós, que presentem numa palavra a fonte que a jorrou, que deduzem numa frase o intuito para que foi escrita. Afinal, no principio foi a palavra que nos juntou, que nos abraçou num afago terno, que nos fundiu numa corrente tórrida, que fez diluir-nos em oceanos de prazer. O prazer de ler, mas também a capacidade de o sentir na pele, de provocar o corpo que reage ao estímulo da verbalização dos sentidos.
Recebo em mim o retorno das emoções que dissemino, percebo que não estou sozinho, que lá fora há muito mais seres que percebem nas palavras aquilo que digo com a alma, este é o reflexo duma alma colectiva que se estilhaçou em mil pedaços no início dos tempos e que agora se reencontra em cada grão de areia desta praia celeste.
A dimensão da vida é aquela que desejamos dar-lhe. Viver com os sonhos e voar com as realidades que criamos é ser capaz de concretizar os nossos ideais.
É fundamental sentir para ser, de outra forma seria insuportavelmente entediante, porque o vazio é tão esmagador que nos faria sucumbir.
A solidão permite-nos mergulhar no nosso intimo e percorrer os abismos do nosso vazio, só assim saberemos compreender-nos melhor.