Aldous Huxley Admirável Mundo Novo

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- Mas eu gosto dos inconvenientes.
- Nós, não. Preferimos fazer as coisas confortavelmente.
- Mas eu não quero conforto. Quero Deus, quero a poesia, quero o perigo
autêntico, quero a liberdade, quero a bondade. Quero o pecado.

E esse é o segredo da felicidade e da virtude: amarmos o que somos obrigados a fazer.

Dizem que é o medo da morte, e do que vem depois
da morte, que leva os homens a voltar-se para a religião à medida que os anos se acumulam. Todavia, a experiência pessoal me trouxe a convicção de que, completamente à parte de tais temores e imaginações, o sentimento religioso tende a desenvolver-se quando envelhecemos; tende a desenvolver-se porque, à medida que as paixões se
acalmam, que a fantasia e a sensibilidade vão sendo menos excitadas e menos excitáveis, a razão é menos perturbada em seu exercício, menos obscurecida pelas imagens, desejos
e distrações que a absorviam; então, Deus emerge como se tivesse saído detrás de uma nuvem; nossa alma vê, sente a fonte de toda luz, volta-se natural e inevitavelmente para
ela; porque, tendo começado a esvair-se dentro de nós tudo aquilo que dava ao mundo das sensações sua vida e seu encanto, não sendo mais a existência material sustentada
por impressões externas e internas, sentimos a necessidade de nos apoiarmos em algo que permaneça, que nunca nos traia - uma realidade, uma verdade, absoluta e eterna.
Sim, voltamo-nos inevitavelmente para Deus; pois esse sentimento religioso é por natureza tão puro, tão delicioso para a alma que o experimenta, que compensa todas as nossas outras perdas".

As flores do campo e as paisagens têm um grave defeito: são gratuitas.

''Ser banido significa ir pra longe, muito longe. Pra um lugar onde as pessoas foram conscientes demais...''

Um melhor que, infelizmente, não passava de um menos mau.

Não, não houve mais ninguém. E, francamente, não vejo por que teria de haver alguém mais.

Eram forçados a sentir as coisas intensamente. E, sentindo-as intensamente (intensamente e, além disso, em solidão, no isolamento irremediavelmente individual), como poderiam ter estabilidade?

Livraram-se deles. Sim, é bem o modo dos senhores procederem. Livrar-se de tudo o que é desagradável, em vez de aprender a suportá-lo. Se é mais nobre para a alma sofrer os golpes de funda e as flechas da fortuna adversa, ou pegar em armas contra um oceano de desgraças e, fazendo-lhes frente, destruí-las... Mas os senhores não fazem nem uma coisa nem outra. Não sofrem e não enfrentam. Suprimem, simplesmente, as pedras e as flechas. É fácil demais.

As flores do campo e as paisagens têm um grande defeito: são gratuitas. O amor à natureza não estimula a atividade de nenhuma fábrica.

Os extremos se tocam, pela excelente razão que eles foram levados a se tocarem.

Estabilidade. Não há civilização sem estabilidade social. Não há estabilidade social sem estabilidade individual.

As rodas da máquina têm de girar constantemente, mas não podem fazê-lo se não houver quem cuide delas. É preciso que haja homens para cuidar delas, homens tão constantes como as rodas nos seus eixos, homens sãos de espírito, obedientes, satisfeitos em sua estabilidade.

Uma das principais funções de um amigo é suportar (sob forma
atenuada e simbólica) os castigos que nós gostaríamos, mas não temos possibilidade, de infligir aos nossos inimigos.

Mas o valor de uma coisa não está na vontade de cada um. A sua estima e dignidade vem tanto do seu valor real, intrínseco, como da opinião daquele que a tomou.

A felicidade é uma soberana exigente, sobretudo a felicidade dos outros. Uma soberana muito mais exigente do que a verdade, quando não se está condicionado para aceitá-la sem restrições.

Não basta que as frases sejam boas, seria preciso que o que delas se fizesse também fosse bom.

Eles bebiam ali seu saber na própria fonte. Era um privilégio raro.

Porque os detalhes, como se sabe, conduzem à virtude e à felicidade; as generalidades são males intelectualmente necessários.

Não é de admirar que esses pobres pré-modernos fossem loucos, perversos e desventurados. Seu mundo não lhes permitia aceitar as coisas naturalmente, não os deixava ser sãos de espírito, virtuosos, felizes.