Água

O calor do dia abrandava. Naqueles olhos e tanto de Diadorim, o verde mudava sempre, como a água de todos os rios em seus lugares ensombrados. Aquele verde, arenoso, mas tão moço, tinha muita velhice, muita velhice, querendo me contar coisas que a idéia da gente não dá para se entender - e acho que é por isso que a gente morre. De Diadorim ter vindo, e ficar esbarrado ali, esperando meu acordar e me vendo meu dormir, era engraçado, era para se dar a feliz risada. Não dei. Nem pude nem quis. Apanhei foi o silêncio dum sentimento, feito um decreto:
- Que você em sua vida toda toda por diante, tem de ficar para mim, Riobaldo, pegado em mim, sempre!... - que era como se Diadorim estivesse dizendo.

Incorpore-o. Ingira-o. Acolha-o bem nos trabalhos secretos de sua vida. Deixe Cristo ser a água de sua alma.

Os rios que eu encontro
vão seguindo comigo.
Rios são de água pouca,
em que a água sempre está por um fio.
Cortados no verão
que faz secar todos os rios.
Rios todos com nome
e que abraço como a amigos.
Uns com nome de gente,
outros com nome de bicho,
uns com nome de santo,
muitos só com apelido.
Mas todos como a gente
que por aqui tenho visto:
a gente cuja vida
se interrompe quando os rios.

Em 1911 ninguém bebia um copo d´água sem paixão.

Eu quero ser como água. Limpa, transparente, fonte de energia, mas que quando se rebela é capaz de inundar o mundo.

Por isso creio
Cada noite no dia,
e quando tenho sede creio na água,
porque creio no homem.
Creio que vamos subindo
o último degrau.
Dali veremos
a verdade repartida,
A simplicidade implantada na terra,
O pão e o vinho para todos.

Poucos rios, surgem de grandes nascentes, mas muitos crescem recolhendo filetes de água.

Na verdade, não é que eu tenha esquecido. Simplesmente deixei de prestar atenção.

Quando ele olha para mim, o modo como ele me olha... Ele não sabe o que falta em mim, ou o quanto sou incompleta. Ele vê o que eu sou, como sou.

Você deveria saber: eu não me importo com as cicatrizes.

Deus apenas fez a água, mas o homem fez o vinho.

O que uma mulher diz ao seu amante, escreve-o na brisa e na água que corre.

Os camaleões alimentam-se de luz e de água: / O alimento dos poetas é o amor e a fama.

Se o seu inimigo estiver com fome, dê comida a ele; se estiver com sede, dê água. Porque assim você o fará queimar de remorso e vergonha. Não deixem que o mal vença vocês, mas vençam o mal com o bem.

Manchas de tarde
na água. E um vôo branco
transborda a paisagem.

Como a água, quanto mais elevado o bem, mais benefícios espalha, e contudo penetra em lugares escuros que os homens desprezam.

Quem bebe água pela mão alheia acaba morrendo de sede.

O sonho é um túnel que passa por baixo da realidade. É um esgoto de água clara, mas não deixa de ser esgoto.

Junto à água

Os homens temem as longas viagens,
os ladrões da estrada, as hospedarias,
e temem morrer em frios leitos
e ter sepultura em terra estranha.
Por isso os seus passos os levam
de regresso a casa, às veredas da infância,
ao velho portão em ruínas, à poeira
das primeiras, das únicas lágrimas.

Quantas vezes em
desolados quartos de hotel
esperei em vão que me batesses à porta,
voz de infância, que o teu silêncio me chamasse!

E perdi-vos para sempre entre prédios altos,
sonhos de beleza, e em ruas intermináveis,
e no meio das multidões dos aeroportos.
Agora só quero dormir um sono sem olhos

e sem escuridão, sob um telhado por fim.
À minha volta estilhaça-se
o meu rosto em infinitos espelhos
e desmoronam-se os meus retratos nas molduras.

Só quero um sítio onde pousar a cabeça.
Anoitece em todas as cidades do mundo,
acenderam-se as luzes de corredores sonâmbulos
onde o meu coração, falando, vagueia.

O capital é como água, sempre flui por onde encontra menos obstáculos.