Agradecimento de Fernando Pessoa

Cerca de 1092 agradecimento de Fernando Pessoa

Guardo ainda, como um pasmo
Em que a infância sobrevive,
Metade do entusiasmo
Que tenho porque já tive.

Quase às vezes me envergonho
De crer tanto em que não creio.
É uma espécie de sonho
Com a realidade ao meio.

Girassol do falso agrado
Em torno do centro mudo
Fala, amarelo, pasmado
Do negro centro que é tudo.

Fernando Pessoa
Novas Poesias Inéditas. Lisboa: Ática, 1973.
Inserida por pensador

⁠Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Fernando Pessoa
Poesias de Álvaro de Campos. Lisboa: Ática, 1944.

Nota: Trecho do poema Tabacaria.

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Inserida por andersonmmoliveira

⁠Quando te vi, amei-te já muito antes.
Tornei a achar-te quando te encontrei.
Nasci pra ti antes de haver o mundo.
Não há coisa feliz ou hora alegre
Que eu tenha tido pela vida fora,
Que não o fosse porque te previa,
Porque dormias nela tu futuro,
E com essas alegrias e esse prazer
Eu viria depois a amar-te.

Fernando Pessoa
Fausto – Tragédia Subjectiva. Lisboa: Presença, 1988.

Nota: Trecho do poema MARIA: Amo como o amor ama.

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Inserida por erika_beato

⁠Exisem cometas e estrelas, os cometas passam... E as estrelas: Ficam.

Pensar incomoda como andar à chuva.

Fernando Pessoa
Poemas de Alberto Caeiro. Lisboa: Ática, 1946.

Nota: Trecho do poema O guardador de rebanhos, de Fernando Pessoa.

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Inserida por pensador

O inexplicável horror
De saber que esta vida é verdadeira.

Fernando Pessoa
Poemas Dramáticos. Lisboa: Ática, 1952.

Nota: Trecho do poema O inexplicável horror.

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Inserida por Baby_Cat

Dizem?

Dizem?
Esquecem.
Não dizem?
Disseram.

Fazem?
Fatal.
Não fazem?
Igual.

Porquê
Esperar?
— Tudo é
Sonhar.

Fernando Pessoa
Poesias. Lisboa: Ática, 1942.
Inserida por usuario655120

Passa uma nuvem pelo sol.
Passa uma pena por quem vê.
A alma é como um girassol:
Vira-se ao que não está ao pé.

Passou a nuvem; o sol volta.
A alegria girassolou.
Pendão latente de revolta,
Que hora maligna te enrolou?

Fernando Pessoa
O guardador de rebanhos e outros poemas (1988).

Nota: Poema escrito em 14 de agosto de 1933.

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Inserida por usuario655120

⁠Pouco somos, pouco nos basta. O mundo tira o que nos dá. Que nos contente o pouco que há.

Inserida por usuario655120

Quadras

Morto hei de estar ao teu lado
sem o sentir nem saber
mesmo assim isso me basta
para ver um bem em morrer

Quando passo o dia inteiro
sem ver o meu amorzinho
corre um frio de janeiro
no junho do meu carinho

Teus olhos tristes parados
coisa nenhuma a fitar
ah meu amor,meu amor
se eu fora nenhum lugar

Adivinhei o que pensas
só por saber que não era
qualquer das coisas imensas
que a minha alma de ti espera

Inserida por juanaigatu

Vai alta a nuvem que passa
vai alto meu pensamento
que é escravo da tua alma]
como a lua o é do vento

Ambos á beira do poço
achamos que é muito fundo
deita-se a pedra e o que ouço
teu olhar que é meu mundo

todas as coisas que dizem
afinal não são verdades
mas se nos fazem felizes
isso é felicidade

Inserida por juanaigatu

⁠Quando as crianças brincam
E eu as oiço brincar,
Qualquer coisa em minha alma
Começa a se alegrar.

E toda aquela infância
Que não tive me vem,
Numa onda de alegria
Que não foi de ninguém.

Se quem fui é enigma,
E quem serei visão,
Quem sou ao menos sinta
Isto no coração.

Fernando Pessoa
Poesias. Lisboa: Ática, 1942.
Inserida por pensador

⁠Se o nosso espírito pudesse compreender a eternidade ou o infinito, saberíamos tudo. Até podermos entender esse fato, não podemos saber nada.

Fernando Pessoa
Aforismos e afins. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
Inserida por AdagioseAforismos

⁠A ignorância é a verdadeira inocência. O maior pensador é o maior debochado.

Fernando Pessoa
Aforismos e afins. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
Inserida por AdagioseAforismos

⁠A vaidade é a confiança no efeito do nosso valor, o orgulho a confiança em que temos valor.

Fernando Pessoa
Aforismos e afins. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
Inserida por AdagioseAforismos

⁠Compreendo que um homem seja orgulhoso; não compreendo que mostre sê-lo.

Fernando Pessoa
Aforismos e afins. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
Inserida por AdagioseAforismos

Age como se não houvesse Deus, lembrando-te porém que Ele existe.

Fernando Pessoa
Aforismos e afins. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
Inserida por AdagioseAforismos

Goethe diz, com verdade, que o Deus de cada homem é como esse homem; não será então o Deus do maior homem o maior Deus?

Fernando Pessoa
Aforismos e afins. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
Inserida por AdagioseAforismos

Deus é racionalista, porque Deus é mesmo Razão.

Fernando Pessoa
Aforismos e afins. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
Inserida por AdagioseAforismos

O mar é a religião da natureza.

Inserida por pensador