Adeus Morte

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Os homens vivem juntos, porém cada um morre sozinho e a morte é a suprema solidão.

Ao longo da muralha que habitamos
Há palavras de vida há palavras de morte
Há palavras imensas,que esperam por nós
E outras frágeis, que deixaram de esperar
Há palavras acesas como barcos
E há palavras homens, palavras que guardam
O seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras,surdamente,
As mãos e as paredes de Elsenor

E há palavras e nocturnas palavras gemidos
Palavras que nos sobem ilegíveis À boca
Palavras diamantes palavras nunca escritas
Palavras impossíveis de escrever
Por não termos connosco cordas de violinos
Nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
E os braços dos amantes escrevem muito alto
Muito além da azul onde oxidados morrem
Palavras maternais só sombra só soluço
Só espasmos só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
E entre nós e as palavras, o nosso dever falar.

[Quando foi perguntado se tinha medo da morte]
Da morte, nunca tive medo. O que não quero é ficar aleijado. Disso sim, tenho um medo que me pelo...

A moda é uma variante oblíqua de se lutar contra a morte. Ora na velhice tal luta é mais problemática. E é por isso que no velho a moda é mais ridícula.

Vergílio Ferreira
FERREIRA, V., Pensar, 1992

A morte usa-me incessantemente.

Quando se está a morrer, tem-se muito mais que fazer do que pensar na morte.

Um instante, vivido no paraíso,
não é pago muito caro com a morte.

A morte é uma vitória, e quando se viveu bem o caixão é um arco de triunfo.

Sobre os amantes e os soldados, sobre os homens condenados à morte, sobre todos aqueles que o poder cósmico da vida preenche, o poder do destino desce por vezes imprevisto numa súbita iluminação que será a sua graça e o seu fardo.

Epitáfio é uma inscrição num túmulo que mostra que as virtudes adquiridas pela morte têm efeito retroativo.

A morte fala-nos com uma voz profunda para não dizer nada.

Afrontar a morte para viver na história é pagar com a vida uma gota de tinta.

Ninguém aqui morre só a sua morte; / é um pouco de nós todos que se vai / e naquele que nasce há um pouco de todos nós / que se torna outro.

A morte emenda todos os atos da vida.

É o pensamento / da morte que, no final, ajuda a viver.

Na juventude, pensamos na morte sem a esperar; na velhice, esperamo-la sem nela pensar.

Nas mandíbulas da Morte, / Na boca do Inferno.

O difícil é a moral estática, é mais fácil preparar os homens para a morte que ajudá-los a viver o dia a dia.

No dia da morte, para o homem parece ter vivido um só dia.

Não ter temor da morte, é não temer-se ameaças.