Adelia Prado

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Adélia Prado (1935) é uma escritora brasileira. Poetisa e romancista, consagrou-se como a voz mais feminina da poesia brasileira. Recebeu da Câmara Brasileira do Livro, o Prêmio Jabuti de Literatura, com "Coração Disparado".

Não tenho tempo pra mais nada, ser feliz me consome muito.

Adélia Prado
Poesia Reunida. Rio de Janeiro: Record, 2015.

Nota: Adaptação de uma frase de Adélia Prado, do poema A Criatura. A citação costuma ser erroneamente atribuída a Clarice Lispector.

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O que a memória ama fica eterno. Te amo com a memória, imperecível.

Adélia Prado
Poesia reunida. Rio de Janeiro: Record, 2015.

Nota: Trecho do poema Para o Zé.

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O sonho encheu a noite
Extravasou pro meu dia
Encheu minha vida
E é dele que eu vou viver
Porque sonho não morre.

Adélia Prado
Solte os cachorros. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1979.

Amor pra mim é ser capaz de permitir que aquele que eu amo exista como tal, como ele mesmo. Isso é o mais pleno amor. Dar a liberdade dele existir ao meu lado do jeito que ele é.

Não quero faca nem queijo. Quero a fome.

Adélia Prado
Poesia reunida. Rio de Janeiro: Record, 2015.

Nota: Trecho do poema Tempo.

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Tudo que a memória amou já ficou eterno.

Adélia Prado

Nota: Trecho modificado da versão original.

Não tenho mais tempo algum, ser feliz me consome.

Adélia Prado
Poesia Reunida. Rio de Janeiro: Record, 2015.

Nota: Últimos versos do poema A Criatura, o mais longo de Adélia Prado. A citação costuma ser erroneamente atribuída a Clarice Lispector.

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Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
-- dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

Adélia Prado
Bagagem. São Paulo: Siciliano. 1993. p. 11

Exausto

Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o profundo sono das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.

Adélia Prado
Poesia reunida. Rio de Janeiro: Record, 2015.

Eu mesma não entendo minha enormíssima paciência de ficar à toa, só pensando, pensando e sentindo.

Dor não tem nada a ver com amargura. Acho que tudo que acontece é feito pra gente aprender cada vez mais, é pra ensinar a gente a viver. Desdobrável. Cada dia mais rica de humanidade.

Estou no começo do meu desespero, e só vejo dois caminhos: ou viro doida, ou santa.

Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra

A vida é muito bonita,
basta um beijo
e a delicada engrenagem movimenta-se,
uma necessidade cósmica nos protege.

Divago, quando o que quero é só dizer te amo.

Deus é mais belo que eu.

E não é jovem.

Isto sim, é consolo.

A Serenata
Uma noite de lua pálida e gerânios
ele virá com a boca e mão incríveis
tocar flauta no jardin.
Estou no começo do meu dessespero
e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa.
Eu que rejeito e exprobo
o que não for natural como sangue e veias
descubro que estou chorando todo dia,
os cabelos entristecidos,
a pele assaltada de indecisão.
Quando ele vier, porque é certo que vem,
de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios e ele serão os mesmos
- só a mulher entre as coisas envelhece.
De que modo vou abrir a janela,se não for doida?
Como a fecharei, se não for santa?

Sofro por causa do meu espírito de colecionador-arqueólogo.
Quero pôr o bonito numa caixa com chave
para abrir de vez em quando e olhar.

Assim que escurecer vou namorar.
Que mundo ordenado e bom!
Namorar quem?
Minha alma nasceu desposada
com um marido invisível.

Meu Deus, me dá cinco anos, me dá a mão, me cura de ser grande.