Abismo
Balada do Teu Abismo
Quando mergulho
na profundidade
das tuas lágrimas
vejo as marés vazias
ouço o mar das tuas artérias
nessa viva e rutilante maresia
gotejam os descalços poentes
nas agitadas marés do teu rosto
onde a textura do amor desliza.
Sob o clarão telúrico
afixo a minha fervente âncora
à balada do teu abismo.
Conheci a intimidade do abismo
ouvi a sua conivência profunda
segredava-me imortais pesadelos, a sua respiração estava perto da minha e vagarosamente atravessei a escuridão.
Já ajudei pessoas a emergir do abismo, mesmo quando eu próprio nesse momento, estava no fundo desse abismo.
Há um buraco negro em meu peito,
um abismo que devora a luz que sou,
deixando a minha alma inquieta, fora da órbita.
Um universo na minha mente se expande,
planetas de pensamentos que colidem e se metamorfoseiam;
tanta imensidão não cabe neste corpo tão diminuto,
que agoniza sob o peso da própria grandeza.
Meus amores e sonhos, infinitos na sua finitude,
são tão distantes quanto as estrelas que piscam longínquas.
Ah... metafísica! Em nenhum mundo encontro disposição,
apenas o fardo de estar indisposto,
cansado de aqui, cansado de lá,
Alá me acuda, ou Deus, que fiz eu aos deuses?
Estou cansado de teologia,
cansado de qualquer lugar que me aprisione.
Cuidado com o negativismo, ele pode te levar para a beira de um abismo sem solução, converse com gente que planta amor no coração e é capaz de plantar a paz na sua mente.
Na beira do abismo, no cinismo do egoismo, humanidade em ação no vazio da multidão, todos querem só receber atenção, mas não querem dar atenção.
Quem pensa que falar é o suficiente para ser entendido está enganado, existe um abismo gigante entre a fala e a audição: nem sempre o que o outro escutou foi exatamente o que eu disse.
Nada é estável, tudo é movimento e é sob nossos pés que se abre a boca do tempo, o abismo que engole o passado e regurgita o futuro.
É preciso enxergar o abismo entre rir de si mesmo e ser subserviente com pretensos e jocosos algozes.