Abelhas
Quando as flores findam,
As colmeias gritam sem néctar,
O quê sobrou pra mim?
A amargura de uma flor, enfim!
Sonda-te ó minha mente,
Sabes o que tu fizeste?
Fumaça, fogo, ácido úrico,
gritos e gemidos, triste fim!
Se das verdes gramas
Tu desfaz a clorofila,
Com destreza as aniquilam,
Em seu nome as outorga!
#MARIA-#SEM-#VERGONHA
Tal qual maria-sem-vergonha flor...
Mesmo sem entender muito bem por que...
Sem vergonha, é isso que sou...
Vício que nunca me curei...
Que se agarra ao meu coração...
Inunda meus pensamentos...
Brotando em qualquer chão...
Fico aqui esperando...
Uma volta que não existe...
Um acaso que virá...
Desejo que persiste...
Esperei e vejo minha vida passar...
Nem sempre me notam...
Mas estou eu cá...
Apenas uma desculpa...
Permito me arriscar...
Quietinho em meu canto...
Aguardando alguém me amar...
Insistente sei que sou...
Dádiva da esperança por Deus ofertada...
Não me vêem beija-flores...
Nem abelhas a me polenizar...
Talvez não seja tão ruim assim...
Não tanto me faz sofrer...
No abandono das noites frias...
Ou nos dias a transcorrer...
Me permito ser algo a mais...
Quando o vento me acaricia...
Por ser flor singela...
Em quantidade enfeito viela...
A ninguém devo nada...
Sou apenas uma Maria...
Maria-sem-vergonha...
Na beira da calçada...
Sandro Paschoal Nogueira
Por que eu não falei das flores?
Por que eu não falei das flores?
Que na primavera desabrocharam
Com cores incríveis, e aroma doce
E muitas abelhas aproveitaram.
Por que eu não falei das flores?
Azul, lilás, amarela ...
Multicores que logo seduz
Aos olhos, um arsenal de aquarela.
Por que eu não falei das flores?
Verdadeira companhia da alma,
Que resgata a infância, numa nostalgia
Embalando a consciência, já calma.
Por que eu não falei das flores?
Já é findada a estação,
Primavera! O seu retorno aguardo
Fazendo do pesar, a minha canção!
#Um #cinza #nublante #no #céu...
Mais a frente um destino...
Sob as árvores sozinho...
Ouvindo o canto dos passarinhos...
O olhar segue um vasto horizonte...
Perdido adiante...
Sereno cai lentamente...
E a brisa tão contente...
Traz perfume no ar...
Rosas, jasmins, madressilvas...
Muitas flores a bailar...
Abelhas e beija-flores...
Também põe-se a dançar...
Envolto em meus ais...
Aonde somente Deus me vê...
Sozinho e triste...
Fico lembrando de você...
E na hora incerteza que me cerca...
Soliturno...
Sem amigos...
Invoco o tempo para conversar comigo...
A vista embaça...
Pelas lágrimas do coração...
Tudo foi embora...
Velhas árvores, tachos de doces...
Bolos de chocolate...
De lenha...o antigo fogão...
Já não tem o pastel...
A empadinha de palmito com camarão...
Os seresteiros de outrora...
Que na calçada...cantavam...
Com muita emoção...
O bate-papo...
O disse me disse...
De todo final de semana...
Perdeu no tempo...
Sobrou a saudade...
Da tenra idade...
Vão-se os anos que não voltam mais...
Hoje tudo é tão rápido...
Mal amanhece e já é noite...
E no quintal aqui sentado...
Só tenho uma certeza...
De que Deus está ao meu lado...
Sandro Paschoal Nogueira
A ABELHA E A ROSA
Cleómenes Campos
Balouçava-se ao vento uma rosa vermelha,
em que um raio de sol punha um reflexo louro;
viu-a, pelo perfume, uma pequena abelha,
e começou a lhe sugar o pólen de ouro.
As abelhas, irmãs aladas das mulheres,
são todavia insatisfeitas e curiosas.
Ora, eu tinha num vaso uns botões rosicleres,
que, por ser de papel, nunca seriam rosas.
Ela porém supões que fossem verdadeiras;
e, deixando o jardim, onde havia outras flores,
voou sem ver por sobre todos os canteiros,
na atração singular dos botões rosicores.
Minha janela estava aberta por acaso.
Ela entrou a zumbir. Mas fechei-a nessa hora.
E a pobre, assim que viu a mentira do vaso,
pensou na linda flor que deixara lá fora.
Foi-se à vidraça a olhar; tentou fugir… e nada:
estava presa em minha sala silenciosa.
E, dois dias depois, achei-a inanimada,
na mesma posição, inda fitando a rosa.
Ó alma, que a ambição vai levando à cegueira:
não te esqueças da abelha ambiciosa e iludida!
- não deixes nunca a tua rosa verdadeira
pelos falsos botões que encontrares na vida!