A Vida é de quem se Atreve
A vida é fictícia, as palavras perdem a realidade. E no entanto esta vida fictícia é a única que podemos suportar. Estamos aqui como peixes num aquário. E sentindo que há outra vida ao nosso lado, vamos até à cova sem dar por ela. Estamos aqui a matar o tempo.
Muito pouco se padece na vida, em comparação do que se goza; aliás, não sendo assim, como se viveria?
O hábito é que me faz suportar a vida. Às vezes acordo com este grito: - A morte! A morte! - e debalde arredo o estúpido aguilhão. Choro sobre mim mesmo como sobre um sepulcro vazio. Oh! Como a vida pesa, como este único minuto com a morte pela eternidade pesa! Como a vida esplêndida é aborrecida e inútil! Não se passa nada, não se passa nada. Todos os dias dizemos as mesmas palavras, cumprimentamos com o mesmo sorriso e fazemos as mesmas mesuras. Petrificam-se os hábitos lentamente acumulados. O tempo mói: mói a ambição e o fel e torna as figuras grotescas.
Agimos como se o conforto e o luxo fossem os requerimentos principais da vida, quando tudo o que precisamos para nos fazer felizes é algo pelo que ser entusiástico.
À medida que a vida e os anos nos maltratam, aprendemos finalmente a conhecer-nos. Mas, nessa altura, já não vale geralmente a pena estabelecer relações.
Para agradar aos homens é preciso professar o que cada um desses homens repudia e odeia na sua vida secreta.
Podemos responder criativamente ao que experimentamos como privação na vida e nos tornarmos ricos em espírito por termos conhecido o desafio.
Esta vida humana, tão breve para as mais frívolas experiências, é para as amizades uma prova difícil e demorada.
Falhaste a vida, é evidente. Mas não o digas. Porque haverá logo quem venha proclamar em alvoroço que tu mesmo afinal confessas que falhaste para o cretino trombeteiro se julgar menos falhado e os cretinos como ele.