Uma onça queria fazer uma casa e achou um lugar onde tirou o mato para ali fazer a sua casa.
O bode, que também andava com vontade de fazer uma casa, foi procurar um lugar, e, chegando no que a onça tinha aberto espaço no mato, disse:
— Bravo! Que belo lugar para levantar a minha casa!
O bode cortou logo umas palhas e fixou naquele lugar. Depois se foi embora.
No dia seguinte, a onça lá chegando e vendo as palhas, disse:
— Oh! Quem me está ajudando?! Bravo, é Deus que está me ajudando!
Começou a armar todas as palhas, e foi-se.
O bode, quando veio de novo, admirou-se e disse:
— Oh! Quem está me ajudando?! É Deus que está me protegendo.
Botou logo a armação do telhado na casa, e foi-se.
Vindo a onça, ainda mais se espantou, e botou as ripas e os enchimentos e retirou-se.
O bode veio, e levantou a casa e foi-se. A onça veio e cobriu. O bode veio e tapou. Assim foram, cada um por sua vez, aprontando a casa. Finalizada, veio a onça, fez a sua cama e meteu-se dentro. Logo depois chegou o bode, e, vendo a outra, disse:
— Não, amiga, esta casa é minha, porque fui eu quem fixei as palhas, armei o telhado, levantei, e tapei.
— Não, amigo, respondeu a onça, a casa é minha, porque fui eu que retirei o mato do lugar, botei as travessas, as ripas, os enchimentos, e o cobri.
Depois de um tempo, a onça, que estava com vontade de comer o bode, disse:
— Mas não haja briga, amigo bode, nós dois podemos ficar morando na casa.
O bode aceitou, mas com muito medo. O bode armou a sua rede bem longe da onça. No outro dia a onça disse:
— Amigo bode, quando você me vir franzir o couro da testa, eu estou com raiva, tome sentido!
— Eu, amiga onça, quando você me vir balançar as minhas barbinhas ali nas goteiras e dar um espirro, você fuja, que eu não estou de brincadeira.
Depois a onça saiu, dizendo que ia buscar de comer. Lá, por longe de casa, pegou um grande bode e, para fazer medo ao seu companheiro, matou-o, e entrou com ele pela casa adentro. Atirou-o no chão e disse:
— Está aqui, amigo bode, esfole e trate para nós comer.
O bode, quando viu aquilo, disse lá consigo: "Quando este, que era tão grande, você matou, quanto mais a mim!"
No outro dia ele disse à onça:
— Agora, amiga onça, quem vai buscar de comer sou eu.
E largou-se. Chegando longe, avistou uma onça bem grande e gorda, disfarçou e pôs-se a tirar cipós no mato. A onça veio chegando, e, vendo aquilo, disse:
— Amigo bode, para que tanto cipó?
— Para quê?! O negócio é sério, trate de si... O mundo está para acabar, e é com dilúvio...
— O que está dizendo, amigo bode?
— É verdade. E você, se quiser escapar, venha se amarrar, que eu já me vou.
A onça foi, e escolheu um pau bem alto e grosso, pedindo ao bode para que a amarrasse. O bode amarrou-a perfeitamente e, quando a viu bem segura, meteu-lhe o cacete, até matá-la. Depois arrastou-a.
Chegou em casa, largou-a no chão, dizendo:
— Está aqui. Se quiser esfole e trate.
A onça ficou espantada e com medo. Ambos temiam um ao outro.
Certo dia, o bode estava tomando ar fresco e olhou para a onça, ela estava com o couro da testa franzido. Ele teve receio, abalou as barbas e largou um espirro. Logo correram cada um para seu lado.
E ainda hoje correm de medo um do outro...
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