Em 2017, o mundo perdeu um dos sociólogos mais importante da modernidade. Zygmunt Bauman (1925-2017) conseguiu trazer luz a questões importantes para compreender a forma como a gente vive, interage e lida com as expectativas.
Apesar de ser um acadêmico renomado, Bauman se destacou principalmente entre jovens por conseguir transmitir de forma clara e simples suas reflexões.
“Modernidade líquida” e “amor líquido” são dois dos conceitos mais trabalhados pelo estudioso polonês. Quer entender o que isso significa? Selecionamos sete pensamentos do autor que explicam sua filosofia.
1. A metáfora da água como padrão de sociedade
A analogia com a água é fácil de decifrar: Bauman dizia que a modernidade atual é fluída, altamente adaptável à mudanças, e geralmente descartável. Somos incapazes de manter identidades, relações, ideias por muito tempo e o resultado disso é que vivemos num constante estado temporário das coisas.
Vivemos tempos líquidos, nada hoje é para durar.
Zygmunt Bauman
2. As nossas relações estão cada vez mais frágeis
A provocação do sociólogo quando fala em “amor líquido” é alertar para a nossa forma de se relacionar nesses tempos de redes sociais. Para ele, valorizamos o padrão superficial das relações amorosas. Na era digital, é muito fácil começar a terminar relações: bastam cliques em botões. Isso nos torna indivíduos menos “humanos” e mais “apaixonados” ou impulsivos: ou seja, muito mais fáceis de quebrar.
Tudo é mais fácil na vida virtual, mas perdemos a arte das relações sociais e da amizade.
Zygmunt Bauman
Acho que a atratividade da amizade “tipo Facebook” é de que é muito fácil se desconectar.
Zygmunt Bauman
3. E aquela sensação de que está sempre faltando algo?
Tente identificar alguém que se diz “totalmente feliz” e falhe miseravelmente. Não que a insatisfação seja um problema, mas para Bauman, o fato de não valorizarmos o amor como um sentimento sólido, com dificuldades e pedras no caminho, nos faz trocar rapidamente “de galho” e, pronto: nos tornamos “seres de falta”, onde frustrações são uma constante e há sempre um buraco não preenchido.
Nós mantemos o amor enquanto ele traz satisfação, depois trocamos para outro que traz mais satisfação ainda.
Zygmunt Bauman
As grandes mudanças na história nunca vieram dos pobres, mas da frustração das pessoas com grandes expectativas que nunca se cumpriram.
Zygmunt Bauman
4. Afinal, do que a gente tem medo?
Outra característica líquida da nossa sociedade moderna é o medo. Em uma época em que as nossas conquistas são temporárias até a segunda ordem, que não confiamos em ninguém, que estabelecemos conexões facilmente quebráveis ou duvidosas com as pessoas, os nossos medos “tendem a ser difusos, desfocados e indefinidos, por essa razão ainda mais insuportáveis”.
A preocupação com a administração da vida parece distanciar o ser humano da reflexão moral.
Zygmunt Bauman
O medo é o demônio mais sinistro do nosso tempo.
Zygmunt Bauman
5. A palavra de ordem é se reinventar
Todo mundo está viciado em fazer tudo novo. Mudanças sociais, políticas e econômicas como, por exemplo, a globalização, trouxeram desafios antes não importantes, como a necessidade de inovação. Como as coisas mudam muito rápido, nós também precisamos nos movimentar rapidamente para acompanhar a fluidez da sociedade atual.
Escolhi chamar de ‘modernidade líquida’ a crescente convicção de que a mudança é a única coisa permanente e a incerteza a única certeza.
Zygmunt Bauman
Ninguém pode manter segura sua subjetividade sem reanimar, ressuscitar e recarregar de maneira perpétua as capacidades esperadas e exigidas de uma mercadoria vendável.
Zygmunt Bauman
6. Possuímos, logo, somos.
A política e o consumismo é um dos temas centrais tratados por Bauman. Com a chegada do século XX e a formação da chamada sociedade de consumo, “ter” torna-se mais importante que “ser”. O problema é que, de novo, ninguém mantém algo por muito tempo, o que parece ser uma doença da sociedade.
O problema não é consumir; é o desejo insaciável de continuar consumindo.
Zygmunt Bauman
Bill Gates não sente remorsos quando abandona posses de que se orgulhava ontem; é a velocidade atordoante da circulação, da reciclagem, do envelhecimento, do entulho e da substituição que traz o lucro hoje – não a durabilidade e confiabilidade do produto.
Zygmunt Bauman
7. Somos todos personagens do “Show de Truman”
Um dos filmes mais famosos que o Jim Carrey protagonizou é sobre um homem que leva uma vida de mentira, sendo vigiado e transmitido para o público 24 horas por dia. Bauman, em “Vigilância Líquida” diz que a realidade atual é esta: as redes sociais e nossa vida digital como um todo nos faz trocar informações quebram qualquer barreira de vida pessoal. Já ouviu falar o Google sabe de tudo que fazemos? Pois é…
Somos permanentemente checados, monitorados, testados, avaliados, apreciados e julgados.
Zygmunt Bauman
Jamais culpe o mensageiro pelo que você considera ruim na mensagem que ele entregou, mas também não o louve pelo que considera bom.
Zygmunt Bauman