Coleção pessoal de MartaNepomucena

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CANTAROLANDO O SERTÃO

E essa minha canção
tem cheiro de terra molhada
atravessando a estrada
no meio do mato verde.

É uma cantiga faceira
que traz lembrança estradeira
e na fonte de água docinha
eu vou matar a minha sede.

Cantando eu sigo os caminhos
canta o galo e os passarinhos
a chuva que molha essa terra
e a semente que vou plantar.

A vida aqui no sertão
que alegra o meu coração
e a lua da cor de prata
me convida a enamorar.

E quando é de tardezinha
com aquela beleza todinha
as cores lá no poente
presente no mesmo prazer.

Mas quando chega o dia
o sol é quem irradia
seu brilho e a sua luz
que a natureza quer viver.

O QUE JÁ FOI

O que eu já tenho
é o tanto que me restou.
E não vou mais procurar
pois o vento já levou.

Aquela brisa do mar
e o que vai ser do que não fiz?
A presença de um olhar
vai dizer o que eu quis.

Devo querer sem pedir
o céu pra minha liberdade.
E as minhas asas vão abrir
ao vento, ao tempo e à idade.

Ave que fugiu do ninho
sou o mesmo de outro dia.
Quem de mim ficou sozinho
na tristeza ou na alegria?

O MEU PENAR

Estou chegando
estou saindo
estou ficando
estou partindo.

Vida cigana
sou peregrino
festa profana
e fé no divino.

Guardar segredo
e nada escondido
no lucro e no medo
um tempo perdido.

E segue a viagem
e a próxima parada
aí vem a estiagem
e a poeira na estrada.

E NO MAIS

Meu coração tá calado
bate forte e silencia.
Minha roupa desbotada
pelo sol do meio dia.

Meu pensamento voou
e foi procurar rancharia.
Foi pensando em outra coisa
na certa tem companhia.

Minha vida, meu destino
a estrada que me levará.
O bem, a paz e essa luz
por certo vai me guiar.

Minha parte por fazer
e outra pra consertar.
Uma vontade de seguir
e a outra que vem de lá.

EU EM MIM

Virei a primeira esquina
e chorei a primeira lágrima
enquanto chovia no meu rosto.

São laços dessa união
eu em mim nos conhecemos
ficar presos, sentados no mesmo posto.

Descí a segunda ladeira
qual rua cheia de feições
e me encararam de um jeito.

Certo de que olhei pra você
era outro olhar que me fitou
então; fiz do modo que eu me aceito.

QUALQUER UM DE NÓS

Vinde a mim
eu mesmo;
para nos encontrarmos sozinhos.

Pra quê que veio me ver
se essa hora é só minha?

O meu sonho também é seu
mas siga a mesma estrada
que é de dois, é da vida.

A sua vinda deixa pra depois
se a minha ida já aconteceu.

Dê um bom dia a essa manhã
se já seguiu o seu caminho
mas me leve na sua viagem.

ENCHENTE

Sentir na alma
branca e calma
bandeira da paz.

Bela e primeira
mulher rendeira
e a roda que faz.

Varre o sertão
a chuva no chão
e a terra molhar.

Palavras que saem
e o livro te espera
convence a ensinar.

O CIRCO CHEGOU

O meu coração
virou palhaço
a minha lágrima sorriu
suba no picadeiro
e venha brincar comigo
como se fosse um mágico.

Levem a alegria do circo
sintam o mesmo que sentimos
um circo vai, e outro vem
trazendo alegria, e encantando vidas
guardem pra vocês as nossas fantasias
que ficamos com os sentimentos reais.

IMPATRIOTA

Me pega
e me leva daqui
eu já não aguento mais.

Eu que não acredito
é balela o que é dito
nas manchetes dos jornais.

Deixem de me enganar
eu não perco pra indecência
não duvidem da minha inteligência.

Vão mentir só pra vocês
cada qual na sua vez
seus babacas de plantão.

Não me deixem sem escolha
saco tudo dessa bolha
pátria mãe da aberração.

AJUSTAR AS COISAS

Vou juntar a minhas coisas
e me jogar sem rumo
na vida, nas ondas
e no mundo.

Essa é a velha história
que eu preciso escrever
para ficar registrada
nos anais da existência.

Quero um pouco mais de mim
do que eu mesmo aqui
não sei se corto os meus cabelos
e o vento batendo no meu rosto.

Saio um pouco para permanecer
acerto de contas são novos caminhos
já até separei as minhas roupas
e o meu corpo querendo liberdade.

EM EXTASE

De dia eu sou assim
de noite nem tanto
o importante é existir.

Calado quando quero silêncio
se falo é ao som de Beethoven
meus ouvidos são meninos.

De dia eu quero estar
de noite eu já partir
pra depois de onde eu vim.

Meus dias são do destino
meu coração não tem tempo
e a minha alma são borboletas.

NA PRIMEIRA HORA

Desperta-me na tua hora
que eu preciso viver.
Acordar para os novos tempos
e me imaginar no prazer.

Me leva para as coisas reais
e não me deixe só.
Meus sentimentos estão vivos
e precisa de uma emoçâo maior.

Qual primavera, a manhã brilhou
e nesse dia a natureza vive.
Sonhar em belas paisagens
e nas imagens que eu tive.

SE EU QUERO

Uma vez um só querer
outra vez o meu prazer
além dessa liberdade.

Um dia eu fui embora
e um bem que me devora
antes de tudo a verdade.

Nos braços que me abraça
nas marcas da dor que passa
eu só quero um aconchego.

No dia que eu partir
não vou mais estar por aquí
quem sabe um dia eu chego.

EM SER

Ser!
embora não compensa
vida bela inocença
de uma vida inteira.
Ser!
um barco à deriva
olhos que me cativam
e um olhar na viseira.
Ser!
o vento que se vai
o bem que me atrai
vem pra junto de mim.
Ser!
um elo esquecido
um corpo aquecido
e um pecado por amor.
Ser!
a certeza e a verdade
um prazer e a liberdade
e um sonho de sonhador.

NARRAR

Vaguear em prosa e versos,
E a capanga carregada.
Cumbuca desliza solta,
E a boca, o vento sopra.

Este clã de tantas letras,
Balada que vem de longe.
São cercas e amarração,
E sem o lá...eu vivo só.

Poema que engole a rima,
Aborta palavras magras.
E o gole desse prazer,
Faz de mim um viajor.

Escravo de certas linhas,
Amarrado nesse tronco.
E o livro, por sí...fala;
E faz o povo pensar.

EM FORMAS
Nesse quadro eu me enquadro
Memória que aquece
O mundo é uma porta
Caminhos e buscas
Espinhos e lutas .
O porto me aporta
E o perigo me alerta
Amêndoas vermelhas
Morcegos em festa
Me olhem na sombra
Que o sol me apressa
Me abraço com as flores
Que o bem me espera.
A fama e a lama
Escamas de peixe
Da lenha o feixe.
Cabeça que pena
Menina que sonha
Soletra os seus versos
Palavras que venham.
Qual mundo encantado?
Que o Jorge é Amado
Da Gabriela faceira.
Ladeiras e pernas
Torneando a donzela
Essas curvas no corpo
Que lapida a brejeira.

Sou o cobertor nas noites geladas
para quem dorme ao relento;
Onde a casa é a rua, o céu o telhado
as estrelas é sua luz...
e o palco as calçadas.

Meus pensamentos perturbam a minha mente
martelando em descompasso com o relógio
do meu coração.

Abriguei nos teus caminhos
Como faz um viajante,
Mesmo estando sozinho
Não sofro em estar distante.

ACASO

Alivia essas dores
dos meus dissabores.
Chicote e açoites
no silêncio da noite.
Poeira na estrada
camisa rasgada
farinha no saco;
e a barriga colada.

A lenha no forno
e a brasa faz côro.
Senhor e escravo
é festa e chôro.
Caranga enfeitada
poeira na estrada
n'um passo ligeiro;
andarilho ando só.

Caçador e cachorro
no faro da caça.
A cana é doce
desgosto e cachaça.
Mamãe só me acorde
na hora do banho
não sou mais menino;
no erro me apanham.

Meu livro é meu mestre
nas horas sem sono.
Criança abandonada
igual cão sem dono.
Sem nome e sem história
sem o pão pra comer
e o futuro à frente;
só pensa em vencer.