Coleção pessoal de edsonricardopaiva

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⁠Dimensões.

Nós sabemos a vida
Não sabendo-lhe a forma adequada
Isto dito ao vento
No momento, existo!
Posto isso, pouco a sei, além de nada
Morte, as tive algumas
Enquanto a vida se amontoa ao vento
Por acaso, à esmo, à toa
Lacuna entre duas ausências
A vida é uma duna
Uma efêmera presença
Que passa despercebida
Até por alguns dos presentes
Uma página já lida
E também já virada
A morte mais estranha
Que se pode ver vivida
Passou tão depressa
Quem a leu, na sanha de virá-la
nem se lembra de nada
Passou dessa para a estante
Num canto esquecido da sala
Na casa da eternidade
Se confessa arrependida
Pelas coisas que não fez
Se percorre uma vez
Removendo o pó estrada
Pó de existências
Passageiras como nós
Fugazes e sós
Instáveis, incríveis
Existências perecíveis
Voou como instante
O pião na fieira
A fogueira, a esperança
O choro do filho, a vaidade
A verdade, a meia verdade
O barulho do cristal quebrando
O orgulho ferido, a ira propensa
A pequena diferença
Entre o sempre
e o de vez em quando
A esperança perdida
A mesa posta
Pra quem gosta de comida em fogo brando
Morte, as tive muitas
Madrugada, olhar perdido
Coisas tão distantes
Vivendo apenas uma vida
Não dá tempo de estar juntas
Se o poeta não juntá-la em versos
Nalgum canto empoeirado
Lá na sala do infinito
Assim, ao menos por um mero instante
Se ficaria bonito, nunca saberemos
Porque tudo tem três lados
Um peão num barbante.
Viveu para o mundo
Algo assemelhado
em ao menos uma das dimensões
Morreu para a vida
Por breve descuido.

Edson Ricardo Paiva

⁠Infância.

E se a gente pudesse
Voltar lá, praquele dia
O dia que caiu da árvore
O dia que pisou num prego
O dia que minha mãe falou
Que me batia
Pois não gosta de criança que desobedece
Se pudesse, juro que eu ia
Se voltasse aquele momento
Em que um vento carregou meus sonhos de criança
E que eu vi perdidas todas esperanças
Chorei, pois criança pode chorar, então ela chora
Se Deus me permitisse voltar lá, eu ia agora
Pro dia em que tirei o mais redondo zero
Levei bronca da professora, fui parar na diretoria
e minha mãe foi chamada na escola
Se você me perguntar agora, eu ainda respondo que quero.
Nem que eu fique meses de castigo
Se aquele tempo voltasse, eu queria
A viver somente a minha vida
O dia corrente...sem ter que pensar no amanhã
Pois o dia de amanhã, ainda nem nasceu
Se o tempo perguntasse quem
Eu diria que eu.

Edson Ricardo Paiva

Escolhas.

Quando surge outro caminho
Quando finalmente alguém
Encontra uma saída
Uma trilha, uma senda, uma via que envereda
Aparece sempre outra estrada
Essa, indiferente, estava ali, presente
Apesar de ser uma queda
Talvez, por isso, jamais urgente
Mas, agora que existe opção
Ela parece atraente.

Edson Ricardo Paiva

"⁠Pra todo Alexandre de Moraes, existe sempre um Elon Musk."

Edson Ricardo Paiva.

⁠Belas horas.

Água de chuva
Parede, pintura nova
Uma ida à janela
Um olhar à rua
As mágoas da vida
Quão belas
eram aquelas manhãs de outros dias
O mundo existia
Aqui, dentro da gente
A julgar pelo olhar a rua
Nada ficou diferente
Por mais que a beleza iluda
Nada ilude eternamente
O que muda é uma coisa que existe
O badalar mais triste
de um ponteiro que acelera
Belas eram aquelas
Horas que passavam todas inteiras
iguais
A parede, a pintura
Alguma coisa pura que existia
e que era mais
Traduzia aquilo que a visão
da água da chuva que caia
Enquanto passava o avião
Um gosto, um sorriso
O linho da mesa posta
A comida do almoço
A vida
Belas eram aquelas
Risadas que compartilhamos
Das horas que não passam mais
Sem que haja um badalar que insiste
em dizer alguma coisa que eu não compreendo
Sim, isso acontece
A chuva às vezes cai ainda
e continua linda
Mas me traz uma mensagem diferente
Quando ela desce
E as imagens que vão surgindo
Não são mais tão belas
Não quanto foram aquelas
Uma ida à janela, outro olhar à rua
E cerrar as cortinas
Outro dia termina pra mim.

Edson Ricardo Paiva

⁠A flor.

Ficava ali, no chão do caminho
E todo dia eu passava por ela
Era apenas uma flor, sem cor definida
Entre outras tantas
Não sei dizer quantas
Pode ser, fossem centenas
E eu também era criança, igual a ela
Entre outras muitas, iguais a mim
Num mundo de tantas coisas sempre iguais
A simplicidade as faz diferentes
Não sei por quê
Meus olhos se acostumaram
Olhar pra ela, exatamente
Passado o tempo, é como estar ciente
De quanto a fantasia não se distancia do concreto
De fato, não tinhamos procurado
O ângulo correto para olhar
Mas tudo tem seu lugar
Precisamos encontrar o nosso:
Em muitos casos, que não seja perto
Creio que em tudo na vida
A gente continua sendo sempre assim
Uma casa com jardim, numa grande avenida
Um momento que parece assim; desimportante
Que se repete momentaneamente
Ao longo de toda uma jornada
Que, ao final, se tornará também desconhecida
Uma simples coisa, entre outras tantas
Algum caminho do passado
Onde ninguém jamais voltou
Nem voltará
Nenhum agosto e nem setembro serão eternos
Hoje, olhando esses momentos à distância
Compreendo perene, a inconstância
Mas, alguma coisa permanece
Ali, parada no chão do caminho
Como simples lembrança
A ser replantada, com o carinho da imaginação
Talvez, tornar de alguma forma
Um tantinho assim, mais leve
O caminho, a jornada
Que, ao final terá sido
Breve como flor.
Pode ser que o Criador
Com o amor de quem se recorda, nos replante
Num jardim gigante, onde seja permitido
A criança sair da fila, a caminho da sala de aula
E sentar-se à borda do jardim, pra dizer àquela flor
Que, pra mim, ela era importante
e seria pra sempre lembrada.

Edson Ricardo Paiva

⁠Rabiscando a vida.

Rabiscando
Sobre as linhas retas
Que não posso ver
Vindas lá da luz do céu
Encobrindo o breu, que nos convida
Com palavras que não posso ouvir
Nada é incrível, no entanto
Elas são tão claras
Quanto a cara imprecisa
De sorriso obscuro
Escondida, atrás do muro da vida
Quanto o brilho do ouro, que não tenho
Mas eu sei quanto estão lá
Vou rabiscando em desenhos
Solução pra tantos medos
Quantos enredos mirabolantes
Entretanto, nada inverossímeis
Pois eu sei o quanto estão elas
Sob a luz das velas
Sob o malho de cinzéis
Prontas pra se revelar
Talvez como simples rascunhos
Sob a força dos punhos
e a constãncia da vontade
Essas, em linhas não tão retas
Pois a verdade se curva
Pra se alinhar com o horizonte
Azulado e verdejante
Cujo limite do olhar não alcança
Não alcança de olhar aberto
É preciso um pensar mais longe
Pra poder enxergar
O que esteve tão perto
Mas oculto sob o malho dos cinzéis
Quantos céus e quantos outonos
Verão teus olhares mornos
Teus ouvidos vitrificados
Quantos vasos queimarão teus fornos
Carentes de um olhar mais puro
De enxergar no escuro
Encobertas pelo breu que te convida
A enxergar de forma assim, tão clara
A cara da vida?

Edson Ricardo Paiva

⁠Antes que os pássaros acordem.

Quando a luz desponta
Nalgum ponto da circunferência
Sob a tutela e regência divinas
Assim termina a escuridão da noite
Mas tudo tem seu tempo, sua hora marcada
Tudo tem lugar, para estar ou não
Somos nós, que quase nunca estamos lá
Irriquietos, imperfeitos
Buscando sempre um jeito
De manter as coisas assim
Nessa quase que total desordem
Da qual possamos sempre fazer nada
Além de queixar-nos pra nós mesmos
Antes que os pássaros acordem
E nos mostrem em que ponto da estrada
Eles estão...e eles estão onde preferem estar
Quando o ultimo raio de luz se recolher
Em algum lugar entre a noite e o anoitecer
Sob a gerência dos teus próprios
Pensamentos e vontades
Numa quase que total desordem
Da qual fizeste quase tudo
Matando o que nunca deveria morrer
Preste tua reverência
Ao teu espírito irriquieto
Cuja permanência, sob o mesmo teto que você
Chega a parecer sufocante
Pois em algum instante, nessa mesma noite
Ele ainda vai tentar sentir
Que está nessa manhã tão linda
Antes que os pássaros acordem
E mostrem-lhe que não.

Edson Ricardo Paiva.

⁠Tem sempre alguma coisa.

Um dia
Mesmo o coração de olhar mais duro
Lança um olhar à estrada
Depois de muito ter partido
Porque nada a paisagem lhe diga
Quanto ao começo
Tem sempre um pedaço que fica
Esse é o preço da vida
Num mundo onde tudo é de graça
Passa tudo, passa o tempo
Passa toda e qualquer ilusão
Não mais me iludo
Mesmo o coração mais puro
Não foge a ter o olhar endurecido
Mesmo que a paisagem lhe diga tudo
Tem sempre alguma coisa que não fica
Porque nada é de graça
Um passo deixa sempre rastro
Um mastro ao longe, uma pegada
Mentira acreditada, conta que não fecha
A estrela errada que te orientou
Tem sempre alguma coisa a ser lembrada
No pouco que se traz ou deixa
Esse é o preço da vida.

Edson Ricardo Paiva

⁠Feridas.

De tanto viver em descompasso
O dia é sempre um dia e nada mais
Pensar no amanhã, jamais
Sem lugar pra voltar, sem abraço
De viver eternamente
O mesmo passo a passo
Era somente a vida e o estar vivo
Era ser pra sempre
A própria ferida
Todo dia o mesmo curativo
Transpondo as pedras que surgissem
Uma a uma, passo a passo
Uma hora, nem percebe, se acostuma
As gotas de chuva na cara
A vida segue...o coração não para
Se é que a gente de vez em quando
Para e olha
As gotas de chuva na cara
Tanto faz se molha
A paz se instala
Os olhos veem, o ouvido escuta
O coração fala menos comigo a cada dia
Sem lugar pra voltar, sem abrigo ou abraço
...e sem palavra arguta
Vou pra onde o vento me levar, não ligo
Não levo um sorriso e nem lágrimas
Nem meu coração não fala mais comigo
Tanto faz, nada faço
Cada dia é sempre o dia e nada mais
Um dia a paz, ela vem e se instala
Nesse descompasso
Minh'alma se cala também
Tem um Deus, também calado
Passo a passo desse dia a dia
Pensar no amanhã, jamais
Trago meu coração em silêncio
Na ferida da vida que eu vivo
Todo dia o mesmo curativo.

Edson Ricardo Paiva.

Independente
da quantidade de tropeços
Feridas e topadas
Maior que as batalhas perdidas
e todas as falhas advindas
Veja que não conseguiste
Quase nada
Desista
Não há pista de que esteja
Nem ao menos perto, ainda
de ter acumulado
O número suficiente de derrotas
Capaz de agradar de forma convincente
A essa gente que torce
Pelo seu fracasso
Desista de agradá-las
Vista a alma de algo mais leve
Acenda a vela colorida que ilumina
O caminho que revela
O quanto é breve a vida
Coloque na vitrola a melodia
Que convida
A olhar o pôr do Sol no fim do dia
Se não conseguiste ser
Eternamente triste
Conforme-se então
Em ter pouco de linda alegria
E vá vivê-la
Pois a vida está viva ainda.

Edson Ricardo Paiva

⁠Mais que o caminhar.

Pensar
Tirar pedaços
do espaço incompleto
Imaginar-me
Somente imaginar
Lembrar de todo faz de conta
Quando mesmo o próprio ar
Chegava a ser concreto
Em que a chuva no terraço
Era um laço com o poético
Toda espera era esperança
E que pensar na vida
Era viver sem precisar
Pensar na vida
Era somente imaginar
Sem questionar a distância de um passo
Mas a vida não era assim
Era a gente que era
E quando a chuva passa
Vem a hora da ciranda
Varanda inocente, gente rindo
A gente ria sem sequer lembrar
Tudo era graça
Era engraçado o querer esquecer
Do que nem tinha certeza
Seguir sempre e nem sempre saber
Que o caminho era importante
Mais que o caminhar até
Esse, o tempo o faz sozinho e à pé
Hoje, todo mundo tão repleto
Tudo tão completo de ares concretos
Esquecidos de pensar
Tá tudo em seu lugar, tá tudo certo
Tão certo quanto a gota d'agua
Que evapora na roseira
Quando a chuva passa
Certamente ela passa
Pois, não mais existe
Aquele lado imperfeito, poético
E todo mundo é cético a seu jeito
O velho contrato firmado
Perante o abstrato
É velho, é só isso
Vale o visto
Quem manda é a ciranda do tempo
E seu ar inocente
Um a um
Sem pensar, nos engolindo.
Lindo, veja:
Ela vem vindo!

Edson Ricardo Paiva.

⁠Respeito Próprio.

Por respeito a si mesmo
Dias haverá
Que te seja necessário
Permitir aos teus olhos
Ver o ouro
Mas que esse não reluza
Permitir aos teus sentidos
Saber que o vento sopra
E não ouvir o farfalhar das folhas
Abandonar a condição humana
Não amar, em amor próprio
Por amar-se em primeiro lugar
e não mais apegar-se a nada
por honrar a vida
Deixar-se ficar
e, não mais permanecer
Saber o escuro da noite
O brilhar das estrelas
O canto dos grilos
Compreender aquilo que não te cabe
e o que te cabe também
Mas apenas calar-se num pranto
Calar-se por respeitar-se
E deixar que as águas fluam
Sem jamais delas beber
Belas serão as paisagens
Das janelas, das sacadas
Belas sem as querer
Mantenha tuas portas fechadas
Tua mente calada
Gosta antes de ti mesmo
Por respeito próprio
Sê tu teu universo.

Edson Ricardo Paiva.

⁠Porém, vence a luta.

Alma nua minha
Vaga
Um mundo em brumas
Vai, navega a valsa
Entrega à luz o olhar avesso
Esquece a dor assim
Assim, a dor esqueço
Se é que alguma dor
Minh'alma tinha
Alma descalça
Baila a solidão do teu destino
Entrega a mesma indiferença
Mas traz de volta sempre
Eternamente a esperança
Contenha-se
Guarda a lição aprendida
Como disso dependessem nossas vidas
Muros altos, nuvens, nevoeiro...escuro
Não se sabe quando
Um dia, um olhar derradeiro
e depois o silêncio, sempre há de surgir
Tira disso o que te houver de puro
Que te parecer
Alma minha
Cada estrada é diferente
Mas todas terminam
Guarda-te em si mesma
Porém, vence a luta
O ar sempre resiste ao pássaro pequeno e triste
Que atravessa o céu em plêno pico do sol
Eu fico aqui do teu lado
Alma solitária
A resistência é que garante o voo
Assim como a tudo que demais existe
Aparentando indiferente e livre
Entregue à luz, de olhar avesso
Porque toda liberdade exige um preço
Assim permaneço ao teu lado
Assim como sempre eu estive.

Edson Ricardo Paiva.

⁠Como bolhas de sabão.

Em cada momento da vida
Atento ou desapercebido
Em cada silêncio, em cada ruido
Faça ou não, sentido
No raio que o Sol nos envia
Alcance ou não te alcance alegre
Haja chance ou não de encontrar alegria
A luz de todo dia foi-me entregue
Entrego ao meu coração sua escolha
Assim como toda escada
Oferece a descida a quem queira
Estar parado à beira da estrada
É sempre outra opção, ela existe
O caminho é indiferente
Se te encontra alegre ou triste
Talvez negue ao coração tua escolha
De vez em quando há de surgir
Um pensamento inconsciente
Desses, que se pudesse
Afastaria com um gesto das mãos
Amanhece mais um dia
A luz do sol, que a tudo alumia
Esteja ou não consciente
Ela já pode ser considerada entregue
Luz em luz, de escuridão em escuridão
Te vai se aproximando o momento
Desejado
Ou se pudesse, o afastaria com as mãos
Milhares de pôres-do-sol depois
A vida passa tão assim...depressa
Chega a parecer
Que às vezes foi de dois em dois
Assim como qualquer escada
Te oferece sempre mais de uma opção
Ou somente o que te resultar de escolhas
Como as bolhas de sabão, que outrora foram tantas
Que sempre que podia
Afastava, atenta e desapercebidamente
Com um gesto das mãos
Fingindo inocente.

Edson Ricardo Paiva.

⁠Folhas Vivas.

Eu morava em frente
Uma árvore, enquanto ela crescia
Não sei como ela nasceu
Se mãos ou natureza
Simplesmente estava ali
E tinha uma criança
Que tirava folhas e depois me dava
Qual fosse o seu presente pra eu guardar
A árvore crescia
E tinha uma criança
Que, qual flor, desabrochava
As folhas ressecavam
Tanto aquelas, que permaneciam
Quanto aquelas, que a criança
Com sorriso e cortesia
Me ofertava, rindo de alegria
Sem saber que o tempo é indiferente
Às folhas e à gente.
A árvore cresceu
A criança, um dia se esqueceu de me dar folhas
Outras folhas renasceram, ressecaram
Num ciclo interminável
As folhas arrancadas que guardei
Hoje achei-as
Mortas, ressequidas
Mas à árvore, elas não dizem nada
À criança, não significam nada
Ao tempo não são nada
Só pra mim são belezas guardadas
Tudo volta a vida
Tudo morre um pouco, todo dia
Em quem mais morreu fui eu.

Edson Ricardo Paiva.

⁠Há quem se arraste pela vida morta.

Tem dia que amanhece antes de clarear
Coração se despe
e se despede de toda agonia
Pra que nosso espírito se apresse
Ditos se fazem não ditos
Olhos se comprazem olhar a rua
E não tem nada diferente
Coração bate apressado
Segura, d'álma nua as mãos aflitas
Ambos se entreolham
Compreendem, de repente
Quem mudou foi a gente
A vida fica mais bonita assim
Há quem creia isso desimportante
Meu compromisso é comigo
Olhos, almas, mãos, meu peito, abrigo
Há quem queira abreviar o fim
E há quem queira olhar a noite
Saber que o sol se levante
Quero só me despedir do mal que houver em mim
Tem vida que termina igual
Numa esquina de um momento
Um vento frio de agosto
Tem dia que começa igual
Luz do dia vem vazia de algum modo
e nada muda
Não tem sonho bom que nos acuda
Não existe ilusão que, por melhor que seja, iluda
Até que um dia alguma coisa...tudo
Há quem julgue que isso pouco importa
Vai, se arrasta pela vida e arrasta a vida morta
Sem o olhar que lhes convide a perceber
A vida abandonou-lhe um dia
Chão sem céu, sem luz de estrela-guia
Vida voa, vai no vento e corta e volta
Vem, se despe de tanta agonia
Então, depois se apresse
Tem dia que amanhece antes de clarear
Mesmo que pareça tudo igual eternamente
Alguma coisa não amanheceu
Isso torna tudo muito diferente.

Edson Ricardo Paiva.

⁠Quais serão teus pensamentos?

O ato de compreender
É tão ou mais importante
Que o fato de te dizer
Aquilo que no final
Parece que não foi dito
Apesar de parecer
Não equivale ao escrito
Centelha de vida
Orelha mouca
Pouco divaga, ideia vaga
Ovelha que bale, diz mais
Quais serão seus pensamentos
Creio eu, serão iguais
Se pouco puderes
Deixar os teus pés flutuarem
Ao ouvir a voz do vento
Pedir pruma estrela o desenho
Se não tenta entender
Que, apesar do alicerce
Os céus se movem
Fecha os olhos pra enxergar
A arte de menino arteiro
Em parte foi, talvez, a única
Que me creditaram por inteiro
Há muito tempo
Aquela parte
Sobre dizer o que não foi dito
Que te é ilícito
Que te não parece implícito
Que cresce como o cinzel
Que desvenda o vulto
Oculto a sorrir-te
Detrás do monólito
Num grito inaudível
Lançado ao possível
Este acorrentou-se
Aos braços do impossível
E lá permaneceu
Deus, que prescruta-lhe a alma
Bem sabe...
A ovelha que bale, diz mais.

Edson Ricardo Paiva.

⁠Pétalas.

Pétalas
Todas elas
Lado escuro
entristecido
Sonho que se sonha
e não se quer sonhar
Uma voz, melancolia
Qual de nós será que não queria
Voar, às vezes
Pétalas que tocavam
Me tocavam em meio a ventania
Um dia veio a tempestade
Só pra carregá-las
Pétalas que amanheciam
Belas, todas elas
Doces pelo orvalho, a noite
O dia trouxe abelhas
Noite trouxe sonhos que não eram
Eram sonhos que se sonha
e não se quer sonhá-los
Como velas apagadas
Vê-las mais de perto
Lágrimas choradas
Todas elas
Pétalas, aquelas
Que tanto nos tocavam
Hoje elas se foram
Uma voz, melancolia ecoa ao longe
Um longe, ontem tão perto
Hoje, coração desperto
Sonhos que sonhamos
Longe de onde estamos hoje
Tanto faz
Pétalas que nos tocavam tanto
Por mais que as procuremos
Não as temos
Não me tocam mais.

Edson Ricardo Paiva.

⁠Estradas de Pedra.

Enquanto a chuva cai
A noite passa e vai pela janela
Pra perto da estrela distante
Na mesma velocidade
Pensamento, instante, vagam
Pedra lisa, estradas sem destino
Que se aprumam
Indiferentes, se acostumam
Vai durar uns meros séculos somente
Durante as tempestades
Quais relâmpagos colidem
Que se agridem pelos ares
Olhares idem pela escuridão que espero
Pra depois, durante as calmarias
Vir buscar-me em sonhos
Pois, durante a madrugada
Não serão jamais pisadas
Vão nascer de novo, sempre vão
No primeiro desvão, por onde invade o sol
Da primeira manhã de alguma infância
Há de ser nova
A primeira manhã de todas as manhãs
Traz consigo o gosto verdadeiro
Do primeiro sol que arde n'alma nascitura
Pensamento, instante, invade
Vai durar uns poucos séculos somente
Indiferente às estradas de pedra
Que foram feitas só pra ser pisadas.

Edson Ricardo Paiva.